sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Sobre paraísos


-É faz tempo...

-Faz.

-Talvez não conheça mais quem é você.

-Você acha? 

-Sim. Olha para você... Estás com ar, digamos, maduro.

-Sim, a vida voou na velocidade daquele dia...

-Quando você decidiu ir a procura do paraíso?

-Alguns dias encontrei-o, outros dias não. E senti...

-...falta? Bem, talvez a conexão tenha voltado...

-Não! Ela não é mais a mesma, pois não somos aqueles jovens de 15 anos atrás.

-E isso não lhe parece incrível? 

-De fato. Eu olho para você, e vejo algo que me fez falta.

-Eu também! Eu lhe peço desculpa ao sair pela porta e não ter voltado...

-Você foi em busca do seu paraíso!

-Mas eu nunca achei alguém...

-Olhe para mim e me diga que...

-Estou olhando. Seus olhos continuam grandes...e fazem aquela dilatação...

-Para você! 

-Sim. Eu voltei para buscar meu paraíso...

-Eu sei. E eu para (re) encontrar meu raio de sol que segue queimando...

-Com sorriso de lua minguante adocicado...


terça-feira, 8 de setembro de 2020

Pensadores da Diplomacia Brasileira - Parte 11


Nos início dos anos 70, o Brasil modificou sua presença internacional no mundo. A chegada do Chanceler, Azeredo da Silveira, reorientou o sentido da Política Externa Brasileira para algo mais universal e pragmático. De forma resumida, corrigiu os rumos em três agendas: as relações com os Estados Unidos, a África e o Oriente Médio. Na primeira, o relacionamento saiu de um "engajamento" para um "engajamento crítico". Na segunda, as interações se deram no apoio aos movimentos de independência africanos. No terceiro, apoio a solução de dois estados entre Israel e Palestina e condenou o sionismo. Em entrevista dada no final do seu mandato, Silveira falou de onde surgiu o termo, "Ecumenismo Pragmático". Na sua época de juventude, quando morou nos Estados Unidosentre 1937 a 1941, ele se encantou por uma construção ecumênica na Universidade de Stanford. Ele disse o seguinte sobre essa memória:


Uma coisa que me marcou muito nesse período foi a existência, bem no centro do campus da Stanford University, bem separado dos outros edifícios, de um templo ecumênico... Não estou me referindo a essas pequenas religiões que surgem nos Estados Unidos e no Brasil a toda hora, mas sim todos os cultos, o protestante, o católico, o judaico. Todos eles podiam realizar suas cerimônias religiosas nesse edifício, que tinha, do lado de fora, como tem até hoje, quatro anjos: Love, Hope, Charity and Faith. É só isso que tem escrito do lado de fora. Nunca me esqueci... Quando voltei, recentemente, a Stanford levei a May para conhecer o edifício, ele já estava cercado de vários outros. Esse ecumenismo - coisa que trazia dentro de mim, como se fosse uma semente, há muitos anos - acabou marcando toda a minha carreira e acho que acabou sendo, também, uma das marcas da política externa do período do Geisel.

 

Fonte: 
SPEKTOR, M. Azeredo da Silveira: um depoimento. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2010. p. 25.