terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Um manifesto direcionado a uma vitoriosa





Eu manifesto. Não em favor do Estado da Palestina. Muito menos, pela reforma da distribuição de poder mundial. Ou talvez, por uma ordem baseada no desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza. Hoje, o manifesto é específico.
Eu queria dizer que realmente estou muito feliz. Embora, distante, quase que em uma postura insular perante você, ainda sim lhe guardo aqui dentro. Por mais bizarro, anacrônico e louco que pareça, se você  obtém uma vitória, isso representa automaticamente a minha vitória. Não importa o quê, ou mesmo com quem você esteja. Não se trata de circunstâncias, mas sim de evidências. Portanto, é evidente que a minha fidelidade a você, sempre ficará intacta. Ela é tangível, real, total. Muitas pessoas conhecem você apenas de ouvirem, sem realmente ter lhe visto na vida. Este momento é quando a cito. A minha boca fica repleta de entusiasmo, meus olhos brilham, e isso causa uma espécie de contágio nelas. Elas costumam me perguntar: - Mas porquê essa fidelidade? Ela pode estar com outro. Eu retruco que é apenas uma questão de escolha. 
Manifesto. Manifesto que desde 4 anos atrás, eu guardo uma promessa. Ela marca um antes e um depois na minha vida. No primeiro momento, não vou negar, eu fiquei extremamente magoado com você. Achei quase um crime, talvez até um abuso comigo. Em verdade, eu não tive maturidade suficiente para seguir adiante sem aquela atitude. Espero que você entenda que aquilo foi um ato de reação, para uma ação que sofri. Nada justifica, porque ainda sim, eu poderia ter escolhido uma outra forma de atuar.  Mas as pessoas têm a sua maneira, sua especificidade, sua escolha para responder aos processos da vida. Posso ter perdido para sempre a oportunidade em ter estado contigo nos momentos mais (in)felizes. Porém, quero dizer que nada mais importa diante da sua vitória. Ainda mais levando em consideração certos fatores pessoais que passastes. Reafirmo que a sua vitória, é a minha vitória. Semper.  

DS.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Cooperação - Parte 2


Aos interessados e interessadas,
Estou procurando pessoas para fazer trocas de aulas do Cacd, preferencialmente  via áudio. Também, procuro intercâmbio de exercícios.  Para maiores informações: danilosorato@hotmail.com

sábado, 22 de novembro de 2014

Um dia de Águia em Haia



Monumento "O Águia de Haia", na Praça Santos Andrade, em Curitiba


Dia. Grande, me pareceis. Olhei para a terra, vosso céu e vosso sol, brandiam e retumbavam um sentimento diferente. Hoje, naquela cidade morta, gélida e racionalizada, seria a última vez que proferia um discurso. Eu, sabendo disso, procurei reler a pequena carta do Barão. A Instrução era clara: O Brasil necessita defender o princípio da Igualdade das Nações, e vós, grande orador que sóis, deveis manter a postura inflexível perante as Grandes Potências, pois somos tão grande quanto eles, e por isso, devemos receber o mesmo tratamento. Após compreender a mensagem, pragmática, preparei-me com calma. Lembrei daquela discussão com o Presidente da Comissão, russo igual ao Czar, e que havia insistido na impossibilidade de utilizar temas políticos em uma Conferência sobre Paz e Desarmamento. Desde aquele dia, os jornais europeus começaram a me chamar "O Águia de Haia", talvez pelo meu tamanho miúdo, e pela minha feiura. Após delongar pelos meus devaneios do outro dia, olho para o relógio. Não havia tempo para sequer respirar. Aqui, em Haia, é preciso respeitar os prazos, ou eu realmente perderia o transporte, mas por sorte cheguei a tempo. Começou com a palavra Inglesa, sempre muito educada e baseada em manter o equilíbrio de poder. Não toquem na Bélgica e Países Baixos, e serei seu amigo. Ou ainda, não invente motivo para dominar o Continente, pois assim seremos inimigos. Passado o discurso da equidade, alemães, americanos, franceses, holandeses, japoneses, russos, italianos e outros discursaram. Havia um claro acirramento entre esses países, onde a busca pela hegemonia estava evidente, logo, não interessava igualdade entre as nações. Quando finalmente chegou a minha vez,  senti olhares divididos entre a ojeriza e a admiração.  "Pois bem; a soberania é direito elementar por excelência dos Estados constituídos e independentes. Ora, a soberania importa igualdade. Quer em abstrato, quer na prática, a soberania é absoluta: não admite graus. Mas a distribuição judiciária do direito é um dos ramos da soberania. Logo, a ter de existir entre os Estados um órgão comum de justiça, necessariamente, nesse órgão todos os Estados hão de ter uma representação equivalente." Deixava claro que o meu país soberano, e forte, não iria abrir mão do princípio. Recebo aplausos, alguns eram mero protocolo, outros importante reconhecimento. Pouco ou quase nada avançou naquela Conferência, no entanto havíamos deixado princípios. A saudade de minha terra, da minha casa, da Capital, faziam-me lembrar todos os dias quão brasileiro eu era.  E o primordial foi ver que todas as nações, principalmente aquelas hegemônicas, utilizam  jogos assimétricos de poder.  Por isso, aprendi que nunca me envergonharia de meu país. Ele era igual a mim, pequeno na aparência de poder, gigante na essência do agir. Eramos igual. Igualdade.   

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Pensadores da Diplomacia Brasileira - Parte 3

Rui Barbosa, a "Águia de Haia" em foto oficial
 

"Resistimos porque, lado a lado com a necessidade suprema de preservar esse direito (da igualdade entre os Estados soberanos), era nosso empenho salvaguardar outro, não menos essencial, não menos inacessível: o de assegurar sempre à justiça internacional o seu caráter de arbitramento, com a faculdade a este inerente, para uma e outra parte, de elegerem os seus julgadores." (Rui Barbosa, Conferência de Haia, 1907)

Cespe renova contrato com IRBr






SECRETARIA-GERAL DAS RELAÇÕES EXTERIORES


INSTITUTO RIO BRANCO

EXTRATO DE CONTRATO

No. Processo: 09016.000038/2014-16. Contratante: INSTITUTO RIO BRANCO. CNPJ 00.394.536/0014-53. Contratada: CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIAÇÃO E SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS(CEBRASPE). CNPJ 18.284.407/0001- 53. Objeto: Contrato de prestação de serviços técnico-especializados para organização e realização de Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2015. Fundamento Legal: Artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93. Vigência: 11/11/2014 a 11/05/2016. Data da assinatura: 11/ 11/ 2014.


Acesse aqui: Diário Oficial da União, Nº 223, terça-feira, 18 de novembro de 2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A Barba, o Imperador e a República

"Proclamação da República" - Benedeito Calixto (1893)
 
A Barba, o Imperador e a República


Assustando-me. Foi assim que acordei após um pesadelo, deveras, indescritível. Sonhei que não possuía mais o traço de fina elegância, de experiência, em suma, de um Monarca esclarecido. Logo ela. O símbolo de minha existência, que desde os 14 anos deixei a crescer para dar-me condição necessária de acesso ao trono. Ora pois, Ela que existe por 50 anos, fruto de uma estabilidade nunca vista pelos trópicos, no qual republiquetas se sucedem em nome de ideais sem ideias. Mas porquê ainda mantenho-a? Vós sabeis a minha precedência, sou um soberano-cientista, profundo conhecedor dos mais distintos progressos humanos, atuante no IHGB, onde sempre faço, com pompa e honra, a abertura anual. Comparável a um mecenas, financiei literários, publiquei em jornais, e como amante do pensamento livre, deixei os burburinhos republicanos e abolicionistas fluírem. Sendo assim, não seria um ato iluminado sacar-te, minha Barba? Não estou em público, por sinal esse antro mestiçado, cheio da gente de cor, há um ano livre, graças a minha pequena infante. Faz tempo, pequena grande Barba, que quero me livrar de vós, e permaneço porque este é o meu destino como Bourboun.  Vistes como sou um monarca avant la lettre, pequena grande Barba?
Aquele corpo encurvado, velho, desgastado, barbudo então levantou-se da cama. Como uma força da natureza, um átomo imparável, foi ao banheiro. Estava decidido a cometer aquele crime lesa pátria. Olhou em frente ao espelho. Levemente passou às mãos calejadas sobre o pescoço. Pensou, calculou, analisou, como um bom pesquisador o faria. E começou aquele processo. Lento, gradual, calmo, estável, sem reação. Cortou o primeiro pelo, e vejam, uma leve lágrima saiu de seus olhos. Lembrou-se do dia em que fora coroado, o povo saudando: "Queremos Pedro II. Embora não tenha idade! A Nação dispensa a lei. E viva a maioridade!" Lindo, perfeito, ele pensou. E cortou metade daquele linho de ovelha, branco, incolor, cinzento. De repente, a porta de seu quarto começou a ser incomodada. Mas naquele ato, digno e real, o Imperador mal tinha tempo e concentração para outra coisa. Ora, a primeira vez não se olvida, por certo? E continuou naquele ato de trabalho, vulgar em verdade, impróprio a Ele, mas um ato constitucionalmente avançado. Por falar em  Constituição, como esquecer da Carta Maior, a obra mais bela da humanidade, outorgada e presenteada por meu pai? E seguiu empolgado a cortar. Cada vez mais o espelho refletia um Pedro renovado. Estranho. Remetia a um outro tempo. Vistes como não custou, pequena grande Barba? Quando finalmente cortou o último fio, velo de ouro! Gritou desvairado: Viva! Ao mesmo tempo, o criado desesperado arrancou a porta do quarto. Suando naquela pele mulata, com a cara pálida e brasileira, disse: Terminou! Por coincidência, o renovado Bourboun dissera o mesmo vocábulo. Ambos se entreolharam, e o Imperador perguntou: Meu jovem, como ousais invadir o quarto de Sua Alteza? E o criado olhando ao chão, voltou a dizer, terminou! O Quê? Minha gloriosa Barba após 58 anos? Terminou, meu senhor! Sim, jubilei seus serviços, embora sinta um pesar imenso. Vossa Alteza, terminou! E quanto mais tentava falar, mais era interrompido.  Sabeis, pequeno criado, que obra maior não fizera em todo o Império? TER-MI-NOOOOOOOÔ! Diante da insistência do jovem ser, o Bourboun com toda a cólera e altivez diz: Terminei sim! Não meu senhor, responde o serviçal. Hã? -replica o Distinto.  Vossa Alteza, terminou o Império, e começou a República. Silêncio. Ambos ficaram Bestializados.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Pensadores da Diplomacia Brasileira - Parte 2


José Carlos Macedo Soares em foto oficial

 
"Nenhum departamento da pública administração está tão ligado ao passado como a pasta a meu cargo. Ela tem a responsabilidade da política exterior do país e representa a nação no conceito internacional. Seu caráter essencial é a continuidade, acima dos partidos e até mesmo dos regimes de governo [...]. No trato da política exterior [...] sente-se a imagem da nação, como força imanente, em marcha, num movimento entrelaçado com a tradição e o porvir – a nação permanente, com seus problemas essenciais e fundamentos imutáveis, pelos quais temos que velar para que permaneça eterna, imperecível. Este é o sentido fundamental de toda a política exterior de uma nacionalidade. A administração da pasta e a sua orientação política estão subordinadas pois a esse alto conceito conservador. Nestas condições, a base do estudo e solução dos problemas internacionais assenta nos precedentes [...]." (SOARES, Carlos Macedo.1934)


P.S: Um dos Chanceleres de Getúlio Vargas e JK. Foi responsável pela criação do Museu Histórico do Itamaraty, além de exercer a presidência conjunta do IBGE, IHGB e Academia de Letras. Um paulistano-varguista, defensor dos direitos da metrópole cosmopolita e ao mesmo tempo do grande chefe da nação, mesmo que em alguns momentos isso beirasse ao contraditório.  Em suma, um verdadeiro legalista e amante do Direito Internacional.  

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pensadores da Diplomacia Brasileira - Parte 1

O Mural de Portinari rodeado por Embaixadores da ONU, no centro Cyro Freitas-Valle, o "Dragão da Rua Larga".

 
A Carta das Nações Unidas é o mais belo instrumento de cooperação internacional já concebido pelo homem, documento tão perfeito e equilibrado que os governos do mundo consentiram em tomar a medida inesperada de admitir que cinco dentre eles, em razão de serviços prestados na dominação do nazifascismo e da força e fidelidade que haviam demonstrado, assumissem a responsabilidade primordial pela manutenção da paz e da segurança mundial. Essa medida, Senhor Presidente, não foi tomada com facilidade, mas nós a adotamos porque depositávamos inteira confiança nos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. [...] Infelizmente, a União Soviética não se mostrou favoravelmente disposta nesse sentido. Em consequência, o medo da guerra, de uma nova guerra total, voltou a ser a constante obsessão de todos nós. E esta espécie de preocupação é sumamente nefasta, porque pode levar os povos a perderem fé nas Nações Unidas. (FREITAS-VALLE, Cyro. Novembro de 1949)


Cyro Freitas-Valle, poucos conhecem, foi o negociador brasileiro quando da criação da ONU, na Conferência de 1944, logo em seguida pleiteou um assento como membro permanente, que embora não tenha acontecido (o país conseguiu ser membro não-permanente, na primeira eleição), ainda sim demonstra a importância e a capacidade deste diplomata. Ademais, ele instituiu a tradição no seio da instituição, do país abrir a Assembleia-Geral onusiana. 

P.S: Hoje é aniversário das Nações Unidas! Nada mais justo que uma homenagem à altura...

terça-feira, 21 de outubro de 2014

5 obras fundamentais para você ler, Diplomata


Capa da Revista Sapientia, Nº 20

 
"Há muitas obras de qualidade no acervo bibliográfico da FUNAG que poderão contribuir para a formação dos postulantes à carreira diplomática. É difícil citar apenas cinco. Começaria por recomendar os Clássicos IPRI. A coleção é composta por doze livros. Representam obras essenciais para o estudo em profundidade das relações internacionais, em seus aspectos políticos, econômicos e jurídicos. Sua leitura amplia a capacidade de entender e formular conceitos, de refletir sobre os temas da política internacional. Essas publicações contribuem para desenvolver o pensamento nacional autônomo acerca das grandes questões com que se defronta a diplomacia brasileira, bem como no tocante às oportunidades para o Brasil no mundo globalizado. Dentre os doze livros, indicaria, para começar, a Política entre as Nações, de Hans Morgenthau.

A segunda obra que recomendaria são os três volumes já citados do Pensamento Diplomático Brasileiro. Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964), publicado em 2013 no contexto da II Conferência sobre Relações Exteriores, organizada pela FUNAG. Creio tratar-se de uma iniciativa bem sucedida de identificar os principais personagens e suas contribuições para uma narrativa das ideias e concepções fundadoras daquele pensamento no período.

Minha terceira sugestão seria o Brasil nas Nações Unidas, uma compilação de todos os discursos brasileiros proferidos na Abertura do Debate da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1946 a 2011, acompanhados de comentários elucidativos do Embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa. Trata-se de um livro de consulta necessária à compreensão da evolução do multilateralismo político advinda da palavra de presidentes e chanceleres brasileiros. Representa momento de rico simbolismo para a política externa e reflete a tradição de ser o Brasil o país que inaugura a parte mais importante das manifestações de alto nível dos países membros da ONU nas discussões em plenário da Organização.

Recomendo também a obra The Quest for Autonomy, de Andrew Hurrell, publicado em 2014. Hurrell é um teórico da escola inglesa, discípulo de Hedley Bull. Atraído pela busca de autonomia da política externa brasileira, veio ao Brasil nos anos 70 e 80 para analisar os fatores que respondem por sua formulação e execução. O trabalho tem o mérito adicional de constituir referência conceitual e metodológica para a elaboração de pesquisas e trabalhos acadêmicos dessa natureza.

Gostaria também de anunciar o lançamento do livro editado em meio eletrônico e disponível no portal da FUNAG a partir de pesquisa concluída pelo CHDD da correspondência oficial entre Rui Barbosa e o Barão do Rio Branco, no contexto da participação do Brasil na II Conferência de Paz da Haia, de 1907. A obra preenche lacuna de um século na historiografia e na memória diplomática brasileira. Recomendaria também sua leitura" (LIMA, Sérgio E. M. Revista Sapientia, N° 20, pp-12)


Revista Sapientia, Edição: 20

domingo, 19 de outubro de 2014

Brasil - Alemanha: Uma parceria estratégica (e nem tão fria...)

Angela Merkel e Dilma Roussef, retratam o dialogo continuo e profícuo entre Brasil e Alemanha


O Discurso proferido pelo Embaixador Eduardo dos Santos, ao meu ver, é uma síntese da relação bilateral Brasil-Alemanha, perpassando pontos históricos e atuais dos temas mais presentes. Ademais, abaixo deixo os órgãos oficias e seus pensamentos sobre essa relação.

P.S: Fichem tudo!
 
 
Intervenção do Senhor Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Eduardo dos Santos, no Encontro Brasil-Alemanha 2014: Visões e Revisões
 
Foi com grande satisfação que aceitei o convite do Embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa para abrir este Encontro Brasil-Alemanha 2014, e o fiz por dois motivos. Em primeiro lugar, por tratar-se de convite do Embaixador Seixas Corrêa, meu antecessor na Secretaria-Geral das Relações Exteriores e um dos diplomatas brasileiros mais destacados, há quase meio século servindo ao Brasil com seu saber, sua inteligência e seu espírito público. E, em segundo lugar, por vivermos momento de particular dinamismo nas relações entre Brasil e Alemanha.
Esse bom momento das relações bilaterais ficou mais uma vez evidenciado no último dia 21 de março, quando o Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado realizou sua primeira visita de trabalho a Berlim. Na ocasião, o Ministro Figueiredo e o Ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, tiveram a oportunidade de repassar a amplíssima agenda bilateral em todos os seus quadrantes – econômico, político, educacional, cultural, ambiental, energético, etc. – além de explorar novas possibilidades de cooperação em áreas como defesa e segurança cibernética, aprofundando a Parceria Estratégica que une os dois países.
A relação bilateral que temos hoje tem suas origens nos laços antigos e densos que Brasil e Alemanha construíram ao longo do tempo. Foi significativa a projeção que o mundo alemão teve entre nós desde que, com a Independência, passamos a ter no trono brasileiro uma Imperatriz Habsburgo, Dona Maria Leopoldina de Áustria. É notável o fato de que, com ela, chegada ao Brasil em fins de 1817, veio uma plêiade de cientistas, entre os quais os naturalistas von Spix e von Martius, cuja expedição épica pelos sertões teve o mérito de despertar nos círculos intelectuais alemães grande interesse pelo Brasil.
Permito-me destacar, ainda, que não foi menor o papel desempenhado por militares alemães, arregimentados pelo Major Anton von Schaeffer, na formação do Exército brasileiro. Dois deles, tenentes engenheiros Halfeld e Koeler, foram fundadores de Juiz de Fora e Petrópolis.
Recordo que as primeiras famílias de língua alemã vieram estabelecer-se no Brasil antes mesmo da Independência: primeiro, os colonos suíços, que fundaram Nova Friburgo, em 1818; depois, famílias propriamente alemãs, que se estabelecem em Ilhéus e São Jorge, na Bahia, ainda no reinado de Dom João VI. Em 1824, com a promulgação da primeira Constituição brasileira, foram eliminados os óbices legais à imigração de pessoas que professassem outra fé que não a católica romana. A nova Carta abriu as portas para a imigração de colonos da Alemanha setentrional, que se concentraram, sobretudo, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Estima-se que, hoje, quase 10 milhões de brasileiros tenham ascendência alemã.
Foi inestimável a contribuição desses primeiros alemães e de seus descendentes ao desenvolvimento do Brasil. Pelos conhecimentos que traziam consigo, pelo engenho que lhes era inato, exerceram papel fundamental na diversificação de nossa agricultura — de que é exemplo a introdução do cultivo do trigo —, bem como nos processos de urbanização e industrialização do Brasil. Se a instalação da siderúrgica Mannesmann (1954) e a inauguração da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (1959) constituem, por um lado, marcos essenciais de desenvolvimento industrial brasileiro, constituem também, por outro, capítulo central da reinserção internacional da indústria alemã no pós-guerra.
Parece-me natural que, em virtude dos laços humanos e econômicos criados pela via da imigração e dos investimentos, Brasil e Alemanha estivessem destinados à construção de uma parceria estreita entre si. Dois grandes marcos desse processo ocorreram ao longo da década de 70, com a então Alemanha Ocidental já plenamente reconstruída e o Brasil vivendo o chamado "Milagre Econômico".
Em primeiro lugar, Brasil e Alemanha desejavam criar mecanismos para gerir os muitos interesses convergentes e fazer frente às demandas decorrentes da presença do capital alemão no Brasil. Fizeram-no com a criação da Comissão Mista Brasil-Alemanha, em 1974, pela qual o empresariado dos dois países pôde apresentar suas percepções e pleitos diretamente a seus governos, os quais passaram a trabalhar coordenadamente para estabelecer um ambiente de negócios cada vez mais favorável.
Em segundo lugar, também em meados dos anos 70, o Brasil buscou na Alemanha o parceiro de que necessitava para um projeto verdadeiramente estratégico, qual seja a exploração pacífica da energia nuclear. Parcerias sólidas entre instituições de pesquisa científica e tecnológica e entre empresas dos dois países nasceram com o Acordo Nuclear de 1975.
Aos dois marcos referidos, agregaria um terceiro marco, que se revelou elemento potencializador da relação bilateral a partir de então. Refiro-me à criação do G4, em setembro de 2004, instância promotora do pleito de Brasil, Alemanha, Japão e Índia por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A criação do G4 dá-se em momento de auspiciosa convergência entre Brasil e Alemanha no campo da política exterior. Ao mesmo tempo em que o Brasil, com a economia em ordem, retoma uma política externa mais ativa e autônoma, também a Alemanha modifica a política exterior relativamente discreta que praticou desde a Segunda Guerra Mundial.
Este é, em linhas gerais, o alicerce sobre o qual se desenvolvem hoje as relações entre o Brasil e a Alemanha. Esse relacionamento singulariza-se por três características principais: (1) nossas relações econômicas são marcadas por diversidade e vigor excepcionais; (2) nosso diálogo político sobre temas de interesse mútuo e sobre os grandes assuntos da governança, paz, segurança e prosperidade globais é intenso e maduro; (3) nossa cooperação nos campos científico, tecnológico, educacional e cultural é significativa.
O reconhecimento, por ambos os países, da importância, variedade e intensidade de nossas relações bilaterais consubstanciou-se, em 2002, na sua elevação ao grau de Parceria Estratégica.
No plano político, nossas relações bilaterais são marcadas por ampla convergência de percepções, valores e interesses, o que tem permitido atuação conjunta em diversas questões globais, como o combate à fome, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a defesa do direito à privacidade na era digital.
Tal convergência reflete-se na elevada frequência de encontros de alto nível entre os mandatários do Brasil e da Alemanha nas últimas décadas. Recordo que a primeira visita realizada pelo Chanceler Federal da Alemanha a um país não europeu depois da reunificação, em 1991, teve o Brasil como destino. Desde aquela visita do então Chanceler Kohl, os contatos entre o Presidente do Brasil e o Chanceler Federal ou o Presidente da Alemanha têm-se dado, praticamente, em bases anuais — seja no Brasil, seja na Alemanha, seja à margem de encontros multilaterais.
A Presidenta Dilma Rousseff e a Chanceler Angela Merkel mantiveram, nos últimos três anos, quatro encontros bilaterais. Há a perspectiva de uma visita oficial da Chanceler alemã em meados do ano, e de elevação do diálogo bilateral ao status de Consultas Políticas de Alto Nível.
No plano econômico, recordemos que nossas trocas comerciais mais do que triplicaram ao longo da década passada, sendo a Alemanha, hoje, o quarto maior parceiro comercial do Brasil (depois da China, dos EUA e da Argentina) e nosso maior parceiro na União Europeia. Também é verdade, no entanto, que as cifras recentes, de 2012 para cá, registram uma perda de dinamismo em nossas trocas, que precisamos saber superar com alternativas inovadoras. Voltarei a este tema mais adiante.
É preciso que se diga que as relações econômicas Brasil-Alemanha vão muito além do comércio. As cerca de 1.600 empresas alemãs presentes, hoje, no Brasil, respondem por cerca de 8 a 10% do PIB industrial brasileiro. Somente no Estado de São Paulo, são mais de 800 empresas, que geram aproximadamente 250 mil empregos diretos. Pela eloquência desses números, faz sentido afirmar que São Paulo é a maior cidade industrial alemã fora da Alemanha.
Esse relacionamento intenso, no âmbito econômico, beneficia-se de um arcabouço institucional há muito consolidado. A Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica existe desde 1974, reunindo-se todos os anos, alternadamente, em um e outro país. Normalmente, cabe ao Secretário-Geral do Itamaraty e ao Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) chefiarem a delegação brasileira, ao passo que a delegação alemã é chefiada pelo Vice-Ministro da Economia e pelo Presidente da Federação das Indústrias Alemãs. Em 2013, tive a grande satisfação de presidir, em São Paulo, a quadragésima edição da reunião da Comissão.
O segundo foro de cooperação econômica é o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que reúne, anualmente, expoentes do setor privado dos dois países. Os Encontros, com duração de dois ou três dias, reúnem, em média, 600 participantes. A edição de 2013 contou com a presença da Presidenta Dilma Rousseff e do Presidente Federal Joachim Gauck.
Há pouco mencionei o menor dinamismo de nossas trocas a partir de 2012. O Governo brasileiro tem a percepção de que uma maior participação de pequenas e médias empresas nas relações econômicas bilaterais contribuiria não apenas para aumentar as cifras de comércio e investimento, mas também para diversificar as exportações brasileiras para a Alemanha e intensificar a transferência de tecnologia alemã ao Brasil. As vendas brasileiras estão limitadas a número relativamente pequeno de grandes firmas, ao passo que, no sentido inverso, as exportações alemãs englobam grande número de empresas, muitas das quais médias e pequenas, que produzem bens de alto valor agregado. Nesse contexto, é fundamental estreitar os laços entre as pequenas e médias empresas brasileiras e alemãs por meio da criação de joint ventures e iniciativas conjuntas de pesquisa.
Tais joint ventures devem ser construídas em torno de projetos orientados para a inovação e que envolvam articulação com parques tecnológicos do Brasil. A cooperação no âmbito das pequenas e médias empresas brasileiras e alemãs deve conjugar a parceria empresarial com os recursos de pesquisa e desenvolvimento dos dois países. Isso requer, sem dúvida, visão e investimento por parte da iniciativa privada, mas demanda, igualmente, o empenho e o apoio dos governos e das suas instituições.
Devemos ser ambiciosos. Nossa cooperação bilateral em pequenas e médias empresas deve contemplar setores de ponta, como a biotecnologia, a indústria aeroespacial, a nanotecnologia, as tecnologias ambientais e a microeletrônica, entre outros. O motor flex-fuel, que foi desenvolvido no Brasil por subsidiárias da Volkswagen e da Bosch, é um bom exemplo do patamar de cooperação a que devemos almejar.
Gostaria, igualmente, de salientar o avanço, nos últimos anos, da cooperação bilateral em ciência, tecnologia e inovação — um esforço antigo e bem sucedido: celebramos, este ano, 45 anos da assinatura do primeiro Acordo Geral de Cooperação sobre Ciência e Tecnologia. Ao longo dos anos, a cooperação estabelecida nessa área tem dedicado a ênfase necessária à formação e intercâmbio de pesquisadores. A realização do Ano Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2010/2011, bem como a visita da Presidenta Dilma Rousseff à Alemanha, em 2012, no contexto da feira tecnológica CeBIT — a maior feira mundial no setor de tecnologias da informação, que em 2012 teve o Brasil como país-tema —, ofereceram oportunidade singular para a atualização da agenda científica e tecnológica entre nossos países.
No tocante ao Ano Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e inovação, ressalto, como seguimento particularmente importante, o acordo celebrado entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Sociedade Fraunhofer, em junho de 2012. A Sociedade Fraunhofer é a maior organização de pesquisa aplicada da Europa e exemplo de instituição de excelência na promoção da pesquisa e da inovação.
O acordo entre o SENAI e a Fraunhofer permitiu a criação, no Brasil, dos Institutos SENAI de Inovação, que proverão soluções tecnológicas e de gestão a empresas interessadas em agregar conhecimento a suas linhas de produção. Trata-se, portanto, de valioso instrumento para o aprimoramento da competitividade das empresas de nosso País.
Ainda na área de inovação, temos conseguido bons resultados ao fomentar parcerias com foco na pesquisa aplicada. A cooperação entre a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e a Sociedade Fraunhofer é exemplo de êxito nesse sentido – mas podemos avançar ainda mais, com a intensificação da colaboração entre Governos, institutos de pesquisa e setor privado visando a unir pesquisa, inovação e produção.
No campo educacional, temos alcançado avanços dignos de nota em nossa cooperação. O Programa Ciência sem Fronteiras tem na Alemanha um de seus parceiros mais importantes. Universidades alemãs já receberam mais de 4 mil alunos brasileiros sob os auspícios desse programa. Os estudantes brasileiros na Alemanha, além da experiência propriamente acadêmica, também aprimoram sua formação por meio de estágios em empresas alemãs. Estou seguro de que esse esforço será proveitoso não só para a sociedade brasileira, mas para o próprio relacionamento bilateral, na medida em que esses alunos tornam-se agentes disseminadores da cultura alemã e, ao mesmo tempo, capacitam-se para trabalhar nas mesmas empresas que constituem a espinha dorsal de nossa parceria.
A cooperação em energia constitui outro eixo importante das relações bilaterais entre o Brasil e a Alemanha. Os dois países ocupam posição de liderança no desenvolvimento de tecnologias no âmbito das energias renováveis e atribuem grande importância à dimensão da sustentabilidade na implementação de suas políticas energéticas. Vejo como especialmente promissora a intensificação da cooperação bilateral nos campos da energia solar e da energia eólica, pelos investimentos já feitos por empresas alemãs neste campo e pelas condições únicas — climáticas, mas também pelo potencial ainda inexplorado de seu mercado — que o Brasil oferece para o desenvolvimento do setor.
Quero ressaltar, ainda, a cooperação na área cultural. Sabemos do vivo e crescente interesse do público alemão pela cultura brasileira. Sublinho, particularmente, a participação do Brasil na última Feira do Livro de Frankfurt, maior encontro mundial do setor editorial. O Brasil foi, em 2013, pela segunda vez, país-tema da feira. Foram quase 300 mil visitantes, que tiveram a oportunidade de travar contato com as obras de nomes expressivos de nossa literatura.
Refiro-me, por último, ao diálogo político. Há vários níveis de convergência entre o Brasil e a Alemanha sobre os grandes temas da agenda internacional. Essa convergência manifesta-se, sobretudo, nas posições comuns sobre temas como reforma do Conselho de Segurança da ONU, meio ambiente e direitos humanos.
Recentemente, tivemos uma ilustração das potencialidades desse diálogo com a aprovação, por unanimidade, na Assembleia Geral das Nações Unidas, do projeto de resolução teuto-brasileiro sobre a defesa do direito à privacidade na era digital. Recorde-se que as recentes revelações sobre o uso indiscriminado do monitoramento de informações afetaram de maneira muito particular Brasil e Alemanha. A aprovação da resolução por unanimidade demonstrou de forma eloqüente a capacidade que têm os dois países, juntos — pelos valores que professam, pela credibilidade diplomática de que souberam dotar-se, ao longo das décadas —, de arregimentar apoios entre os interlocutores mais diversos, na defesa de valores universais.
Em essência, por tudo o que acabo de expor — pelo patrimônio construído ao longo dos anos, pelos laços humanos e materiais que nos unem à Alemanha, pela excelência de nosso diálogo político e pela variedade e profundidade de nossa cooperação —, torna-se inescapável a conclusão de que a Alemanha é, hoje, um dos parceiros centrais do Brasil em sua política exterior. Trabalhamos nesse sentido na convicção de que os progressos alcançados pelo Brasil, as dimensões de seu mercado, o dinamismo de sua economia e seu crescente peso internacional o tornam, igualmente, um sócio privilegiado aos olhos alemães.
Os Governos de Brasil e Alemanha querem intensificar ainda mais esse diálogo e essa cooperação por meio do engajamento das próprias Chefas de Governo em consultas políticas regulares, de que participará número expressivo de Ministros dos dois lados. Esperamos, por esse mecanismo, promover novas avenidas de cooperação em domínios estratégicos, como energia ou produtos de defesa, ciência e tecnologia e cibersegurança, e aprofundar o diálogo sobre as grandes questões relacionadas à paz, segurança e prosperidade globais. Estamos certos, no Itamaraty, de que esse mecanismo contribuirá para solidificar o lugar das relações Brasil-Alemanha nas políticas exteriores dos dois países. É esta, em essência, a aposta que fazem a Presidenta Dilma Rousseff e a Chanceler Angela Merkel ao comprometerem-se formalmente a manter esse diálogo periódico. Estou certo de que, no futuro, a parceria Brasil-Alemanha será cada vez mais importante e estratégica para a própria projeção internacional de nossos países.
Obrigado.
 
 
 
1) Relações Bilaterais
 
 
1.1) Relações bilaterais na perspectiva brasileira
 
Visitas em 2014:
 
 
2) Política Externa alemã:
 
P.s²: Leiam o Kissinger, em "Diplomacia", para entender a origem e o fundamento da Realpolitik.

sábado, 18 de outubro de 2014

Programa Diplomacia - Setembro 2014

 
A última edição do Programa Diplomacia da TV Senado, apresenta uma série de temáticas relevantes ao Cacd, em especial, dois assuntos: o primeiro, na seção Entrevista, recebeu o principal negociador do BRICS no lado brasileiro, José Alfredo Graça Lima (também entrevistado pela Revista Sapientia). O segundo, na seção Cinema, é indicado um excelente documentário, "Missão de Paz" por Ruyter Curvello Duarte, sobre a atuação brasileira nos últimos 10 anos na Missão de Paz do Haiti (MINUSTAH).

domingo, 12 de outubro de 2014

Uma Conversa na Catedral Reveliana

O artigo publicado por Vargas Llosa acerca de Jean-François Revel, em março do corrente, é uma aproximação entre pares, seja na visão política, em que ambos compartem uma viagem parecida ao sair do marxismo dos anos de 1960, para uma evolução natural, até um certo tipo de liberalismo nem tanto extremista, mas que critica em grande medida as assimetrias entre o discurso e a prática soviética (por exemplo, a castração da liberdade ou a intelligentsia/vanguarda); seja na visão literária, especificamente, na premiação do Nobel de Literatura. Sobre a Academia , é interessante a mudança de postura, se  antes fazia diálogos com escritores ligados a ideologias esquerdistas (Galbo Marquez, por exemplo),  agora passa a reconhecer aqueles mais próximos da ideologia direitista,como é o caso dos citados acima. A priori, fazer uma literatura que ia contra a moda no mundo e especialmente na França, tradicionalmente reduto dos gauches, foi um desafio sem tamanho, talvez, um trabalho hercúleo, maior inclusive que o do peruano por estes trópicos. Deixo o artigo na íntegra para que vocês desfrutem! Let's go!
 
 P.S: Ici, je vais donner un "link" sur l' auteur, évidemment en français! regardez! :  http://chezrevel.net/pourquoi-des-philosophes/
 
 
Jean-François Revel
 
 

Un pensador para el siglo XXI

Mario Vargas Llosa
La Republica (Peru), 
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La obra de Jean-François Revel (1924-2006) no consiste solo en los veintiséis libros que escribió y que, además de la política, abarcan muchos géneros de su enciclopédica cultura: filosofía, arte, historia, literatura, información, gastronomía. También en los centenares de artículos que publicó en revistas como L’Express, Le Point y Commentaire y que, al igual que en los casos de un George Orwell o un José Ortega y Gasset, son textos neurálgicos de su reflexión intelectual. Porque Revel, aunque había tenido una formación académica de alto nivel –Escuela Normal Superior, donde fue discípulo de Louis Althusser, y agregación– renunció  a la carrera universitaria después de haber enseñado en México y en Italia, para dedicarse al periodismo, que alcanzó en Francia, gracias a él, la brillantez que tuvo antes en Gran Bretaña y España gracias a los autores de Cazando un elefante y La deshumanización del arte.
¿Por qué lo hizo? Yo creo que para llegar a un público más amplio que el del ámbito universitario y, acaso, sobre todo, para no verse arrastrado al oscurantismo retórico, aquella forma de logomaquia vanidosa y mentirosa que zahirió con tanta valentía como exactitud en algunos filósofos de su tiempo en el segundo de sus libros, Pourquoi des philosophes? (1957) El periodismo que él practicó significaba claridad y verdad, poner las ideas al alcance del lector profano, pero sin trivializarlas, manteniendo el rigor a la vez que la elegancia y la originalidad de los buenos textos literarios. Sin embargo, el periodismo significa también dispersión y fugacidad; tal vez por ello, hasta ahora, salvo esporádicos empeños como el de Pierre Boncenne (Pour Jean-François Revel, 2006) nadie había intentado presentar de una manera sistemática y completa el pensamiento político de Revel y lo que significa en el contexto de nuestra época.
El profesor Philippe Boulanger acaba de hacerlo, de manera soberbia, con un ensayo que, gracias a una investigación exhaustiva de sus libros, sus artículos y su correspondencia y archivos depositados en la Biblioteca Nacional de París, presenta una visión de conjunto, coherente y minuciosa, del pensamiento político de Revel con el telón de fondo de los grandes debates, crisis nacionales e internacionales, conflictos ideológicos, la guerra fría y el desplome del comunismo, ocurridos durante la vida del pensador francés: “Jean-François Revel. La démocratie libérale à l’épreuve du XXe siècle” .
En su intenso rastreo, Philippe Boulanger muestra, ante todo, que las ideas de Revel sobre el quehacer político se forjaron siempre a partir de un cotejo constante de pensamiento y realidad, confrontando sin descanso los hechos comprobables de la historia vivida y las interpretaciones ideológicas, adaptando éstas a aquella y no acomodando los hechos a ideas o esquemas abstractos preconcebidos, como hacía el marxismo.  Esto fue distanciando cada vez más a Revel de un tipo de socialismo que, a su juicio, distorsionaba la historia  para que justificara una ideología que una lectura objetiva de la realidad desmentía. Pero, y sobre esto Boulanger presenta pruebas incontrovertibles, Revel sostuvo buena parte de su vida que el verdadero socialismo era inseparable del liberalismo, y que el pecado capital del socialismo francés era haberlo olvidado, sometiéndose al marxismo y sirviendo de remolque al comunismo. De ahí, una de sus tesis más atrevidas: que el comunismo era el obstáculo mayor que tenía el socialismo francés para reformar profundamente a Francia y hacer de ella una sociedad más libre al mismo tiempo que más justa. Y de ahí, también, su simpatía por el socialismo sueco y por la social democracia alemana que, a diferencia del socialismo francés, nunca tuvieron complejos de inferioridad frente al comunismo a la hora de defender la democracia “burguesa”.
Reivindicar el liberalismo en Francia, en la época que lo hicieron Jean-François Revel o Raymond Aron, no sólo era ir contra la corriente, sino querellarse al mismo tiempo con la izquierda y una derecha conservadora, populista y autoritaria representada por la Quinta República y el gobierno del general De Gaulle. Pero esa orfandad no intimidó nunca a Revel, polemista y panfletario a lo Voltaire,  que, a lo largo de toda su vida, se opuso a los estereotipos en que querían encasillarlo, lapidarias respuestas que, de un lado, desvelaban la naturaleza caudillista y anti democrática del régimen impuesto por De Gaulle, y, de otro, denunciaban la dependencia del comunismo francés de la Unión Soviética y la ceguera o cobardía de sus “compañeros de viaje” socialistas y progresistas que se negaban a reconocer la existencia del Gulag pese a los abrumadores testimonios que llegaban a Occidente de los disidentes y el fracaso calamitoso de la economía dirigida y estatizada de la Unión Soviética y China Popular para elevar los niveles de vida de la población y la desaparición de todas las libertades que implicaba la llamada dictadura del proletariado y la abolición de la propiedad privada.
El libro de Boulanger muestra, también, que el liberalismo de Revel no incurría en la perversión economicista de ciertos economistas supuestamente liberales, malos aprendices de Hayek,  logaritmos vivientes, para quienes el libre mercado es la panacea que resuelve todos los problemas sociales.
Revel fue, en esto, contundente: para un liberal la libertad política y la libertad económica son indivisibles, la una garantiza la coexistencia pacífica y los derechos humanos, y la otra trae desarrollo económico, crea empleo y respeta la soberanía individual. Al mismo tiempo, una sociedad no alcanza nunca la plena libertad sin una rica vida cultural, en la que se puedan manifestar sin presiones ni dirigismos oficiales la creatividad artística e intelectual y el espíritu crítico.  Para ello es indispensable una educación de alto nivel, privada y pública, pues ella crea la igualdad de oportunidades, esencial para que una sociedad libre sea también una sociedad equitativa, digna y genuinamente democrática.
Revel fue siempre un enemigo declarado de toda forma de nacionalismo, un promotor de un gobierno supranacional, un defensor de una Europa unida y abierta al resto del mundo, un defensor de la lenta disolución de las fronteras a través de los intercambios comerciales y culturales, y alguien a quien su espíritu curioso  llevó a interesarse por otras culturas, otras lenguas –dominaba cinco– y uno de los mejores conocedores de la realidad de América Latina, sobre la que escribió iluminadores ensayos, refutando a sus ingenuos compatriotas que se empeñaban en ver, como un modelo de revolución democrática, el castrismo y las fantasías guevaristas de erupcionar el mundo creando “dos, tres, Vietnam”.
Aunque la política le apasionaba, estaba convencido de que ella no debía absorber toda una vida.  En todo caso, ella no agotaba su inquietud múltiple, su pasión por conocer, lo que hacía de él un heredero directo de la gran tradición humanista occidental.  Escribió una historia de la filosofía, sobre todo centrada en los pensadores griegos y latinos, y en los renacentistas, para lectores profanos, que se lee con el interés de un libro de aventuras, y ensayos sutiles y polémicos sobre Proust, sobre Descartes, y, sobre gastronomía, Un festin en paroles, en el que mostró, sin embarazo alguno, además de su ironía y buen humor, su pasión por la buena mesa y las buenas bebidas.      
Tenemos que agradecerle a Philippe Boulanger el enorme trabajo que debe haber significado para él escribir esta formidable biografía intelectual y política de Jean-François Revel. Ha sido un acto de justicia con uno de los pensadores más agudos y actuales, uno de los mejores continuadores de Tocqueville, y, a la vez, uno de los más injustamente marginados en un país en el que, pese a todas las frustraciones y fracasos que le ha significado aferrarse a la tradición anacrónica del Estado fuerte, grande e intervencionista, que han compartido tanto la izquierda como la derecha, la lección de Revel ha sido desoída y negada. Ya no será posible seguirlo desconociendo después de este admirable reconocimiento de Philippe Boulanger, que ha demostrado la riqueza, profundidad y actualidad de sus ideas.
Lima, marzo de 2014

sábado, 11 de outubro de 2014

Que Mau-hÁ em investir Imperador ?

Slogan do filme

Afinal quem mandava no Brasil, o Imperador (Pedro II) ou o Rei (Mauá)?  O Filme, " O Barão de Mauá, O Imperador e o Rei", é um barril de sensações positivas e negativas. Baseado nas péssimas produções nacionais sobre dramas históricos, a produção de 1999  peca pela artificialidade nos diálogos entre os atores, que mais faz lembrar uma aula de história decorada, do que realmente uma versão natural de um fato histórico. Por outro lado, pode-se ressaltar a figura do maior empresário brasileiro da história, dono de investimentos que financiaram o Estado brasileiro durante o Segundo Reinado. Bancos, Companhias de navegação, estradas de ferros (Santos-Sp) são meros instrumentos, se comparados ao financiamento da diplomacia brasileira na região do Prata, o que denomina-se "Diplomacia dos Pacatões". Os investimentos que o Barão de Mauá fez no Uruguai, Argentina e Paraguai proporcionaram ao Brasil a expansão na sub-região, e mais que isso, fincaram a condição de potência que perdura até hoje, no qual o ápice foi a Guerra do Paraguai.   Mais uma vez: Quem mandava no país, a política ou a economia?
 
 
cena-emblema entre Visconde de Feitosa e o jovem Mauá: Conservar a Política ou Liberar a Economia?
 
A resposta da questão, está na cena mais emblemática do filme: o confronto de ideias entre o Visconde de Feitosa e o jovem Mauá após o primeiro encontro entre eles. De um lado o  partido conservador, representado pela ideia de centralização; de unidade; de intervenção do Estado Imperial na economia (Isso não é novo no brasil, hein?), e claro em fazer política antes que economia. Enquanto de outro, o jovem empreendedor, nacionalista convicto, com a ideia de mudar o país a partir de maior liberdade econômica, baseado em industrialização, para transformar o Brasil em potência mundial. Uma guerra de olhares e diálogos que perdura pelo filme inteiro, com avanços e recuos de cada lado, até finalmente a falência de Mauá. A queda do principal empresário brasileiro no século XIX, é a morte da economia liberal no país. Em consonância, a vitória do Visconde de Feitosa antes que uma supremacia conservadora e política, simboliza a morte do governo imperial. Era o começo do Fim.
 
*
Produzido em 1999 pelo diretor Sérgio Rezende, e interpretado pelos atores nacionais, com excelente cartaz como Paulo Betti (Mauá), Malu Mader (May), Othon Bastos (Visconde de Feitosa) e Hugo Carvana (Queirós).
 
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ser ou (não) ser Diplomata ?! - Parte 4


"A diplomacia brasileira é recrutada à base do mérito, por um concurso que, ainda hoje, é o mais difícil, o mais exigente que se conhece. Nenhum outro concurso público tem exigências que rivalizem com aquelas do concurso para a carreira diplomática. A carreira sempre foi algo sedutor.
Eu costumava dizer, quando aconselhava alunos meus da Universidade de Brasília, ou em ambiente sociais, familiares e outros, quando aconselhava algum jovem desejoso por estar no curso de Direito de definir os seus rumos, seja pela carreira diplomática, seja por outras carreiras jurídicas, o seguinte: as carreiras jurídicas de Estado, a magistratura, o Ministério Público, são não apenas mais compensadoras do ponto de vista material do que a diplomacia, mas têm também uma consequência que, por um lado, assusta, mas, por outro lado, conquista: é o fato de que, já no dia da posse, no dia da investidura em um cargo na magistratura, no Ministério Público ou em outros assemelhados, você se sente uma autoridade, e sente o peso do seu poder. Você pode ter 25, 26 anos de idade, mas você sente o seu poder. Como eu disse, isso assusta um pouco. E aqueles a quem isso não assusta, podem, pela falta de freios, cometer certos abusos. Este é um risco que se corre.
 

Na diplomacia, não. Você se submete ao vestibular mais difícil que há no país e, no início da carreira, se não se sente absolutamente uma autoridade, você vai conviver com tarefas, às vezes, bem modestas, como organizar a mesa ou a rede social de uma recepção, ir ao aeroporto às 3h da manhã receber o ministro da agricultura do Quênia enfim...

É bem diferente o início de carreira de um juiz, de um promotor, de um procurador da República, do início de carreira de um diplomata. Mas, à medida que a carreira evolui, o sentido de responsabilidade e de representação do Brasil, de representação da comunidade nacional, é infinitamente compensador.

 A representação do Brasil lá fora é sempre um privilégio para quem, dentro da carreira diplomática, conserva a motivação que o terá levado, no passado, a procurar esse caminho, a fazer esse vestibular.

O final de carreira é extremamente compensador em todos os sentidos, menos no financeiro. Nossos diplomatas não conseguem fazer patrimônio, sempre foi assim. Quando estão lá fora, até ganham um pouco mais, podem levar uma vida mais confortável em razão do auxílio residência e de outros fatores. Quando estão no Brasil, na secretaria de Estado, os salários são muito modestos, se você considera que esta é uma das melhores diplomacias do mundo, sobretudo quando se compara com determinados diplomatas de determinados outros países como a Itália, o país que, provavelmente, melhor remunera a função pública, e destacadamente a diplomacia. Apesar disso, o final da carreira já não impõe ao diplomata aquelas situações pouco condizentes com a grandeza do talento que ele tem que demonstrar no vestibular e que marcam muito o início da carreira. A compensação espiritual é muito grande. Eles têm orgulho de representar lá fora um país cuja diplomacia é historicamente respeitada, e um país que está vivendo, nas últimas décadas, o esplendor da sua democracia e que, pela  sua fidelidade ao Direito Internacional e à ideia de justiça internacional, tem merecido a admiração de todos." (REZEK, Francisco. In: Revista Sapientia, Nº2, pp.17-18)