sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ser ou (não) Ser Diplomata?! - Parte 3




"Tenho presente, em função de minha própria experiência como diplomata, as vicissitudes e os sacrifícios emocionais relacionados aos permanentes deslocamentos a que somos sujeitos por dever de ofício. Faria minhas as palavras do paraninfo da turma. Preocupa-me, especialmente, a educação dos filhos do diplomata, no exterior, e os pesados encargos financeiros que muitas vezes acarreta. O assunto requer exame detido, com vistas à formulação de medidas práticas, que - em uma primeira fase - talvez pudessem ser estendidos aos que servem em postos onde as oportunidades de acesso a uma educação universal de nível adequado sejam menores." (AMORIM, Celso. Discurso Dia do Diplomata  )

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Política Externa nas Eleições 2014 - Parte 6

Continuando com a tradicional entrevista aos candidatos à eleição presidencial, a Revista Política Externa conclui a série com as respostas da candidata do PT, Dilma Roussef.
 
A candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Roussef em pose oficial para a Revista Política Externa.
 
1. Tradicionalmente, a política externa brasileira tem sido concebida como um instrumento relevante na estratégia de desenvolvimento do país. Num mundo cada vez mais integrado e interdependente do ponto de vista econômico, qual a sua concepção desse papel nos próximos anos?


 
DR - A política externa de um país – e a do Brasil não foge à regra – viveu, vive e viverá sempre a tensão entre ser uma política de Estado e, ao mesmo tempo, uma política de Governo. Política de Estado, enquanto obedece aos princípios constitucionais elencados no artigo 4º de nossa Carta Magna. Política de Governo, pois, como a própria pergunta prescreve, ela é um “instrumento relevante na estratégia de desenvolvimento do país”. Essa tensão é normal, posto que inerente às sociedades democráticas. Não existe uma só estratégia de desenvolvimento. Há muitas. A estratégia é antes de tudo uma escolha da sociedade, que se faz periodicamente por meio de eleições. Querer aprisionar a política externa em um só modelo – sob o pretexto de esta ser apenas uma política de Estado – denota uma atitude conservadora por parte dos que não querem nada mudar. Vício grave, pois é sabido que não só o país muda, como, sobretudo, o mundo muda. E como!
Assim sendo, as políticas externas também mudam, não apenas para se adequar às novas estratégias de desenvolvimento, democraticamente definidas, mas também aos câmbios geopolíticos e geoeconômicos que ocorrem no cenário mundial. Uma política externa imutável e estática seria extremamente ineficiente.
Críticos da política externa seguida nos últimos anos têm procurado caracterizá-la como “partidária” ou “ideológica”, na maioria das vezes por não seguir cânones estáticos, definidos por estratégias de desenvolvimento já ultrapassadas e para um mundo bem diferente do atual, e defendidos por pessoas ou grupos com claro alinhamento na sociedade. Esse fenômeno não é novo. Bastaria lembrar, entre outros exemplos, as polêmicas que a Política Externa Independente, de Santiago Dantas, Afonso Arinos e Araújo Castro provocaram nos anos 60.
Nossa política externa tem novo horizonte estratégico, legitimado em pleitos livres e calcado na prioridade, mas não exclusividade, que atribuímos à integração regional, à cooperação Sul-Sul e à busca de uma ordem mundial multipolar e menos assimétrica.
Coerentemente com tal horizonte, afirmei, em meu discurso de posse, que nosso Governo persistiria no esforço de associar o destino do Brasil ao do Continente. Com efeito, a dimensão econômica e política do Brasil na região nos impõem grandes responsabilidades, seja na redução de assimetrias em busca de uma maior integração econômica, seja na garantia da estabilidade democrática, seja na preservação da paz. Não podemos fugir de tais responsabilidades, assim como não podemos desconhecer que a integração regional é um poderoso instrumento para a alavancagem do nosso desenvolvimento e o aumento do nosso protagonismo internacional. Portanto, consideramos que a ênfase atual na integração regional é vital para os interesses econômicos, comerciais, políticos e diplomáticos do Brasil.
Ademais, acreditamos que a América do Sul integrada, próspera e democrática, tem todas as condições para constituir-se em importante alicerce de um mundo multipolar.
Também de forma consentânea com esse novo horizonte estratégico, mantivemos e aprofundamos nosso relacionamento com todos os países do mundo desenvolvido e diversificamos nossas parcerias com outros países emergentes Ao mesmo tempo, abrimos novas fronteiras para nossas relações exteriores – na África, antes esquecida, na Ásia, sobretudo com países como a Índia e a China, hoje nosso principal parceiro.
É preciso assinalar que essas novas prioridades da política externa brasileira produziram resultados concretos extraordinários. De fato, os resultados desse conjunto de ações se traduzem, entre outros elementos, no crescimento de 400% de nosso comercio exterior, nos últimos 12 anos. Também se traduzem num superávit acumulado de US 312 bilhões, que foi de fundamental importância para superação da nossa antiga vulnerabilidade externa. Diga-se de passagem, o Mercosul, tão criticado por um suposto “imobilismo” viu o comércio entre seus membros se expandir em cerca de 300%, de 2003 a 2013, ao passo que o comércio mundial aumentou, no mesmo período, somente 180%.
Tais resultados, muito expressivos, não foram produzidos apenas pelo aumento dos preços internacionais das commodities, mas fundamentalmente porque o Brasil, com sua nova política externa, adaptou-se bem às profundas mudanças que ocorreram, e ainda ocorrem, na geoeconomia e na geopolítica mundiais. Com efeito, o polo dinâmico da economia internacional deslocou-se, na última década, dos centros tradicionais para os países emergentes, que apresentaram um crescimento bem superior. Assim, ao enfatizar a integração regional, a cooperação Sul-Sul, a abertura de novas fronteiras diplomáticas e a diversificação de suas parcerias estratégicas, o Brasil colocou-se pragmaticamente numa boa posição para colher os frutos dessas mudanças.
Caso tivéssemos mantido a nossa política externa anterior, que não enfatizava da mesma forma essas diretrizes, muito provavelmente não teríamos resultados tão expressivos.
Saliente-se que os resultados não se limitam ao campo comercial e econômico. Na realidade, o resultado mais expressivo tange ao claro e substancial aumento do nosso protagonismo mundial. Atualmente, o Brasil é um ator internacional de primeira linha, uma voz respeitada e propositiva que se faz ouvir em todos os grandes foros mundiais.
Essa nova e grande projeção do Brasil no mundo, a par de um extraordinário e competente esforço de nosso Itamaraty é também, em grande medida, consequência do reflexo internacional da grande transformação econômica, social e política pela qual o país vem passando. Fomos capazes de iniciar um duradouro esforço de combater a principal chaga que afetava a sociedade brasileira – a desigualdade – sem renunciar à estabilidade macroeconômica, a despeito das dificuldades internacionais e, sobretudo, aprofundando nossa democracia. Desse modo, nos tornamos exemplo a ser emulado, num mundo ainda marcado pela desigualdade e pelas assimetrias.
Mesmo sabendo que a estrada é longa e que muito teremos de realizar ainda, a comunidade internacional reconhece a importância da experiência que o povo e o Governo brasileiros vêm realizando nos últimos 12 anos.
Não se trata, assim, de uma volta ao terceiro-mundismo, que teve seu tempo. Mas não se trata, tampouco, de uma volta aos tempos de alinhamento automático com as grandes potências que marcaram períodos já ultrapassados de nossa política externa.
Trata-se, na realidade, de escolhas inteiramente racionais e pragmáticas, que produziram resultados positivos para o país.
Por outro lado, reconhecemos que a relativa estagnação do comércio mundial, verificada partir do segundo trimestre de 2011, e a continuidade da crise mundial nos impõem novos desafios e maior empenho, tanto no prosseguimento da exploração de novos mercados, quanto no aprofundamento da nossa presença em mercados tradicionais.
Conforme o relatório da OMC de 2013, o cenário mais provável para o futuro é aquele no qual as exportações dos países em desenvolvimento tendem a crescer entre duas a três vezes mais que as exportações dos países desenvolvidos, até 2030. A nova etapa da crise mundial, que começa a afetar também os países em desenvolvimento, não parece ter modificado a tendência estrutural de um maior dinamismo dos países emergentes.
Para o Brasil, que tem grandes vantagens comparativas na produção de alimentos, cuja demanda não arrefece; na produção de energias alternativas, um setor que tende a crescer muito; no setor de hidrocarbonetos, cujos preços tendem a permanecer altos, mesmo com o shale oil; em biotecnologia, papel e celulose e vários outros, essa tendência mantém aberta uma “janela de oportunidades” para a promoção do aumento da nossa competitividade no setor industrial e de serviços e para a consolidação de um novo ciclo de crescimento.
Dessa forma, o Brasil poderá continuar a aproveitar as suas grandes vantagens comparativas nessas áreas e persistir, exitosamente, em sua ênfase na integração regional, na cooperação Sul-Sul e nas parcerias estratégicas com outros países emergentes e em desenvolvimento, sem jamais descuidar, no entanto, das nossas vitais relações com nossos parceiros tradicionais. As grandes tendências geoeconômicas mundiais assim o recomendam.


2. A América do Sul tem apresentado recentemente uma divisão ideológica e de estratégias nacionais para o comércio internacional como fazia muito tempo não se observava. Como o Brasil deve agir nos próximos anos para lidar com os seus vizinhos, em especial no que se refere às alternativas diversas para o comércio escolhidas pelo Mercosul e pela Aliança do Pacífico?

DR -
Em um continente que conquistou com tanto sacrifício a democracia nas últimas décadas é normal, e até mesmo louvável, essa diversidade ideológica e de estratégias nacionais. Durante as ditaduras e no período pós-autoritário foram aplicadas igualmente diferentes políticas econômicas. Um fator que não pode ser minimizado é o porte e a natureza diferentes de cada uma das economias da região. Há países cujo sistema produtivo está basicamente ancorado em pouco mais de cinco produtos, quase todos primários e voltados para a exportação, posto que seus mercados internos são restritos. Não é o caso de países que, como o Brasil – mas não só ele –, têm um PIB bem maior e economia mais complexa.
Devido a essa condição, não podemos seguir, nem pretendemos seguir, uma política desenfreada e sôfrega de adesão automática e acrítica a acordos de livre-comércio, como o NAFTA ou a fracassada proposta de formação de uma Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA). Firmados com países muito mais desenvolvidos, esses acordos, se firmados sem as cautelas necessárias e sem uma estratégia clara e consistente de inserção econômica, aprofundariam assimetrias, comprometendo, talvez de forma definitiva, a nossa indústria, os serviços, a inovação tecnológica, o mecanismo de alavancagem das compras governamentais e o próprio regime jurídico dos investimentos, sem propiciar ganhos reais para o Brasil, na medida em que as contrapartes não abrem mão de suas políticas protecionistas, sobretudo na esfera agrícola, onde somos muito competitivos.
As dificuldades que enfrentamos até agora para firmar um acordo MERCOSUL – UNIÃO EUROPEIA, que queremos concluir, advém dessas realidades. Nosso Bloco tem uma oferta pronta e está à espera da proposta da Europa. Mas a U.E. tem dificuldades para compatibilizar, entre 27 países, sua oferta, como nos têm informado dirigentes europeus.
Pensamos que a integração sul-americana, sem menosprezar o lado comercial, que tem tido avanços significativos, deve privilegiar, no que se refere à economia, a complementaridade produtiva, com ênfase na inovação tecnológica, que permita criar cadeias de valor, e a construção de uma forte infraestrutura energética e logística. Isso nos dará competitividade maior em relação ao resto do mundo. Para nós, a inserção nas cadeias produtivas globais passa pelo fortalecimento das cadeias produtivas nacionais e regionais. Queremos, como todos, participar mais da economia mundial, mas temos de fazê-lo na condição de país que agrega valor expressivo às cadeias globais, gerando, dessa forma, externalidades e efeitos positivos para o desenvolvimento nacional e o desenvolvimento regional. A inserção subalterna, caracterizada pela mera oferta de insumos básicos para agregação de valor em outros países, definitivamente não nos interessa.
Não devemos subestimar, igualmente, o fato de que o crescimento econômico da região na última década e as políticas de inclusão social postas em práticas em quase todos os países permitiram a criação de um importante mercado de bens de consumo regional, fundamental para fazer girar a roda da economia e dar competitividade à América do Sul.
Somos respeitosos das opções de muitos países por estabelecerem tratados de livre-comércio. Mas a preferência de alguns setores, aqui no Brasil, por esta via, é muito mais consequência de uma opção ideológica do que de um exame objetivo do problema. Os temas da integração não se colocam hoje da mesma forma que no século passado. Isso tudo não impediu – ao contrário – de que tenhamos decidido estabelecer diálogo e cooperação entre o MERCOSUL e a Aliança do Pacífico. Observe-se que os países do Mercosul já têm acordos de livre comércio com países da Aliança do Pacífico. As estratégias diferenciadas de inserção na economia mundial não impedem uma cooperação profícua, em âmbito regional.

3. Ainda em relação à América do Sul, como o Brasil deve proceder diante das situações de crise atualmente vividas por Argentina e Venezuela?

DR - Argentina e Venezuela são países soberanos. Crises eventuais – todos os países estão sujeitos a vivê-las – devem resolver-se no marco das instituições democráticas que estão em vigência em todo o Continente.
A UNASUL, a pedido da Venezuela, tem contribuído para a diminuição das tensões sociais e políticas dos últimos meses naquele país, enviando uma comissão de Chanceleres para facilitar o diálogo Governo-Oposição. O Brasil tem participado ativamente dessa iniciativa, por meio do Chanceler Figueiredo.
Face aos problemas vividos pela Argentina, relacionados com sua dívida externa, o Brasil fez-se amicus curiae do governo argentino nos tribunais norte-americanos para lograr uma solução amigável do contencioso. Tendo em vista a interdependência de nossas economias, não temos medido esforços para a completa superação das dificuldades que atravessa este país vizinho e irmão. Argentina é um grande país, suas relações com o Brasil são estratégicas e sua saúde econômica e financeira é essencial para nós, para o MERCOSUL e para a UNASUL.
Ademais, essa solução amigável é importante para o próprio sistema financeiro internacional e, por isso, conta com o apoio decidido do FMI e do Banco Mundial.

4. Finalmente, em relação ao subcontinente, como é possível (se considera desejável) promover a sua integração?
DR - A integração é não só desejável como essencial para garantir um papel mais protagônico da região no mundo e para dinamizar o desenvolvimento do Brasil.
Durante séculos, os países da América do Sul estavam de costas uns para os outros, com os olhos voltados para a Europa num primeiro momento e posteriormente para os EUA.
Essa realidade começou a mudar mais acentuadamente a partir do início deste século. Passos importantes foram dados nos planos econômico, comercial, político e de segurança com o fortalecimento do Mercosul e a criação da Unasul e de seu Conselho de Defesa sul-americano. Os resultados econômicos e comerciais já apareceram, e são muito positivos para o Brasil.
Mas a integração tem que avançar em outros planos, tem que ser um projeto que abranja outras áreas: cadeias produtivas, integração física (rodovias, portos, linhas aéreas etc.), energética, laboral, social e cultural. O Mercosul nunca se propôs a ser apenas uma área de livre comércio. A união aduaneira e a livre circulação de pessoas, elementos vitais de um verdadeiro mercado comum, são partes orgânicas desse projeto de integração.
Sempre insistimos na ideia de que para que a integração do subcontinente se concretize, ela não poderia ser obra apenas dos governos, ainda que estes tenham um papel essencial. Sempre insistimos em que, para que ela seja consolidada, é fundamental que haja uma integração entre os povos, inclusive com a criação de uma cidadania comum, como se deu no caso da União Europeia
Nesse sentido, demos recentemente no Brasil um passo simbólico, nessa direção. Com a realização da Copa do Mundo, circularam em nosso país mais de 250 mil latino-americanos. Sem incidentes graves, eles, além de torcerem para suas seleções, conheceram as belezas de nosso país e confraternizaram com nosso povo hospitaleiro. A grande maioria deixou o Brasil manifestando desejos de voltar. Foi importante fenômeno social de integração entre povos do nosso continente.

5. Qual a sua visão sobre as relações do Brasil com os EUA? Como é possível superar o incidente provocado pelas ações da NSA? É desejável expandir o comércio bilateral? Caso sim, de que maneira?

DR - A relação bilateral com o EUA sempre foi e continuará sendo de grande importância para o Brasil. Somos as duas maiores democracias e economias das Américas. Temos de ter uma relação madura, profícua e respeitosa.
Nesse sentido, nossos países vêm trabalhando ativamente, nos últimos anos, para a ampliação dos entendimentos bilaterais em múltiplos setores, com destaque para as áreas de Comércio e Investimentos e Educação e Ciência, Tecnologia & Inovação (C,T&I).
Entretanto, as revelações, em meados de 2013, sobre os mecanismos abrangentes de espionagem e monitoramento coletivo de comunicações provocaram indignação e repúdio em amplos setores da opinião pública brasileira e mundial. No Brasil, cidadãos, empresas, representações diplomáticas e a própria Presidência da República tiveram suas comunicações interceptadas.
No âmbito multilateral, fiz de meu discurso na 68ª Assembleia Geral da ONU uma plataforma para combater essas práticas. Propus o estabelecimento de um marco civil global para a governança e uso da Internet e de medidas que garantam a efetiva proteção dos dados que por ela trafegam. Junto com a Chanceler Merkel, levamos à Organização das Nações Unidas proposta de resolução sobre o “Direito à Privacidade na Era Digital”. Aprovamos por consenso o chamado aos Estados para que cessem a coleta arbitrária ou ilegal de dados pessoais e façam valer o direito à privacidade.
Tratei do tema com o Presidente Obama em mais de uma ocasião e deixei muito clara nossa posição de que esses fatos são inaceitáveis. É fundamental que existam garantias de que episódios como os do ano passado não se repetirão.
Contudo, tal atrito não deverá impedir nossos sinceros esforços para aprofundar essas relações bilaterais tão importantes. Continuar a fazer do comércio bilateral um fator de prosperidade para nossos países é um desafio permanente. Nos últimos anos, o comércio do Brasil com os EUA cresceu significativamente. Nossa corrente de comércio passou de US$ 26 bilhões para US$ 60 bilhões em 2013.
Ainda temos um enorme potencial inexplorado de oportunidades de lado a lado, que não se limita à ação dos Governos. Prova disso é a ampla rede de relações entre empresários, representantes da sociedade civil e cidadãos dos dois países.
Tenho certeza de que o Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA, que se reúne anualmente, pode ser melhor utilizado com o objetivo de facilitar o comércio e investimentos bilaterais, bem como identificar formas de integração competitiva entre as duas economias.
Queremos, sobretudo, forjar parcerias que nos ajudem a desenvolver tecnologia e a capacidade produtiva em território brasileiro. Tenho reiterado ao Presidente Obama a grande importância que atribuímos à cooperação em Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação. Com o programa Ciência sem Fronteiras estamos enviando estudantes e pesquisadores brasileiros a universidades de primeira linha em todo o mundo. É uma forma de fortalecer a formação de nossos cientistas, aspecto essencial na consolidação de um sistema de inovação capaz de assegurar crescente competitividade à nossa economia. Esse é um setor essencial e estratégico para o salto de competitividade que queremos para o Brasil. Os EUA são nosso principal parceiro no Ciência Sem Fronteiras, já tendo recebido, entre 2011 e 2014, 26.825 bolsistas.
Estaremos sempre abertos a novas parcerias, em todos os setores, com os EUA.


6. Que expectativas têm em relação ao futuro do comércio global sob a égide da OMC, agora sob o comando de um brasileiro?

DR -
O Brasil acredita e aposta no multilateralismo como única forma de produzir consensos estáveis em âmbito internacional, de promover o interesse coletivo e de construir harmonia onde o recurso ao unilateralismo só fomenta a guerra e os conflitos. Foi assim que conquistamos o respeito do mundo, que se reflete em nossas bem-sucedidas candidaturas a organismos internacionais, como as do Embaixador Roberto Azevêdo, eleito para o cargo de Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). do ex-Ministro-Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, eleito para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Anteriormente havíamos elegido José Graziano para Diretor Geral da FAO.
Mas essas vitórias todas não são apenas do Brasil. São, em última instância, uma vitória do multilateralismo. É muito salutar que nacionais de países em desenvolvimento ocupem cargos internacionais de destaque. Eles são mais sensíveis à realidade vivida no mundo em desenvolvimento, a maior parte do planeta As organizações internacionais ganham com essa maior diversidade de pontos de vistas entre os seus quadros.
A OMC continuará a ser o grande foro internacional para as negociações comerciais internacionais. As grandes anomalias ainda existentes no comércio global, como os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos, barreiras técnicas e fitossanitárias e regulamentações domésticas sobre o comércio de serviços, por exemplo, não são objeto de negociações bilaterais e ou regionais de livre-comércio. Nenhum desses acordos trata efetivamente dessas barreiras. Esses são temas sistêmicos que só serão resolvidos no contexto de uma rodada multilateral. Por isso, o Brasil dá prioridade a essas negociações.
Além disso, o mecanismo de solução de controvérsias da OMC continuará sendo o principal foro para o tratamento de conflitos comerciais. Os quase 500 casos iniciados, desde que o mecanismo passou a funcionar, vêm elucidando as disputas entre os membros, reduzindo medidas unilaterais que distorcem o comércio e ajudando a consolidar a interpretação dos acordos nas áreas de bens, serviços e propriedade intelectual que constituem o arcabouço normativo da OMC.


7. Apesar da alta prioridade que se deu à obtenção para o Brasil de um assento como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, ela parece atualmente mais distante do que nunca. Que prioridade terá em seu governo esse objetivo?

DR -
O Conselho de Segurança da ONU foi criado no pós-Segunda Guerra Mundial, com base em uma correlação de forças que hoje não existe mais. À época, a ONU tinha 50 membros, agora tem quase 200.
A multiplicação de conflitos na atualidade demonstra a necessidade urgente de resolver a falta de eficiência e de eficácia do Conselho, consequência de uma representatividade distorcida e de sua pouca transparência. Sem que esses problemas sejam equacionados, o Conselho não terá a legitimidade indispensável para cumprir suas atribuições.
O Brasil é candidato natural à condição de membro permanente do Conselho, por sua dimensão política e econômica, pelo papel construtivo e pacífico que tem tido para o sistema multilateral desde a criação da Organização. Brasileiros dirigem, hoje, duas das principais entidades do sistema multilateral, a OMC e a FAO. Estamos entre os dez maiores contribuintes da organização. Participamos de mais de 30 operações de paz desde 1948, tendo cedido mais de 25 mil efetivos. Oficiais Generais brasileiros comandam, hoje, operações no Haiti, na República Democrática do Congo e no Líbano.
Não é possível que, em pleno século XXI, os países emergentes, na América Latina e na África, não tenham representação e voz permanente na principal instância decisória da ordem internacional. A América do Sul é exemplo de convivência pacífica em um mundo assolado por conflitos, e acreditamos que essa experiência tem muito a ensinar aos países que deveriam zelar pela paz e pela segurança coletiva, mas muitas vezes não o fazem, defendendo interesses paroquiais.
Não se pode, porém, imaginar que a reforma dar-se-á de modo fácil ou rápido, pois se trata de processo gradual, que depende do consenso não apenas dos membros permanentes do Conselho, mas também de muitos outros países. O Brasil tem trabalhado de maneira constante ao lado dos integrantes do G-4 – Alemanha, Índia e Japão – para que sejam encontradas fórmulas intermediárias que viabilizem ao menos uma reforma parcial do Conselho. Atualmente, trabalhamos por uma resolução que reconheça a necessidade do aumento tanto das vagas permanentes como não-permanentes, não necessariamente com direito de veto para novos membros.
Em suma, a reforma do Conselho de Segurança permanecerá como prioridade, como não poderia deixar de ser para um país do tamanho do Brasil. Sempre com a noção, porém, de que se trata de um processo de longo prazo, que dependerá de uma complexa construção de consenso entre os demais membros das Nações Unidas.
O que nenhum brasileiro pode aceitar é que nosso país assista, em silêncio, a que um Conselho sem representatividade adote decisões que afetam a todos nós. Se os valores do Brasil e da política externa brasileira fossem predominantes, certamente viveríamos em um mundo mais pacífico e justo.


8. O Brasil tem sido acusado por entidades de defesa de direitos humanos de proceder com frequência de maneira dúbia ou fraca em situações como as crises da Síria e da Venezuela. Quais as diretrizes de seu governo nesse campo?

DR - Os direitos humanos têm valor universal e não podem ser relativizados com base em aspectos culturais. Devem ser defendidos em sua integralidade (esferas econômica, social, política) e não apenas com votos em foros multilaterais. Nossa visão é mais ampla e abrangente: a promoção e a proteção dos direitos humanos deve ter base na cooperação e no diálogo, no âmbito das revisões periódicas (RPU) do Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH).
Não aceitamos a seletividade e o unilateralismo que, em geral, penalizam países pobres e isentam países ricos. O diálogo e as recomendações devem ocorrer em foros universais, em que todos os Estados estejam em igualdade de condições e escrutínio. É por essas razões, e pela importância fundamental que conferimos aos direitos humanos (em cumprimento, aliás, ao art. 4º, II, da Constituição), que o Brasil, sob o Governo Lula, esteve à frente da criação do CDH em 2006.
Somente quando uma parte não aceita o diálogo é que entendemos necessário cogitar resoluções que determinem, por exemplo, o envio de comissão de inquérito para avaliar a situação no terreno. É exatamente o que ocorreu, por exemplo nos casos do Irã, da Síria, da Coreia do Norte e, mais recentemente, de Israel.
Em todos esses casos votamos, no CDH, a favor da criação de comissão de inquérito e indicação de relator específico. São medidas fortes e o voto brasileiro demonstra nosso compromisso com a defesa dos direitos humanos. No caso da Síria, especificamente, nosso voto ocorreu em agosto de 2011, e a comissão teve como relator o Prof. Paulo Sérgio Pinheiro, um brasileiro. Em novembro do mesmo ano, na Assembleia Geral das Nações Unidas, votamos favoravelmente a uma resolução que condenava a violência que ocorria no país.
O acerto de nossa posição é bastante claro. No caso da Coreia do Norte, fizemos várias recomendações ao país, que, inicialmente, não mostrou avanços, mas vem alterando substancialmente sua postura e cooperou ativamente na RPU 2014, fato reconhecido no relatório final do CDH e compartilhado até mesmo por países como o Japão, que tem relação historicamente sensível com a Coreia do Norte.
O caso do Irã também demonstrou a importância de se manter o diálogo e procurar compreender o contexto dos demais países. Foi o Brasil o país que mediou a libertação de cidadãos franceses e americanos, a pedido desses países, sucesso fundamentado na relação de respeito mútuo cultivada com aquele país. Atualmente também se observam avanços: o Irã propôs recentemente cooperação com o Brasil em políticas de gênero e vem dando nova abordagem à questão dos costumes e à situação da mulher.
Com relação à Venezuela, não houve iniciativa em foros multilaterais para tratar do assunto, que é fruto de uma crise política local. Nossa atuação, nesse caso, dificilmente poderia ser qualificada como omissa: o Ministro Figueiredo participou ativa e brilhantemente da mediação no âmbito da Unasul, integra a Comissão de Chanceleres que trata do caso e já viajou diversas vezes ao país vizinho. Essa posição, que, reitero, nada tem de omissa, contribuiu para que as partes iniciassem o diálogo.
Compreendo as posições das entidades de direitos humanos, e mesmo de nossa oposição. Compartilho, pessoalmente, algumas delas. Estar no governo, porém, exige extremo cuidado e noção da complexidade das relações entre países, relação que se desenvolve no longo prazo. Sanções e condenações retóricas pela imprensa somente afastam o interlocutor e pioram a situação; além disso, não poucas vezes servem a interesses não exatamente ligados aos direitos humanos.
O Brasil prefere apostar na cooperação, no diálogo e no multilateralismo para a promoção dos diretos humanos no mundo.


9. Qual a sua opinião sobre a tese da “responsabilidade ao proteger” lançada pelo Brasil na ONU com boa reação internacional de início, mas que depois não prosperou?

DR - A tese da “responsabilidade de proteger”, aprovada pela ONU em 2005, estipulava que, quando um estado nacional falha no seu dever de proteger seus cidadãos de genocídios, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade, a comunidade internacional pode, como último recurso (depois de exaurir todos os meios pacíficos), e somente com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, incidir sobre aquela situação específica, com o objetivo de proteger civis.
Essa ideia, em princípio nobre, tem servido em alguns casos para legitimar intervenções militares que agravam os conflitos em curso – em prejuízo dos próprios civis cuja proteção serviu de pretexto – e almejam mudanças de regime. Intervenções em desacordo, portanto, com o direito internacional.
É por isso que o Brasil propôs, em 2011, a noção de “responsabilidade ao proteger”, que qualifica e interpreta a “responsabilidade de proteger”. Nossa posição baseia-se nos princípios tradicionais da política externa brasileira, como a ênfase na diplomacia preventiva de conflitos, a prioridade aos meios pacíficos de solução de conflitos e o respeito ao direito internacional. Para o Brasil, o uso da força só pode ocorrer no marco do direito internacional, sempre com responsabilização e prestação de contas, e nunca para produzir ainda mais violência, mais instabilidade, mais danos à população.
O Brasil não abandonou, em nenhuma medida, essas ideias. O que mudou não foi a posição brasileira, mas o nível da violência, ampliado justamente pela irresponsabilidade no uso da força por parte de grandes potências.
O caso da Líbia é paradigmático. A noção de “responsabilidade de proteger” civis foi utilizada pela OTAN como justificativa para uma intervenção militar que extrapolou o mandato concedido pelo Conselho de Segurança da ONU para bombardear o país, armar milícias e promover mudança de regime.
Quando nos abstivemos na votação da resolução 1973 do Conselho, que autorizou a intervenção, alertamos que as medidas aprovadas iam além do chamado da Liga dos Estados Árabes pelo estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, e o uso da força poderia exacerbar tensões no terreno, causando mais mal do que bem aos civis e trazendo sérias repercussões para toda a região.
Passados três anos, nossas preocupações mostraram-se pertinentes. A Líbia vive, hoje, o pior cenário. A intervenção criou espaços de anomia e armou grupos radicais, favorecendo o terrorismo. Não promoveu os direitos humanos do povo líbio, que passou a estar sujeito, em escala inédita, ao caos decorrente da disputa de milícias – incluindo torturas, sequestros, estupros, prisões e execuções ilegais –, com crescente contingente de refugiados e deslocados internos. Deteriorou a economia do país e, portanto, as condições de sobrevivência material de um povo que antes desfrutava de um dos maiores IDHs da África (ainda que com os problemas conhecidos, incluindo a falta de democracia). Desestabilizou a região, com o afluxo de armas e mercenários, como demonstra a multiplicação de grupos terroristas na região do Sahel.
Observe-se que a mesma coisa ocorre, em diferentes graus, na Síria e no Iraque.
Em suma, é exatamente porque nos preocupamos com as condições de vida e os direitos humanos das pessoas que vivem em locais conflagrados que nos opomos, sistemática e consistentemente, a intervenções armadas à margem do direito internacional. Por mais complexas que sejam, somente soluções negociadas politicamente poderão superar os conflitos de forma duradoura e oferecer resposta adequada aos pleitos legítimos da população por liberdade e desenvolvimento.


10. A China deverá se tornar proximamente a maior economia nacional do mundo. Quais são as suas prioridades para a relação bilateral com esse país, do qual a vitalidade das exportações brasileiras tem se tornado quase dependente?

DR - Em 2014, as relações do Brasil com a China estão completando 40 anos, no marco de uma Parceria Estratégica Global sólida e promissora, calcada no diálogo e cooperação.
Nossas prioridades para o próximo período foram estabelecidas durante a visita de estado do Presidente Xi Jinping ao Brasil, em julho deste ano. São elas: a ampliação dos investimentos recíprocos; o estímulo a exportações brasileiras de maior valor agregado; a cooperação espacial, educacional e em ciência, tecnologia e inovação; e a coordenação em temas da agenda política e econômica mundial. Obtivemos avanços importantes em todas essas frentes.
A China é o nosso principal parceiro comercial desde 2009, com balança superavitária para o Brasil. Em 2013, nossa corrente de comércio beirou os 90 bilhões de dólares, número que seguirá crescendo. Na visita do Presidente Xi, o governo chinês anunciou a normalização da importação de carne bovina brasileira. A Embraer vendeu 60 aviões para companhias chinesas, um marco importante no sentido da diversificação das exportações brasileiras para aquele país.
É verdade que a China tem grande peso na importação de produtos brasileiros, assim como de produtos outros países. Essa maior integração comercial com a China não é uma exclusividade do Brasil. Trata-se de tendência mundial, derivada da ascensão econômica chinesa. Mas não considero o Brasil dependente de exportações para a China, ou para nenhum outro país. Pelo contrário, nossa política comercial sempre buscou diversificar as parcerias, justamente para evitar dependências. Isso nos permitiu atravessar a crise econômica de 2008 sem grandes abalos na balança comercial.
O Brasil é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina, tendo recebido aportes importantes em diversos setores, como petróleo, energia, alta tecnologia, tecnologias da informação e comunicação, automóveis, entre outros. Espero que empresas chinesas participem das licitações de projetos de infraestrutura e logística, especialmente no setor ferroviário, que propiciarão um salto de desenvolvimento no Brasil.
Aprofundamos a cooperação em ciência, tecnologia e inovação, incluindo biotecnologia, nanotecnologia e a troca de experiências entre parques tecnológicos. O programa CBERS, de cooperação espacial, lançará em breve seu próximo satélite. O programa Ciência sem Fronteiras apoia o crescente número de brasileiros que querem estudar na China. Nossa meta é chegar a cinco mil estudantes brasileiros naquele país, para o que contribuirá a ampliação do ensino do mandarim no Brasil.
A China está aprofundando suas relações com toda a América Latina e o Caribe e é um interlocutor importante do Brasil nos principais temas da agenda internacional, por meio do BRICS, do G20 e do BASIC. Atuamos em prol da reforma do FMI e do Banco Mundial e privilegiamos o multilateralismo nas relações internacionais. Vejo, portanto, perspectivas otimistas para as relações Brasil-China.


11. Qual a sua opinião sobre a importância do grupo BRICS para o Brasil e que relevância ele terá em seu governo?

DR - Creio que ninguém mais, hoje, questiona a importância do BRICS. A questão é como instrumentalizá-la de maneira a concretizar os objetivos constantes do primeiro comunicado do grupo, em 2009, quando reiteramos os objetivos de fortalecer o multilateralismo e revigorar o Direito Internacional, com papel central da ONU. Também mencionamos, naquela oportunidade, maior representatividade das economias emergentes nas discussões econômicas, e isso foi logo concretizado com a criação do G-20 “financeiro”. O grupo tem, ao mesmo tempo, uma funcionalidade instrumental, de sustentar e consolidar a cooperação sul-sul. Isso foi especialmente demonstrado na mais recente reunião do BRICS, a Cúpula de Fortaleza, organizada pelo Brasil.
A criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas foi reconhecida mundialmente como a mais importante iniciativa da economia global nas últimas décadas. Obviamente, estruturas recém-criadas exigem tempo de maturação e não se pode exigir efeitos imediatos. De qualquer forma, acredito que já não haja razão para dúvida sobre a disposição dos membros do BRICS de concretizar seus objetivos iniciais, já que esses dois mecanismos serão complemento essencial às atuais entidades de apoio ao desenvolvimento e à estabilidade macroeconômica do Sul do mundo. Aliás, a soma das reservas monetárias e dos fundos soberanos desses países é um dado incontestável do peso do grupo.
O BRICS também tem avançado em termos de concertação político-diplomática, tendo mantido grande sintonia nas crises mais recentes, como nos casos da Líbia e da Síria. O mundo multipolar só poderá ser um mundo de cooperação, um mundo efetivamente dotado de sistemas multilaterais, que evitem o uso da força sem autorização das Nações Unidas, ou em desrespeito aos mandatos recebidos.
Aqui entra a importância política do BRICS, dado seu potencial inestimável de capacidade político-diplomática, seja pela presença de membros permanentes do CSNU, seja pela capacidade de mediação e diálogo de Brasil, Índia e África do Sul. A articulação entre os países do BRICS não se limita ao próprio agrupamento, e ocorre também em outros fóruns, como G-20, a FAO, OMS, OIT.
Meu compromisso é o de dar continuidade ao aperfeiçoamento do BRICS como polo de estabilização da ordem mundial, complementar às antigas estruturas. Essas, como vemos diariamente, não são suficientes para conter as ameaças que colocam em risco vastas regiões do planeta, se não todo ele. Não podemos nos deixar levar pela crítica que se faz desde que o grupo foi criado, qual seja, a de que os países do BRICS são muito diferentes entre si. Esse argumento, que se aplica a quase todos os agrupamentos do mundo, é a negação do próprio conceito do multilateralismo, que é uma relação de coordenação permanente entre três ou mais Estados, para solucionar problemas sistêmicos.
O fato de ser conformado por países distintos, portanto, não é uma fraqueza, mas é o próprio sentido, a própria mensagem que o BRICS trouxe para o mundo. A interdependência do século XXI exige que, apesar de eventuais diferenças, busquemos incessantemente consensos em relação aos temas que somente juntos poderemos solucionar. Pensar de maneira diversa, priorizando sempre raciocínios binários ou confrontacionistas, de formação de alianças de países “iguais”, é ignorar as lições da História, especialmente aquelas trazidas pelas duas guerras mundiais do século passado.


12. Qual a sua opinião sobre o projetado Conselho Nacional de Política Externa que alguns pretendem criar?

DR - No que diz respeito à política externa, há que lembrar o papel relevante que vêm jogando as Comissões de Relações Exteriores do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Valorizamos muito esse papel fiscalizador e propositivo do Legislativo, nessa área.
Mas o Itamaraty já vem desenvolvendo um esforço, no sentido de ampliar sua interlocução direta com a sociedade civil. Neste ano, foram realizados os Diálogos de Política Externa e foram dados encaminhamento à produção do Livro Branco da Política Externa.
A política externa, como tantas outras, é uma política pública. A criação e ampliação de espaços democráticos de participação da sociedade civil junto ao governo é sempre bem-vinda. Evidentemente, esses espaços devem ser plurais e contemplar os diversos setores da sociedade, como aliás é o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. As responsabilidades quanto à definição e implementação de política externa continuarão a ser da Presidência da República e do Itamaraty. Mas a existência de organismos consultivos é sempre positiva.
É assim no plano das políticas internas, é assim no contexto da política externa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ser ou (não) ser Diplomata?! - Parte 2

A definição do Barão sobre o que é ser Diplomata torna-se uma exigência, já que ele é o patrono da Diplomacia brasileira.
 

1)"Um Diplomata não serve a um regime e sim ao seu país."


 As semelhanças entre o soldado e o diplomata:
 2) "(...)são sócios, são colaboradores que se prestam mútuo auxílio. Um expõe o direito e argumenta com ele em prol da comunidade; o outro bate-se para fazer vingar o direito agredido, respondendo à violência com a violência. " ( DE ARAÚJO, Luiz Assumpção. In: http://funag.gov.br/loja/download/978-Obras_do_Barao_do_Rio_Branco_IX_discursos..pdf)



"Retrato do Barão do Rio Branco"- Cadmo Fausto de Souza (1942)


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Ser ou (não) ser Diplomata?! - Parte 1


Aqueles que estão interessados em saber, de forma embasada, o que é ser um Diplomata de Carreira, reproduzo na íntegra o texto do Diplomata Paulo Roberto de Almeida. Embora tenha sido redigido há 8 anos, ainda abarca uma noção prática; realista; pragmática e afins, sobre essa profissão. Recomendo fortemente para os Cacdistas. Aproveitem!


O Ser Diplomata
Reflexões anárquicas sobre uma indefinível condição profissional

Reflexões sobre a profissionalização em relações internacionais,
na vertente diplomacia, para palestra em 4 de maio de 2006
(Ciclo de Debates da Pacta Consultoria, Brasília, dia 4/05, às 19h30).


Diplomata Paulo Roberto de Almeida

 
1) Não se é diplomata, acredito, como se é economista, ou advogado, ou médico. Nós, diplomatas, não pertencemos a nenhuma guilda medieval, a nenhuma corporação de ofício, a nenhuma ordem feita de requisitos estanques, ainda que muitos nos comparem a uma casta, ou a um estamento social, numa acepção bem mais difusa deste conceito weberiano. Ou seja, ser diplomata não é simplesmente uma questão de profissão; é uma vocação, uma questão de status, quase que uma missão, o chamado calling, examinado por Weber em seu famoso estudo sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo.
 
 
2) Ser diplomata não é apenas uma questão de nomadismo, de gostar de viajar ou de viver fora do país; ser diplomata é ser, antes de mais nada, um ser com raízes na sua terra, um servidor público na acepção mais completa dessa palavra, um funcionário do Estado, antes que de um governo e, como tal, estar identificado com a nação ou com a sociedade da qual se emergiu, na qual nos formamos e para a qual desejamos legar uma situação melhor do que aquela que recebemos de nossos pais e antecessores.
 
 
3) Ser diplomata não resulta, simplesmente, de um treinamento ad hoc, adquirido num desses cursinhos preparatórios de seis meses ou um ano, feitos de muita decoreba, alguma simulação para os exames e uma leitura sôfrega da bibliografia recomendada, por mais que ela seja ampla. Ser diplomata resulta de uma preparação de longo curso, adquirida no contato constante com uma cultura superior à da média da sociedade, no cultivo da leitura descompromissada com a aquisição de qualquer saber instrumental, resulta da curiosidade atemporal por todas as culturas e sociedades, passadas ou presentes e, sobretudo, da contemplação ativa da realidade, daquilo que um dramaturgo brasileiro famoso, Nelson Rodrigues, chamava de “a vida como ela é”.
 
 
4) Ser diplomata não é estar ou viver obcecado pela diplomacia, fazer dessa atividade o seu último ou supremo objetivo de vida, a sua única ocupação possível ou imaginável, sem outros afazeres ou hobbies. Ser diplomata, ser um bom diplomata significa, também, fazer algo mais no seu itinerário de vida, ter uma outra ocupação, uma distração, um divertissement, ou hobby, outras obsessões e amores na existência, de maneira a poder enfrentar a diversidade da vida, inclusive os altos e baixos da própria diplomacia, quando descobrimos que nem todo diplomata é exatamente um diplomata, naquela acepção que emprestamos ao termo. Ser um bom diplomata é se ver imaginando que, “se eu não fosse diplomata, o que mais, exatamente, eu gostaria de ser?; de onde mais eu poderia tirar motivos de satisfação, aonde mais eu poderia colaborar, com pleno gosto, com a sociedade na qual me formei, no país onde vivo?”. Se soubermos bem responder a esta questão, “o que eu faria se não fosse diplomata?”, já se tem meio caminho andado para ser um bom diplomata...
 
 
5) Ser diplomata é saber se colocar acima das paixões e dos modismos do presente, transcender interesses políticos conjunturais, em favor de uma visão de mais longo prazo, afastar posições partidárias ou de grupos e movimentos com inserção parcial ou setorial na sociedade, em favor de uma visão nacional e uma perspectiva de mais longo prazo. Significa, sobretudo, contrapor às preferências ideológicas pessoais, ou de grupos momentaneamente dominantes, ou dirigentes, uma noção clara do que sejam os interesses nacionais permanentes.

Muito bem, uma vez dito o que acabo de expor, o que mais eu poderia dizer a vocês, ávidos de uma legítima curiosidade sobre os segredos da carreira diplomática, sobre o que é ser diplomata, enquanto profissão, enquanto vocação?
É claro que tudo começa em poder ser diplomata, em poder ingressar na carreira, em passar pelo crivo dos exames de entrada, dos requisitos de desempenho na soleira da profissão, ou seja, ultrapassar a porteira da entrada do concurso público: aberto, secreto, universal (ou quase).
Para isso, minha primeira e principal recomendação seria: pense numa preparação de longo curso, de longue haleine, diriam os franceses. E, sobretudo, pensem numa formação essencialmente autodidata. Isto por uma razão muito simples: por melhor que seja um curso universitário, e certamente existem dos bons, dos maus e dos feios, as “faculdades Tabajara”, como dizemos, por melhores que sejam esses cursos, eles nunca vão dar a vocês tudo aquilo de que vocês necessitam para entrar e para ser, já não digo um diplomata prêmio Nobel, mas um bom diplomata, de primeira linha. Quem vai prover o essencial da formação de vocês, são vocês mesmos, é o esforço individual, é o empenho pessoal no auto-aperfeiçoamento, no estudo voluntário, na pesquisa constante.
Em segundo lugar, eu diria que o recomendável seria ter a diplomacia como uma aspiração e, ao mesmo tempo, preparar-se para uma profissão “normal” – não que a diplomacia seja “anormal”, mas ela é relativamente excepcional, só uns poucos são chamados a exercê-la e seria uma pena que todos os demais, não chamados a servir o país nessa área, vivam uma existência de adultos frustrados, de profissionais desgostosos com o que foram levados a trabalhar. Por isso, eu colocaria a diplomacia numa espécie de Gólgota algo inatingível, uma montanha escarpada à qual se ascende com certo sacrifício pessoal (em alguns casos familiar, também), uma recompensa depois de muita labuta. Profissionais que já conheceram experiências diversas na vida civil costumam fazer bons diplomatas; o que não quer dizer que aqueles jovens saídos dos bancos universitários diretamente para a carreira não façam, ou não sejam, bons diplomatas; ao contrário: bem vocacionados, eles farão tudo o que estiver ao seu alcance para bem servir ao Estado e à nação. Mas, alguém dotado de competências outras que não as simples artes diplomáticas – que são as da representação, da informação e da negociação, todos sabem – alguém assim saberá servir ao país com vários outros instrumentos e ferramentas adquiridos na vida prática, seja na veterinária, na engenharia, na agronomia, na economia doméstica ou no corte e costura, whatever...
Em terceiro lugar, eu diria que existem muitas formas de trabalho profissional e de expressão individual dentro das relações internacionais, dentro e fora da diplomacia, estrito senso. Existe a diplomacia empresarial, existe uma diplomacia do agronegócio, uma diplomacia das ONGs, dos jogadores de futebol – hoje um dos principais itens de exportação da pauta brasileira –, assim como existe uma diplomacia na própria academia, mas ela costuma ser das mais chatas, com suas vaidades e torres de marfim. Tudo é uma questão de competência e de dedicação. Sendo competentes na atividade que escolheram e estando contentes no desempenho quiçá temporário daquilo que estão fazendo, vocês serão felizes na vida, farão os outros felizes, e lutarão, talvez, pelo ingresso na carreira com a tranqüilidade que um exame desse tipo requer, não com o desespero ou a obsessão de uma batalha de vida ou morte. Sejam competentes e desempenhem as tarefas nas quais se encontram engajados e vocês já serão bons diplomatas, em qualquer hipótese e em qualquer profissão onde estiverem efetivamente colocados.
Minha mensagem central é justamente esta: o diplomata já é um ser realizado na vida, feliz consigo mesmo, confiante em seus estudos e em sua capacidade; conhecedor do mundo, mesmo que nunca tenha viajado de avião; curioso de todas as artes, mesmo que tenha estacionado num escritório durante vários anos; crítico dos seus professores, mesmo que nunca tenha ousado contestá-los em classe; anotador de livros; recortador de notícias de jornal e de páginas de revista; invasor de bibliotecas; delinqüente reincidente na arte de ler livros em livrarias – o que eu já fiz milhares de vezes –, enfim, uma pessoa totalmente à vontade nas artes do impossível e apaixonada por novos desafios.
Se vocês são um pouco assim, mesmo de forma distraída, desajeitada, totalmente sbagliatta, como diriam os italianos, se vocês também acham que sabem mais do que o chefe, então vocês já são diplomatas, só falta agora ingressar na carreira. Mas isso é uma mera formalidade.

Por fim, e termino aqui esta preleção, caberia abordar a carreira pelo lado prático: uma vez dentro da diplomacia, o que fazer exatamente? Ao lado, das missões clássicas, e tradicionais, do diplomata – que são as de informar, representar e negociar, sobre as quais não me estenderei por sua obviedade elementar –, existem aqueles que acreditam que o diplomata deve igualmente participar de uma espécie de projeto nacional, e aí sua missão seria, não apenas participar e contribuir para o processo de desenvolvimento do país, mas também engajar-se ativamente na transformação do mundo, de maneira a que este sirva, de maneira mais adequada, aos objetivos nacionais de desenvolvimento.
Sou cético quanto a essa extensão indevida das funções do diplomata, ainda que eu reconheça que nossas capacidades analíticas e por vezes executivas possam ser tão boas quanto as de qualquer especialista em políticas públicas. Defendo que o diplomata seja excelente nas suas funções tradicionais e, se possível, agregue valor ao seu trabalho pela dedicação paralela a atividades de pesquisa, similares, em grande medida, às que são conduzidas no âmbito da academia. Existe, obviamente, grande interface e uma notável similitude de métodos entre o trabalho acadêmico e o diplomático, naquilo que se refere à elaboração de estudos, position papers, diagnósticos de situação, reflexões prospectivas e tudo o mais que possa identificar-se com o processamento de informações. O diplomata, contudo, à diferença do seu colega de academia, não se limita a processar informações, ele as utiliza para elaborar posições negociadoras, para propor posturas práticas que o seu país deva assumir nos foros mundiais, nas relações bilaterais, nos desafios do sistema internacional.
Em determinadas instâncias negociadoras, o diplomata pode até ficar, no terreno de batalha, sem instruções precisas da capital quanto a que atitude adotar. Ele deverá portanto contar com todo o seu tirocínio e conhecimento do problema em causa, de molde a poder defender o interesse nacional da melhor forma possível. Na capital, ele deverá, na elaboração de posições, mobilizar todos os recursos técnicos e humanos de diferentes agências governamentais e alguns até privados, de maneira a extrair, na postura negociadora, o máximo de benefícios para o país num determinado contexto negociador.
Em última instância, a matéria-prima essencial do diplomata é a inteligência, e isso não depende de nenhuma fonte externa, mas de sua própria capacidade em acolher todo tipo de conhecimento e colocar essa informação a serviço de seu país.
Abraçando a carreira diplomática, vocês abordam uma carreira aberta sobretudo à inteligência. Cada um deve confiar em sua própria capacidade de trabalho e abrir-se o tempo todo a novos conhecimentos.
Muito obrigado...

Vôo São Paulo-Brasília (Gol 1778), 2 maio 2006, 4 p.
Revisão em 4.05.06. (1591).

 Retirado : http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2009/02/1023-ser-diplomata-para-os-candidatos.html#sthash.0kluulmC.dpuf

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Relação Internacionais, por CEBRI


Cacdistas,

Achei um site interessante para baixar obras sobre Relações Internacionais. Sugiro que busquem fazer um garimpo pelas obras que perpassam o edital de Política Internacional. A título de exemplo, baixem o artigo acerca da Política Externa Brasileira mais atual, quase que simultaneamente ao que ocorre no Itamaraty no tempo presente, já que aborda os últimos anos (2013-2014). Ou esse aqui, sobre as Relações Internacionais do Brasil (especificamente, com Argentina e China) , ao meu ver, muito atual e embasado, já que 3 Embaixadores renomados assinam artigos.

Link: http://cebri.org/publicacoes/

domingo, 7 de setembro de 2014

Independência ou Morte!

"Grito do Ipiranga", obra de Pedro Américo, 1888
Hoje comemora-se 188º aniversário da Independência do Brasil. Mais que apenas um ato simples e reacionário, como dizem alguns historiadores, o processo de emancipação política trouxe novas problemáticas para a formação do Estado brasileiro,  como por exemplo, a produção de uma Constituição (1824), que por sinal mesclava o que havia de mais moderno no ocidente europeu, como a garantia da educação primária, mas ao mesmo tempo, era retrógada, já que nem todos tinham direito ao voto (escravos e mulheres não são proibidos na lei, mas socialmente sim, já que só exerciamos direitos políticos,quem tivesse uma renda mínima anual). Para além desses avanços e recuos, é importante compreender que o processo de independência, foi um caminho fundamental para o nascimento de um país soberano, ainda que ligado fortemente aos lusitanos (D. Pedro I, como príncipe regente do Brasil e de Portugal). Essa escolha não foi apenas uma vontade política de uma meia dúzia que comandava a economia, como alguns sugerem. Mas como aponta Boris Fausto, foi um lugar permeado de resistência e debate dos mais variados projetos, desde a elite portuguesa em Portugal e a do Brasil, passando pela classe mercantil "proto brasileira", e sobretudo, uma camada média e pobre da população que se envolveu nas guerras da Independência, nos Estados do Pará, Piauí, Maranhão, Bahia, e etc.


Abaixo um pequeno poema comemorativo da data:
D.Pedro I, o Libertador do Brasil. Autor: Benedito Calixto



Era arroio humilde e pequenino,
A deslizar, tranquilo e mansamente
Sem ideais e sem destino,
Sem ambições no coração de água corrente.
-
Boiadeiros, tangendo, nas estradas,
Cansadas reses, em jornadas lentas,
Buscavam-te por vezes.  E as boiadas
Bebiam, ávidas, sedentas,
Tuas águas barrentas.
-
Ipiranga, outro préstimo não tinhas.
Riacho, ribeiro, córrego, regato…
Jamais se soube de onde vinhas,
A serpentear dentro do agreste mato.
-
Jamais se soube aonde ias,
Rolando molemente nos calhaus,
A tua vida sempre igual, todos os dias,
Sem dias bons, sem dias maus.
-
No teu sono de rio preguiçoso
Não pensaste, jamais, que, num surto triunfal,
Chegarias a ter neste apogeu glorioso
Os fidalgos brasões de nobrreza fluvial.
-
E em radiosa manhã de setembro, eis que, ousado,
A tua timidez de córrego abandonas
E penetras na história audaz, transfigurado
Em possante caudal, desafiando o Amazonas.
-
E do teu curso, então, muda-se a trajetória;
E demarcas com ela, heril e sobranceiro,
Nos novos mapas da brasileira história.
A linha divisória
Entre Brasil-colônia e o Brasil brasileiro.
-
Ipiranga! Que importa, acaso, a procedência
A origem do teu nome?  Ipiranga, em verdade,
No idioma do Brasil traduz Independência,
Na língua nacional quer dizer: Liberdade!
-
Rio imenso, o Brasil cortas de sul a norte
E entram pelos sertões teus afluentes, aos mil.
Na voz d’água clamando.  Independência ou Morte.
Nas cachoeiras cantando o nome do Brasil.
-
-
Em: Antologia Poética, Bastos Tigre, 2 vols, Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves: 1982.
 

sábado, 6 de setembro de 2014

Programa Diplomacia

O Embaixador creditado no Brasil da Índia, Ashok Tomar, em entrevista ao Programa Diplomacia-Agosto

O programa Diplomacia da Tv Senado, lançou em Agosto último, o seu programa mensal de Política Internacional. Aproveitando a recente reunião dos Brics, em Fortaleza, a coluna "Dossiê Diplomático" entrevista o Embaixador no Brasil da Índia, Ashok Tomar, sobre temas relevantes na agenda bilateral e multilateral, como por exemplo, a corrente de comércio entre os dois ao redor de 12 a 15 bilhões de dólares, ou ainda, o impacto da criação do Banco dos Brics e do contigente de reservas. Além disso, as colunas culturais são um aperitivo delicioso para o final de semana. A tríade, música (Banda Los Trés, Chile), literatura (História da Civilização Brasileira-Pedro Calmon) e finalmente, cinema (documentário, Funai, sobre índios isolados no país) respondem pelo adjetivo posto acima.

Atenção aos cadistas! Prestem atenção a matéria da rota bioceânica, porque é útil para prova de Geografia/Política Internacional. Esse projeto de infraestrutura prevê a ligação dos Oceanos Atlântico e Pacífico através de um conjunto de rodovias e ferrovias. A logística brasileira no projeto pretende criar 3 rotas, obviamente com o objetivo em ter acesso ao Oceano Pacífico. Porém, dentre seus objetivos mais específicos, a integração entre as cadeias produtivas do extremo Sul (Chile, Argentina e Bolívia) prometem reduzir custos de produção.


Links:

           Parte 1- Programa Diplomacia- Agosto


         Parte 2- Programa Diplomacia - Agosto

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Guerra do Paraguai por Francisco Doratioto

 

Nova História da Guerra do Paraguai
Entrevistamos o historiador Francisco Doratioto, professor da Universidade de Brasília. Doratioto é um dos principais expoentes da chamada “Nova História da Guerra do Paraguai”. Em 2014, o conflito sul-americano completa 150 anos de seu início.
Com um trabalho baseado em farta documentação, Francisco Doratioto, professor da Universidade Nacional de Brasília e do Instituto Rio Branco, se tornou um dos principais especialistas em História da Guerra do Paraguai. Mais do que batalhas e personagens, suas pesquisa trazem o lado humano, social e político do conflito. Em 2002, Doratioto lançou pela Companhia das Letras o livro “Maldita Guerra”, que rapidamente se tornou um livro de referência na área, especialmente daquilo que convencionou chamar de “nova história da Guerra do Paraguai”. Se você ainda acha que o Brasil foi forçado a fazer a guerra pelo imperialismo britânico ou que o Paraguai era uma ilha de prosperidade que ameaçava ingleses na América do Sul, você vai se surpreender.
Bruno Leal: Professor, em abril de 1863, no Uruguai, o Partido Colorado, apoiado pelo Brasil Imperial e pela Argentina de Bartolomeu Mitre, se rebelou contra o Partido Blanco, eleito em 1860. Acuados, os blancos, então, foram atrás do apoio de Solano López, presidente do Paraguai. Um ano depois começava a Guerra do Paraguai, conflito que durou seis anos e que neste ano de 2014 completa 150 anos de seu início. Por que o Paraguai (Solano López) apoiou os blancos contra oponentes tão poderosos? Até que ponto esta decisão se deu pela oportunidade do Paraguai conquistar acesso ao mar e/ou pelo medo de um provável desmantelamento das nações menores do Cone Sul, oriundo de uma aliança entre Brasil e Argentina?
Francisco Doratioto: Não se tem certeza sobre a motivação do Francisco Solano López em envolver-se na questão uruguaia; não temos documento escrito ou testemunho que permita dar uma resposta taxativa. No entanto, há uma concordância de que interessava a López a manutenção dos blancos no poder em Montevidéu, de modo a utilizar este porto para o comércio externo paraguaio, de modo a dar continuidade à inserção do Paraguai no comércio internacional iniciada no governo de Carlos Antonio López. Os blancos procuraram, é verdade, convencer López de que a Argentina e o Brasil pretendiam pôr fim à independência do Uruguai, dividindo entre si o território uruguaio e, depois, se voltariam contra o Paraguai. Teria ele acreditado nisso? Possivelmente não, mas com certeza se deu conta que a derrota dos blancos uruguaios fragilizaria o Paraguai frente à Argentina e ao Império, que passariam a atuar coordenadamente no Prata em lugar de rivalizarem-se e isso quando ambos tinham litígio de fronteiras com o país guarani.
Bruno Leal: Nas décadas de 1960 e 1970, uma certa leitura historiográfica obteve bastante êxito ao explicar a Guerra do Paraguai como fruto imperialismo inglês na região do Cone Sul, como se o Brasil tivesse sido arrastado para a guerra por uma Inglaterra temerosa com o crescimento econômico do Paraguai na região. O senhor é bastante crítico desta teoria, não? Qual foi exatamente o papel da Inglaterra no conflito e porque essa teoria teve e ainda tem tanto sucesso?
Francisco Doratioto: Não sou eu que sou crítico a essa explicação mas, sim, os fatos. Não existe lógica e nem um fiapo de prova nesse sentido. Ademais, não sou o único que afirma isso; outros colegas no Brasil e em outros países também criticam essa explicação. Quanto à Inglaterra, há que se distinguir o seu governo de seus banqueiros. O governo inglês manteve-se neutro no conflito – aliás, foi ele que tornou público o Tratado da Tríplice Aliança, que era secreto -, enquanto seus diplomatas no Rio da Prata eram antipáticos à Solano López, pelas características da ditadura que ele impunha ao Paraguai. Já os banqueiros ingleses fizeram o que todo banqueiro faz: tentaram ganhar dinheiro com a guerra. Assim, emprestaram dinheiro para aqueles governos que tivessem condições de pagar os empréstimos, ou seja, para o Império e para a Argentina, mas não para o Paraguai. Registre-se, porém, que apenas uns 12% dos gastos brasileiros com a guerra foram financiados por esses empréstimos, enquanto o restante foi obtido internamente por meio de impostos, empréstimos, desvio de recursos do orçamento público, etc.
Bruno Leal: Professor, é bastante conhecida a participação de negros, ex-escravos ou não, na Guerra do Paraguai. Na historiografia sobre o tema, no entanto, parece não haver um consenso quanto ao número de soldados negros na frente de batalha. Como o senhor avalia a participação desse contingente na Guerra do Paraguai? A vitória do exército brasileiro na guerra impactou na forma como o negro ou mesmo a escravidão era vista pelas elites do país?
Francisco Doratioto: A falta de consenso não é somente quanto ao número de soldados negros na guerra, mas quanto ao número de brasileiros que foram para a guerra. Se fala de 100.000 até 150.000; também não sabemos ao certo qual foi o número de mortos brasileiros, com os estudiosos citando algo entre 50.000 e 100.000, uma enormidade se considerarmos que o Império tinha 9.000.000 de habitantes (cerca de um terço da população escrava). O Conde d’Eu elogiou o valor da participação dos “zuavos” na guerra, enquanto Caxias e outros chefes militares, em suas correspondências privadas, criticaram os negros. Suspeito que negros e brancos não se diferenciaram muito: a guerra foi duríssima, as condições do teatro de operações eram terríveis e, a partir do final de 1866, o desalento era geral, independente da cor da pele do soldado brasileiro.
Bruno Leal: Quando o assunto é Paraguai, fala-se muito na destruição do país após os anos de conflito, desde a destruição completa de cidades até a morte de boa parte de sua população, passando por operações que hoje, talvez, poderia ser classificadas como “crimes de guerra”. O que há de exagero e o que há de real nessas imagens de terra arrasada?
Francisco Doratioto: Seria um anacronismo falar em “crimes de guerra”. Esse é um conceito desenvolvido no século XX; no século XIX era comum o saque, os abusos contra mulheres e civis em geral, a morte do prisioneiro ou seu uso em trabalho forçado. Os paraguaios saquearam Corumbá e Uruguaiana, perpetraram violências contra os civis e, ainda, contra prisioneiros. As forças brasileiras saquearam Assunção e também fizeram violências prisioneiros e civis. Após 6 anos de guerra o Paraguai ficou, de fato, arrasado. Há polêmica sobre qual seria o número de habitantes do país no pré-guerra, mas há concordância percentual, ou seja, de que o país perdeu mais de metade da população e mais de 2/3 dos homens. No entanto, tal qual ocorreu entre as forças Aliadas, a maior parte da mortandade paraguaia foi causada por doenças ou fome, esta decorrente da migração imposta por López que obrigava a população a ir para o interior do país, na medida em que as forças aliadas avançadas. Era uma política de terra arrasada, ou seja, de esvaziar o território paraguaio de recursos humanos e alimentícios para que os soldados aliados que avançavam não os utilizassem no esforço de guerra.
Bruno Leal: Embora a guerra tenha terminado em 1870, O Brasil manteve um efetivo de aproximadamente 2 mil soldados no país por seis anos. Esse é um dado que nem todos conhecem. Professor, o senhor pode falar mais um pouco dessa ocupação? Quer dizer, porque um período tão longo? O Paraguai perdeu sua autonomia política neste período? Qual era a missão das forças brasileiras em solo paraguaio no pós-guerra?
Francisco Doratioto: Entre 1870 e 1876, o Paraguai foi praticamente um protetorado brasileiro. O governo imperial agiu para evitar que se instalasse no país um governo que fosse composto por homens favoráveis ao fim de sua independência, mediante a incorporação à Argentina. Os governantes brasileiros estavam convencidos de que esse era o plano do governo argentino e nesse período agiu para conter a influência argentina no Paraguai. Além de uma eficiente ação diplomática nesse sentido, o Império se respaldava em uma Divisão de Ocupação, aquartelada a poucos quilômetros de Assunção. Para o governo imperial essa tropa, um instrumento de manter a ordem política em Assunção, favorável ao Brasil, e, ainda, para impedir uma eventual ação sustentada pela Argentina no sentido de impor pela força um governo paraguaio com homens que fossem favoráveis a ela.
Bruno Leal: Geralmente, conflitos contra países estrangeiros produzem sentimentos nacionalistas, criam comunidades imaginadas, enfim, geram sentimentos de unidade. A Guerra do Paraguai gerou esse tipo de sentimento no Brasil?
Francisco Doratioto: Não vejo que isso tenha ocorrido de forma significativa, inclusive porque a guerra tornou-se impopular e, a partir de 1868, todos eram favoráveis a uma solução negociada, inclusive Caxias. No entanto, Pedro II exigiu que a guerra terminasse somente quando fosse cumprido o que estabelecia o Tratado da Tríplice Aliança, ou seja, a saída de Solano López do poder.
Bruno Leal: Professor, quais eram as principais leituras historiográficas sobre a Guerra do Paraguai quando o senhor começou a pesquisar o tema? Em que medida os seus trabalhos divergem destas leituras?
Francisco Doratioto: Na realidade, minha única leitura era a que eu tinha feito no curso de graduação em História, no final dos anos 1970: a guerra tinha sido causada pelo imperialismo britânico e Brasil e Argentina tinham sido marionetes dos interesses ingleses. Eu dei aula no 2º. Grau, em São Paulo, apresentando essa explicação! Posteriormente, fui fazer meu Mestrado na Universidade de Brasília e o tema que propus inicialmente era sobre as relações entre o Brasil e o Paraguai no pós-guerra pois, pensava eu então, o que ocorrera na guerra já se sabia. No entanto, ao ir às fontes primárias (documentação diplomática brasileira e argentina) percebi que eu tinha de entender qual tinha sido o relacionamento entre Brasil e Argentina durante a guerra, para poder compreender a origem e a lógica da disputa entre os dois países pela influência sobre o Paraguai no pós-guerra. Fui, então, ler a documentação sobre a guerra e seu contexto e ela desmentia o que revisionismo brasileiro afirmava, quer quanto ao suposto imperialismo inglês, quer quanto à leitura maniqueísta de que Francisco Solano López tinha sido um governante progressista, quase socialista, vítima de seus dois poderosos vizinhos. Esse revisionismo, em sua versão mais maniqueísta, apresenta a guerra quase como uma disputa entre um “mocinho”, López, e bandidos, a Argentina e o Brasil.
Bruno Leal: Em geral, conhecemos o que a produção historiográfica brasileira produz sobre a Guerra do Paraguai. Como o tema é tratado, de uma forma geral, atualmente, pela historiografia de países como Argentina, Uruguai e Paraguai? Há grandes diferenças de abordagem em comparação com o Brasil?
Francisco Doratioto: No Brasil, no meio acadêmico, há consenso entre historiadores que se dedicam ao estudo da guerra de que suas origens se encontram no próprio processo histórico regional e não no imperialismo inglês. Na Argentina, no Uruguai e no Paraguai essa interpretação também está presente entre os maiores estudiosos do conflito, mas há personagens influentes, nem sempre historiadores, que persistem na explicação imperialista. Para tanto há, inclusive, motivos políticos, como é o caso do governo argentino que estimula a interpretação revisionista por ser antiliberal quando o peronismo também o é. O mesmo ocorre no Paraguai, onde a mistificação da figura de López, de sua ditadura e de seu papel na guerra, tornou-se ideologia oficial da ditadura de Alfredo Stroessner. Um ditador buscou legitimidade em outro... A redemocratização paraguaia alterou um pouco essa situação, mas, afinal, Solano López foi construído como herói nacional nos governos de três militares: Rafael Franco, em 1936; Higino Morínigo (1941-1948) e Alfredo Stroessner (1954-1989).
Bruno Leal: Professor, sabemos que há uma defasagem significativa entre aquilo que é produzido em âmbito acadêmico e aquilo que está nas salas de aula. Que leituras tradicionalistas ou já questionadas por pesquisas acadêmicas sobre a Guerra do Paraguai ainda sobrevivem no ensino de história?
Francisco Doratioto: Não tenho acompanhado diretamente essa questão; sei dela por meio de meus ex-estudantes, que hoje são professores, e alunos que fazem estágio nas escolas de primeiro e segundo grau. Noto que há, crescentemente, o abandono da explicação imperialista e um ou outro livro didático que ainda a sustenta. Na realidade, há uma grande defasagem cronológica do que é produzido pela historiografia acadêmica ser incorporado no ensino fundamental e secundário. Em parte isso se explica pela dificuldade que o professor desses níveis de ensino tem para atualizar-se. Esse professor é um verdadeiro herói, pois para sobreviver tem de dar uma enormidade quantidade de aulas semanais, não lhe restando tempo para fazer cursos de atualização ou recursos financeiros para comprar livros com os avanços historiográficos. Vejo, porém, que as novas gerações de professores já tiveram acesso, nas Universidades, a esses avanços e, mais, estes já estão incorporados no conteúdo dos vestibulares em todo o país.
Bruno Leal: Ano passado, o Museu Imperial, em Petrópolis, região serrada do Rio de Janeiro, fez um levantamento de mais de 3 mil documentos sobre a Guerra do Paraguai, muitos dos quais desconhecidos por boa parte dos historiadores. Entre o material, por exemplo, estão várias cartas de Solano López e um diário do Conde d’Eu. Professor, em que medida essa documentação pode acrescentar ou até mesmo mudar nossos conhecimentos sobre a história do conflito?
Francisco Doratioto: Toda documentação inédita e, mesmo, a releitura daquela já pesquisada pode trazer novas informações e, portanto, ampliar nosso conhecimento sobre a história da Guerra do Paraguai. Há vários aspectos dela a serem melhor estudados: estatísticos; financeiros; tecnologia do armamento empregado; processos decisórios; o papel dos negros, dos índios; questões de gênero, etc. Acredito que a nova geração de historiadores que hoje está fazendo Mestrado ou Doutorado produzirão trabalhos que avançarão no conhecimento sobre a guerra. Veja bem que utilizo a palavra “avançarão”, ou seja, não retornaremos à explicação imperialista e, menos ainda, à explicação “patriótica” que havia predominado antes. No entanto, por questão de justiça, quero ressaltar que mesmo no início do século XX, tivemos trabalhos muito cuidadosos sobre o tema como, por exemplo, o admirável “História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai”, do general Tasso Fragoso, ou as memórias do barão de Jaceguai.
Bruno Leal: E sobre a polêmica envolvendo a desclassificação de documentos sigilosos no Brasil sobre a Guerra do Paraguai? O senhor acha que medidas como essas são diplomaticamente delicadas ou deve-se mesmo tornar acessível todo tipo de material sobre a questão?
Francisco Doratioto: Essa é uma “lenda urbana”. Não existe um arquivo secreto “Guerra do Paraguai” no Arquivo Histórico do Itamaraty, mas isso é afirmado e reafirmado por aqueles que não são estudiosos do assunto. De todo modo, como historiador e cidadão sou favorável ao acesso a todos os documentos públicos, exceto aqueles que tratam de assuntos do presente que podem ocasionar graves danos à sociedade brasileira. É normal que seja sigilosa por algum tempo a documentação diplomática e aquelas referentes a negociações econômicas internacionais e à segurança do país. Nossa Lei de Acesso à Informação não encontra equivalente nos países vizinhos.
Bruno Leal: Professor, chegamos ao fim de nossa conversa. Para finalizar, voltemos a um dos motivos que nos motivou a procura-lo para a conversa: os 150 anos da Guerra do Paraguai. Que eventos importantes a respeito ocorreram ou ainda vão ocorrer este ano, tanto no âmbito acadêmico quanto fora dele? Como o senhor avalia esse momento de lembrança? A historiografia ainda pode revelar muito mais coisas sobre a guerra?
Francisco Doratioto: Há vários seminários sendo feitos no Brasil e a TV Escola, do MEC, apresentou um excelente documentário, em três episódios, sobre a guerra, com pesquisas realizadas em todos os países envolvidos na guerra. Sei que também está sendo produzido um documentário sobre o tema para o History Channel. Este momento e os próximos anos, até 2020, quando então teremos os 150 anos do fim da guerra, devem ser motivo de reflexão e de encontro dos países que participaram da guerra. Penso no que ocorreu na Europa, onde Alemanha e França preocuparam-se em entender a I e da II Guerra Mundial a partir da metodologia histórica e não de um nacionalismo pernicioso, mostrando o sofrimento de suas populações e seus soldados e as consequências dessas guerras. Essa postura favoreceu a integração europeia, a construção de um espaço de paz em um continente que, até então, vivenciara guerras seguidas desde a criação do Estado Nação. Também para nós, na América Meridional, a Guerra do Paraguai deve ser motivo de reflexão que permita-nos superar preconceitos e avançar no processo de conhecimento mútuo e de integração regional.

Francisco Doratioto: Possui graduação em História pela Universidade de São Paulo (1979), graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1982), mestrado em História pela Universidade de Brasília (1988) e doutorado em História pela Universidade de Brasília (1997). É Professor Adjunto, de História da América, no Departamento de História da Universidade de Brasília; atua no programa de Pós-Graduação em História da mesma instituição e leciona História das Relações Internacionais do Brasil e História da América do Sul no curso de formação de diplomatas do Instituto Rio Branco (Ministério das Relações Exteriores). Trabalha com História do Rio da Prata; História das Relações Internacionais do Brasil, com ênfase nas relações com os países da América Meridional, e com História Militar do Brasil. É membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; da Academia Paraguaya de la Historia, Paraguai, e da Academia Nacional de la Historia, Argentina, e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.


P.S: Retirado do blog Diplomatizando