domingo, 23 de março de 2014

Vivre la évolution?




O Edital CACD-14 veio com uma novidade para a prova de Francês, como sublinhou, o amigo e companheiro de Grupo de Estudos Leonardo Teixeira, a prova passou para 3ª fase com um novo sistemas de pontos, e ademais deu ênfase em "(...) questões de cultura francófona (...)".
A partir disso, proponho algumas reflexões sobre a relação franco-brasileira apresentado 3 visões sobre isso: o contexto histórico geral; a relação Sino-francesa na Guerra Fria e por fim, a visita mais recente do Chanceler, Alberto Figueiredo, ao país da Revolução.

Primeiro, no edital de Política Internacional, tem-se sublinhado, "7. A Política externa francesa e relações com Brasil", a partir disso proponho um pequeno fichamento que vem do blog parceiro de Patrícia Galves Derolle.

  

 

1) Relações Brasil-França, numa perspectiva histórico

-> A partir de 1990, houve um esforço para ativar as relações entre os dois

->1996, houve uma série de visitas e contatos de alto nível e importantes tentativas de incentivo a investimentos no Brasil
>>Indústria e serviços foram os mais beneficiados no país


-> Campo comercial as relações não avançaram. A PAC, que a França defende, travou as negociações porque é obstáculo para as exportações brasileiras.

-> Embaixador, Marcos Azambuja: França é o maior capital político do Brasil na Europa, que ecoa os pleitos brasileiros no cenário internacional.


 Dados e estatísticas

Cooperação em áreas sensíveis
-> Desenvolvimento binacional de submarinos (convencionais e nuclerares)
-> Caças

Relações econômicas
->Renault
-> PSA (indústria automotiva francesa que constrói as duas linhas a seguir): Citroen e Peugeot
-> Casino

Transportes
->Alstorm: grupo industrial francês que atua na área de infraestrutura de energia e transporte: a)indústria de materiais ferroviários e produção de energia

Posições comuns
-> Programas de combate à pobreza
>>Taxa Toben: criação de taxa de transações comerciais, cuja arrecadação seria dedicada ao combate à pobreza e à malária

Cultura:
>>>Mais bolsistas universitários para a França (1 a cada 4 estudantes, da CAPES)
>>> Ano do Brasil na França (2005) e da França no Brasil (2009)

Comércio: 10 bilhões de dólares


2)O Comercial da Guerra Fria sem tradução francesa

Com a apresentação geral das relações bilaterais, aparece algo que me chamou atenção para a prova da 3ª fase: como sanar a questão da cultura francesa? O Canal do Ministère des Affaires Étrangères apresenta uma sessão sobre cultura, onde a instituição, como voz do Estado francês no exterior, tem a bagagem necessária para dialogar sobre a cultura do país. Lembrando que não é a única voz, mas para uma prova formal que envolve um cargo com interesse direto entre Estados, parece ser a mais legítima.
Hobsbawn diz que a Guerra Fria foi um movimento desde os EUA, que soube divulgar e criar uma "cultura" da bipolaridade, porque não, do pânico perante a sociedade estadunidense. Segundo o historiador inglês, sem essa ação, provavelmente a Guerra Fria não teria existido, porque não haveria uma avaliação positiva da sociedade pública americana perante uma disputa com a URSS, já que quebrava a velha tradição diplomática isolacionista do país. Dito isto, é comum na historiografia tradicional a noção de que os aliados ocidentais americanos eram alinhados fiéis. Nada mais perigoso que a generalização: O Estado francês comemora em 2014, 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas com a China, sendo oficialmente o ano francês naquele país.
Em meados dos anos de 1960, a estratégia francesa para a política exterior, segundo De Gaulle, era ter uma visão independente do foco bipolar, pois a França como país da Revolução- da Liberdade, Igualdade e Fraternidade- deveria respeitar sua tradição e avaliar positivamente a Revolução Chinesa, Liderada por Mao Tzé-tung. Contraditoriamente a noção de alinhamento irrestrito, os franceses faziam um adiantamento nas estrátegias e alianças de poder do mundo bipolar. Enquanto os EUA ainda olhavam para o movimento de detenção, os galos estvam mais preocupados em afirmar posição próripa e autônoma. Dez anos depois, os EUA iriam estabelecer relações com o país vermelho, nos anos de 1970, na conhecida "Diplomacia do Ping-Pong", ou a reação estadunidense à Deténte.   Por isso, assistam o vídeo e tenham cuidado com as generalizações, lembrem-se: A Guerra Fria era um "comercial" estadunidense como diria Hobsbawn, onde nem todo mundo estava disposto a ligar a tv, ou no caso francês, la télé.



3) Relações atuais

Para finalizar, semana passada tivemos a visita do Ministro, Alberto Figueiredo ao seu homólogo Laurent Fabius. Ali se discutiu algumas coisas, tais como:

a)projetos de cooperação bilateral, nas áreas de defesa, ciência, tecnologia, e inovação e educação.

b)temas de fluxos bilaterias de comércio e investimentos, e temas globais

c)comércio bilateral: 2013, 9,89 bilhões de dólares, com 3,39 bilhões em exportações e 6,50 bilhões em importação

c) França oitavo maior investidor no Brasil, com fluxo de 1,4 bilhões de dólares

d)investimentos: participação total no campo de Libra e a participação da GDF SUEZ na exploração de gás; construção do reator da usina de Angra 3 pela francesa Areva

sábado, 15 de março de 2014

Itamaraty: as mulheres no lago do Cisnes

Revista Lady, nº28, 1959


O imaginário que permeia na mente das pessoas quando se pronuncia a palavra Itamaraty, perpassa por uma série de construções frágeis. Dentre estas, aparece a palavra tradição confundida com ações retrógradas. De fato, a Casa é um lugar hierárquico, pelo qual certos sinais, valores e rituais de sociabilidade devem ser respeitados. Porém, ser tradicional, não impede que sejam tomadas medidas progressistas, exemplo disso ocorreu no século XX, em relação ao avanço das mulheres nos quadros da carreira. Os cisnes rosas passaram da proibição para a promoção social.

Em arranques do XX, dentre as exigências para entrar na carreira diplomática, estava a obrigatoriedade do Certificado Militar. Claramente, o Ministério sinalizava que queria apenas homens, afinal as mulheres não podiam se meter em cousas de homem na sociedade da República Velha.

O primeiro sinal progressista apareceu em 1946, quando o presidente, Eurico Gaspar Dutra, junto com o Ministro das Relações Exteriores, João Neves de Fontoura, revogam o Decreto-lei nº 9.202. A partir disso, não havia mais a obrigatoriedade do Certificado Militar.Entretanto, na prática entre 1946-54, o que se viu, por um lado foram as mulheres tentando prestar o exame de admissão, e por outro o Ministério, ainda confuso e sem jurisprudência efetiva, negando-se em abrir as portas para as mulheres. A resolução ficaria a cargo do Poder Judiciário, que em 1954, deu a candidata, Sandra Cordeiro de Mello, a possibilidade de prestar o exame do Itamaraty com um mandado de segurança impetrado. Paralelamente, Getúlio Vargas assina o decreto de 18 de janeiro de 1954, nº2.171, que em seu  artigo primeiro dizia: "...Ao ingresso na classe inicial da carreira de Diplomata, são admitidos os brasileiros natos, sem distinção de sexo". O Estado sinalizava claramente pela evolução da legislação no lago dos Cisnes.


Thereza Quintella: "A administração dava um jeito de,sem que a gente percebesse, nos colocar de lado, nos deixando em posições menos relevantes. Quando a gente percebia, estava totalmente fora do mainstream." (pp.49,Revista Juca, nº6, 2013)

O período que vai desde a segunda metade dos anos de 1950, foi regido pela entrada de candidatas mulheres. Segundo a Revista Lady (junho de 1959) entraram cerca de 19 mulheres na Casa,  com destaque para a atual Embaixadora Thereza Maria Quintella. Em complemento ao processo de abertura para as mulheres, no ano de 1961, o presidente Jânio Quadros revoga a proibição do casamento entre um diplomata e um funcionário público (lei de 1946). Na prática acabava com a obrigação das mulheres deixarem a carreira para se casar com colegas de profissão, assim como a obrigatoriedade de agregação para acompanhar cônjuge em missões no exterior.  O Barão do Rio Branco certamente observaria estes costumes deploráveis perplexo.

Após as medidas liberalizantes, o período militar não conseguiu avançar na questão da inserção feminina. Ao contrário, percebeu-se uma clara política de marginalização das mesmas em cargos de chefia. Algumas tensões de gênero na profissão, inclusive, foram construídas entre as próprias mulheres que preferiam chefes homens, já que estes eram mais firmes, pacientes, e menos "invejosos", segundo os relatos das mesmas no trabalho da Diplomata, Viviane Balbino. Para romper este paradigma, nos últimos 10 anos, especificamente a  política de promoção social da mulher no governo Dilma, fez com que aumentasse o número de mulheres em postos de chefias. Mas não conseguiu romper o malefício de apenas 20% de mulheres no quadro do MRE. Espera-se, como visto no tradicional lago dos cisnes dos anos 1940-1960, que  as medidas progressistas continuem permeando o seio da Casa, e que em consequência, as mulheres continuem ganhando espaços de poder nos corredores do Itamaraty. No século XXI, urge equacionar os desníveis de gênero na carreira,  no qual o primeiro passo será a entrada  via CACD (Concurso de Admissão à Carreira Diplomática), seja criando cotas específicas, como a Ação Afirmativa para os negros, ou ainda, seja fazendo uma aproximação com a sociedade para divulgar que o lago tem espaço para os dois gêneros de cisnes.

Fonte:

SHIMADA, Natália.Intrusas no lago dos Cisnes. Brasília: Revista Juca, ed. nº 6, 2013.


BALBINO, Viviane Rios. Diplomata: substantivo comum de dois gêneros: um estudo sobre a presença das mulheres na diplomacia brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão,2011.

segunda-feira, 10 de março de 2014

O Real e a Lucidez


FHC- Fevereiro 2014-Forbes
 

A Forbes, fevereiro de 2014, resolveu entrevistar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). A redação da revista tinha um dilema quando decidiu escolher a capa: escolher, por um lado e os 30 jovens mais promissores do país, ou por outro, o "inventor"* do Plano Real. A escolha foi óbvia: Lucidez.

Dentre as perguntas mais relevantes que a publicação fez, apareceu a área econômica:

Forbes: Falando especificamente da política econômica, o governo não está conseguindo reduzir a inflação, apesar do aumento da taxa de juros e da renúncia fisca de alguns setores da economia.

FHC: O que geralmente produz uma situação inflacionária é o desequilíbrio muito grave entre a receita e a despesa. Aí você aumenta o imposto e, consequentemente, a receita. Só que chega um ponto que isso não se sustenta mais, até porque as pessoas se cansam. Diminuir gastos é sempre mais difícil, há reclamações. No momento da aflição, opta-se por não reduzir custos e por fazer com que a economia cresça na marra, aliviando a carga fiscal para certos setores. O que acontece? Dá distorções. Tenta-se segurar a inflação e não aumentar o preço da gasolina. Aí você mata o etanol e prejudica o outro lado. (...)


O ex-Ministro da Fazenda (1993-94) de Itamar Franco deu uma aula de macroeconomia ao longo d entrevista. Por exemplo,  no trecho a seguir, dialoga uma possível solução para os atuais problemas econômicos brasileiros:

FHC- Conversar com a população ao invés de se fechar. Não dá para impor e dizer "minha vontade é lei"(...) Agora vamos ter que fazer o que fizeram lá atrás. Vamos reconhecer o que não está reconhecido, balanço malfeito, ver que a dívida é maior. Tentar corrigir, fazer de novo. (...) As bombas de retardamento estão postas. Estamos nesse processo de criação de bolhas de pressão na economia, a exemplo da inflação, da taxa de juros, da balança comercial e, como consequência, de uma taxa de crescimento moderada. Quando eu governei, a taxa de crescimento também era baixa, mas mais alta que da América Latina e do mundo. E hoje é o contrário. Estamos atrás da América Latina e do Mundo (...)."
 
 
 
FHC:" (...)a transformação nos EUA é grande, que a China está começando a se acertar e que a Europa passou pelo pior. Mas olham com preocupação para os emergentes, a exemplo do Brasil e Turquia."
 



Ademais, o ex-ministro das Relações Exteriores (1992-93) deixou sinais sobre os últimos dez anos, demonstrando alguns problemas da política interna petista, como: "(...) o Estado ficou muito abstrato no Brasil. Uma pessoa como Lula, que é comunicador, supre o vazio do Estado. Ou melhor, a falta de comunicação do Estado. Com a presidente Dilma isso já não aconteceu. (...)."

Para finalizar, reafirmou o seu compromisso em não mais se candidatar a Chefe do Executivo, mostrando um costume pouco habitual nos trópicos e mais próximo aos estadunidenses. Ainda sinalizou timidamente, para Aécio Neves, deixando uma pista: Eduardo Campos é uma possibilidade tucana para o 2ndo turno. E qual a ligação CACD-Eleições? A PEB poderá mudar, afinal, nossa Diplomacia é mais presidencialista que o próprio país. Lembre-se de que em meados de 2002, Lula era um candidato temeroso perante o continuísmo tucano, mas após sua vitória e o contexto econômico internacional favorável, pode construir uma PEB com ótimos frutos ao país: desenvolvimentista, ativa e altiva. Porém, o modelo parece cansado: a economia não cresce e a escolha da PEB tem pontos cegos. É bom ficar atento ao voto.



* O termo inventor é um exagero, pois o próprio FHC costuma dizer que foi o pai do Plano Real (1994) no sentido político, isto é, soube articular o avanço do tema no Congresso Nacional. Ali, existiam forças conservadoras, mesmo pessedebistas, que queriam deixar o assunto para o fim da eleição dos anos de 1994. Mas, pela habilidade política, ele logrou convencer seus pares. Para maiores conhecimento sobre o assunto:  http://www.youtube.com/watch?v=GITTY90LqwE&list=PLc-4nnMYbmH6ckPOAvHE2s53n8SAuClZ_&index=3.


Abaixo, as principais medidas do Plano Real:



Fonte:http://pnld.moderna.com.br/2012/02/28/plano-real-contra-a-inflacao/


1) Plano REAL

a) PAI: Plano de Ação Imediata: arroz com feição, segurar o orçamento em 50% dos gastos, medidas de recomposição fiscal, orçamento realista

b) Equipe: Malan (1993,presidente do Banco Central), Gustavo Franco, Pérsio (presidente do BNDES)

c)Muda a moeda para o real

d) fixa a taxa de câmbio na paridade de R$ 1,00 para U$ 1,00

e)Acelera as privatizações

f)Eleva os juros

g)Facilita as importações

h)Prevê o controle dos gastos públicos

i)Mantem o processo de abertura econômica

j)Busca medidas de apoio a modernização de empresas

l)Fundo Social de Emergência: na prática, era uma redução direta da capacidade que algumas verbas tinham de capacitação física, cortando 15% delas

m)acabou com o combate à crise através de emissão de moedas e passa até o controle da inflação como objetivo