sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pensadores da Diplomacia Brasileira - Parte 1

O Mural de Portinari rodeado por Embaixadores da ONU, no centro Cyro Freitas-Valle, o "Dragão da Rua Larga".

 
A Carta das Nações Unidas é o mais belo instrumento de cooperação internacional já concebido pelo homem, documento tão perfeito e equilibrado que os governos do mundo consentiram em tomar a medida inesperada de admitir que cinco dentre eles, em razão de serviços prestados na dominação do nazifascismo e da força e fidelidade que haviam demonstrado, assumissem a responsabilidade primordial pela manutenção da paz e da segurança mundial. Essa medida, Senhor Presidente, não foi tomada com facilidade, mas nós a adotamos porque depositávamos inteira confiança nos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. [...] Infelizmente, a União Soviética não se mostrou favoravelmente disposta nesse sentido. Em consequência, o medo da guerra, de uma nova guerra total, voltou a ser a constante obsessão de todos nós. E esta espécie de preocupação é sumamente nefasta, porque pode levar os povos a perderem fé nas Nações Unidas. (FREITAS-VALLE, Cyro. Novembro de 1949)


Cyro Freitas-Valle, poucos conhecem, foi o negociador brasileiro quando da criação da ONU, na Conferência de 1944, logo em seguida pleiteou um assento como membro permanente, que embora não tenha acontecido (o país conseguiu ser membro não-permanente, na primeira eleição), ainda sim demonstra a importância e a capacidade deste diplomata. Ademais, ele instituiu a tradição no seio da instituição, do país abrir a Assembleia-Geral onusiana. 

P.S: Hoje é aniversário das Nações Unidas! Nada mais justo que uma homenagem à altura...

terça-feira, 21 de outubro de 2014

5 obras fundamentais para você ler, Diplomata


Capa da Revista Sapientia, Nº 20

 
"Há muitas obras de qualidade no acervo bibliográfico da FUNAG que poderão contribuir para a formação dos postulantes à carreira diplomática. É difícil citar apenas cinco. Começaria por recomendar os Clássicos IPRI. A coleção é composta por doze livros. Representam obras essenciais para o estudo em profundidade das relações internacionais, em seus aspectos políticos, econômicos e jurídicos. Sua leitura amplia a capacidade de entender e formular conceitos, de refletir sobre os temas da política internacional. Essas publicações contribuem para desenvolver o pensamento nacional autônomo acerca das grandes questões com que se defronta a diplomacia brasileira, bem como no tocante às oportunidades para o Brasil no mundo globalizado. Dentre os doze livros, indicaria, para começar, a Política entre as Nações, de Hans Morgenthau.

A segunda obra que recomendaria são os três volumes já citados do Pensamento Diplomático Brasileiro. Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964), publicado em 2013 no contexto da II Conferência sobre Relações Exteriores, organizada pela FUNAG. Creio tratar-se de uma iniciativa bem sucedida de identificar os principais personagens e suas contribuições para uma narrativa das ideias e concepções fundadoras daquele pensamento no período.

Minha terceira sugestão seria o Brasil nas Nações Unidas, uma compilação de todos os discursos brasileiros proferidos na Abertura do Debate da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1946 a 2011, acompanhados de comentários elucidativos do Embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa. Trata-se de um livro de consulta necessária à compreensão da evolução do multilateralismo político advinda da palavra de presidentes e chanceleres brasileiros. Representa momento de rico simbolismo para a política externa e reflete a tradição de ser o Brasil o país que inaugura a parte mais importante das manifestações de alto nível dos países membros da ONU nas discussões em plenário da Organização.

Recomendo também a obra The Quest for Autonomy, de Andrew Hurrell, publicado em 2014. Hurrell é um teórico da escola inglesa, discípulo de Hedley Bull. Atraído pela busca de autonomia da política externa brasileira, veio ao Brasil nos anos 70 e 80 para analisar os fatores que respondem por sua formulação e execução. O trabalho tem o mérito adicional de constituir referência conceitual e metodológica para a elaboração de pesquisas e trabalhos acadêmicos dessa natureza.

Gostaria também de anunciar o lançamento do livro editado em meio eletrônico e disponível no portal da FUNAG a partir de pesquisa concluída pelo CHDD da correspondência oficial entre Rui Barbosa e o Barão do Rio Branco, no contexto da participação do Brasil na II Conferência de Paz da Haia, de 1907. A obra preenche lacuna de um século na historiografia e na memória diplomática brasileira. Recomendaria também sua leitura" (LIMA, Sérgio E. M. Revista Sapientia, N° 20, pp-12)


Revista Sapientia, Edição: 20

domingo, 19 de outubro de 2014

Brasil - Alemanha: Uma parceria estratégica (e nem tão fria...)

Angela Merkel e Dilma Roussef, retratam o dialogo continuo e profícuo entre Brasil e Alemanha


O Discurso proferido pelo Embaixador Eduardo dos Santos, ao meu ver, é uma síntese da relação bilateral Brasil-Alemanha, perpassando pontos históricos e atuais dos temas mais presentes. Ademais, abaixo deixo os órgãos oficias e seus pensamentos sobre essa relação.

P.S: Fichem tudo!
 
 
Intervenção do Senhor Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Eduardo dos Santos, no Encontro Brasil-Alemanha 2014: Visões e Revisões
 
Foi com grande satisfação que aceitei o convite do Embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa para abrir este Encontro Brasil-Alemanha 2014, e o fiz por dois motivos. Em primeiro lugar, por tratar-se de convite do Embaixador Seixas Corrêa, meu antecessor na Secretaria-Geral das Relações Exteriores e um dos diplomatas brasileiros mais destacados, há quase meio século servindo ao Brasil com seu saber, sua inteligência e seu espírito público. E, em segundo lugar, por vivermos momento de particular dinamismo nas relações entre Brasil e Alemanha.
Esse bom momento das relações bilaterais ficou mais uma vez evidenciado no último dia 21 de março, quando o Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado realizou sua primeira visita de trabalho a Berlim. Na ocasião, o Ministro Figueiredo e o Ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, tiveram a oportunidade de repassar a amplíssima agenda bilateral em todos os seus quadrantes – econômico, político, educacional, cultural, ambiental, energético, etc. – além de explorar novas possibilidades de cooperação em áreas como defesa e segurança cibernética, aprofundando a Parceria Estratégica que une os dois países.
A relação bilateral que temos hoje tem suas origens nos laços antigos e densos que Brasil e Alemanha construíram ao longo do tempo. Foi significativa a projeção que o mundo alemão teve entre nós desde que, com a Independência, passamos a ter no trono brasileiro uma Imperatriz Habsburgo, Dona Maria Leopoldina de Áustria. É notável o fato de que, com ela, chegada ao Brasil em fins de 1817, veio uma plêiade de cientistas, entre os quais os naturalistas von Spix e von Martius, cuja expedição épica pelos sertões teve o mérito de despertar nos círculos intelectuais alemães grande interesse pelo Brasil.
Permito-me destacar, ainda, que não foi menor o papel desempenhado por militares alemães, arregimentados pelo Major Anton von Schaeffer, na formação do Exército brasileiro. Dois deles, tenentes engenheiros Halfeld e Koeler, foram fundadores de Juiz de Fora e Petrópolis.
Recordo que as primeiras famílias de língua alemã vieram estabelecer-se no Brasil antes mesmo da Independência: primeiro, os colonos suíços, que fundaram Nova Friburgo, em 1818; depois, famílias propriamente alemãs, que se estabelecem em Ilhéus e São Jorge, na Bahia, ainda no reinado de Dom João VI. Em 1824, com a promulgação da primeira Constituição brasileira, foram eliminados os óbices legais à imigração de pessoas que professassem outra fé que não a católica romana. A nova Carta abriu as portas para a imigração de colonos da Alemanha setentrional, que se concentraram, sobretudo, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Estima-se que, hoje, quase 10 milhões de brasileiros tenham ascendência alemã.
Foi inestimável a contribuição desses primeiros alemães e de seus descendentes ao desenvolvimento do Brasil. Pelos conhecimentos que traziam consigo, pelo engenho que lhes era inato, exerceram papel fundamental na diversificação de nossa agricultura — de que é exemplo a introdução do cultivo do trigo —, bem como nos processos de urbanização e industrialização do Brasil. Se a instalação da siderúrgica Mannesmann (1954) e a inauguração da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (1959) constituem, por um lado, marcos essenciais de desenvolvimento industrial brasileiro, constituem também, por outro, capítulo central da reinserção internacional da indústria alemã no pós-guerra.
Parece-me natural que, em virtude dos laços humanos e econômicos criados pela via da imigração e dos investimentos, Brasil e Alemanha estivessem destinados à construção de uma parceria estreita entre si. Dois grandes marcos desse processo ocorreram ao longo da década de 70, com a então Alemanha Ocidental já plenamente reconstruída e o Brasil vivendo o chamado "Milagre Econômico".
Em primeiro lugar, Brasil e Alemanha desejavam criar mecanismos para gerir os muitos interesses convergentes e fazer frente às demandas decorrentes da presença do capital alemão no Brasil. Fizeram-no com a criação da Comissão Mista Brasil-Alemanha, em 1974, pela qual o empresariado dos dois países pôde apresentar suas percepções e pleitos diretamente a seus governos, os quais passaram a trabalhar coordenadamente para estabelecer um ambiente de negócios cada vez mais favorável.
Em segundo lugar, também em meados dos anos 70, o Brasil buscou na Alemanha o parceiro de que necessitava para um projeto verdadeiramente estratégico, qual seja a exploração pacífica da energia nuclear. Parcerias sólidas entre instituições de pesquisa científica e tecnológica e entre empresas dos dois países nasceram com o Acordo Nuclear de 1975.
Aos dois marcos referidos, agregaria um terceiro marco, que se revelou elemento potencializador da relação bilateral a partir de então. Refiro-me à criação do G4, em setembro de 2004, instância promotora do pleito de Brasil, Alemanha, Japão e Índia por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A criação do G4 dá-se em momento de auspiciosa convergência entre Brasil e Alemanha no campo da política exterior. Ao mesmo tempo em que o Brasil, com a economia em ordem, retoma uma política externa mais ativa e autônoma, também a Alemanha modifica a política exterior relativamente discreta que praticou desde a Segunda Guerra Mundial.
Este é, em linhas gerais, o alicerce sobre o qual se desenvolvem hoje as relações entre o Brasil e a Alemanha. Esse relacionamento singulariza-se por três características principais: (1) nossas relações econômicas são marcadas por diversidade e vigor excepcionais; (2) nosso diálogo político sobre temas de interesse mútuo e sobre os grandes assuntos da governança, paz, segurança e prosperidade globais é intenso e maduro; (3) nossa cooperação nos campos científico, tecnológico, educacional e cultural é significativa.
O reconhecimento, por ambos os países, da importância, variedade e intensidade de nossas relações bilaterais consubstanciou-se, em 2002, na sua elevação ao grau de Parceria Estratégica.
No plano político, nossas relações bilaterais são marcadas por ampla convergência de percepções, valores e interesses, o que tem permitido atuação conjunta em diversas questões globais, como o combate à fome, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a defesa do direito à privacidade na era digital.
Tal convergência reflete-se na elevada frequência de encontros de alto nível entre os mandatários do Brasil e da Alemanha nas últimas décadas. Recordo que a primeira visita realizada pelo Chanceler Federal da Alemanha a um país não europeu depois da reunificação, em 1991, teve o Brasil como destino. Desde aquela visita do então Chanceler Kohl, os contatos entre o Presidente do Brasil e o Chanceler Federal ou o Presidente da Alemanha têm-se dado, praticamente, em bases anuais — seja no Brasil, seja na Alemanha, seja à margem de encontros multilaterais.
A Presidenta Dilma Rousseff e a Chanceler Angela Merkel mantiveram, nos últimos três anos, quatro encontros bilaterais. Há a perspectiva de uma visita oficial da Chanceler alemã em meados do ano, e de elevação do diálogo bilateral ao status de Consultas Políticas de Alto Nível.
No plano econômico, recordemos que nossas trocas comerciais mais do que triplicaram ao longo da década passada, sendo a Alemanha, hoje, o quarto maior parceiro comercial do Brasil (depois da China, dos EUA e da Argentina) e nosso maior parceiro na União Europeia. Também é verdade, no entanto, que as cifras recentes, de 2012 para cá, registram uma perda de dinamismo em nossas trocas, que precisamos saber superar com alternativas inovadoras. Voltarei a este tema mais adiante.
É preciso que se diga que as relações econômicas Brasil-Alemanha vão muito além do comércio. As cerca de 1.600 empresas alemãs presentes, hoje, no Brasil, respondem por cerca de 8 a 10% do PIB industrial brasileiro. Somente no Estado de São Paulo, são mais de 800 empresas, que geram aproximadamente 250 mil empregos diretos. Pela eloquência desses números, faz sentido afirmar que São Paulo é a maior cidade industrial alemã fora da Alemanha.
Esse relacionamento intenso, no âmbito econômico, beneficia-se de um arcabouço institucional há muito consolidado. A Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica existe desde 1974, reunindo-se todos os anos, alternadamente, em um e outro país. Normalmente, cabe ao Secretário-Geral do Itamaraty e ao Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) chefiarem a delegação brasileira, ao passo que a delegação alemã é chefiada pelo Vice-Ministro da Economia e pelo Presidente da Federação das Indústrias Alemãs. Em 2013, tive a grande satisfação de presidir, em São Paulo, a quadragésima edição da reunião da Comissão.
O segundo foro de cooperação econômica é o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que reúne, anualmente, expoentes do setor privado dos dois países. Os Encontros, com duração de dois ou três dias, reúnem, em média, 600 participantes. A edição de 2013 contou com a presença da Presidenta Dilma Rousseff e do Presidente Federal Joachim Gauck.
Há pouco mencionei o menor dinamismo de nossas trocas a partir de 2012. O Governo brasileiro tem a percepção de que uma maior participação de pequenas e médias empresas nas relações econômicas bilaterais contribuiria não apenas para aumentar as cifras de comércio e investimento, mas também para diversificar as exportações brasileiras para a Alemanha e intensificar a transferência de tecnologia alemã ao Brasil. As vendas brasileiras estão limitadas a número relativamente pequeno de grandes firmas, ao passo que, no sentido inverso, as exportações alemãs englobam grande número de empresas, muitas das quais médias e pequenas, que produzem bens de alto valor agregado. Nesse contexto, é fundamental estreitar os laços entre as pequenas e médias empresas brasileiras e alemãs por meio da criação de joint ventures e iniciativas conjuntas de pesquisa.
Tais joint ventures devem ser construídas em torno de projetos orientados para a inovação e que envolvam articulação com parques tecnológicos do Brasil. A cooperação no âmbito das pequenas e médias empresas brasileiras e alemãs deve conjugar a parceria empresarial com os recursos de pesquisa e desenvolvimento dos dois países. Isso requer, sem dúvida, visão e investimento por parte da iniciativa privada, mas demanda, igualmente, o empenho e o apoio dos governos e das suas instituições.
Devemos ser ambiciosos. Nossa cooperação bilateral em pequenas e médias empresas deve contemplar setores de ponta, como a biotecnologia, a indústria aeroespacial, a nanotecnologia, as tecnologias ambientais e a microeletrônica, entre outros. O motor flex-fuel, que foi desenvolvido no Brasil por subsidiárias da Volkswagen e da Bosch, é um bom exemplo do patamar de cooperação a que devemos almejar.
Gostaria, igualmente, de salientar o avanço, nos últimos anos, da cooperação bilateral em ciência, tecnologia e inovação — um esforço antigo e bem sucedido: celebramos, este ano, 45 anos da assinatura do primeiro Acordo Geral de Cooperação sobre Ciência e Tecnologia. Ao longo dos anos, a cooperação estabelecida nessa área tem dedicado a ênfase necessária à formação e intercâmbio de pesquisadores. A realização do Ano Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2010/2011, bem como a visita da Presidenta Dilma Rousseff à Alemanha, em 2012, no contexto da feira tecnológica CeBIT — a maior feira mundial no setor de tecnologias da informação, que em 2012 teve o Brasil como país-tema —, ofereceram oportunidade singular para a atualização da agenda científica e tecnológica entre nossos países.
No tocante ao Ano Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e inovação, ressalto, como seguimento particularmente importante, o acordo celebrado entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Sociedade Fraunhofer, em junho de 2012. A Sociedade Fraunhofer é a maior organização de pesquisa aplicada da Europa e exemplo de instituição de excelência na promoção da pesquisa e da inovação.
O acordo entre o SENAI e a Fraunhofer permitiu a criação, no Brasil, dos Institutos SENAI de Inovação, que proverão soluções tecnológicas e de gestão a empresas interessadas em agregar conhecimento a suas linhas de produção. Trata-se, portanto, de valioso instrumento para o aprimoramento da competitividade das empresas de nosso País.
Ainda na área de inovação, temos conseguido bons resultados ao fomentar parcerias com foco na pesquisa aplicada. A cooperação entre a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e a Sociedade Fraunhofer é exemplo de êxito nesse sentido – mas podemos avançar ainda mais, com a intensificação da colaboração entre Governos, institutos de pesquisa e setor privado visando a unir pesquisa, inovação e produção.
No campo educacional, temos alcançado avanços dignos de nota em nossa cooperação. O Programa Ciência sem Fronteiras tem na Alemanha um de seus parceiros mais importantes. Universidades alemãs já receberam mais de 4 mil alunos brasileiros sob os auspícios desse programa. Os estudantes brasileiros na Alemanha, além da experiência propriamente acadêmica, também aprimoram sua formação por meio de estágios em empresas alemãs. Estou seguro de que esse esforço será proveitoso não só para a sociedade brasileira, mas para o próprio relacionamento bilateral, na medida em que esses alunos tornam-se agentes disseminadores da cultura alemã e, ao mesmo tempo, capacitam-se para trabalhar nas mesmas empresas que constituem a espinha dorsal de nossa parceria.
A cooperação em energia constitui outro eixo importante das relações bilaterais entre o Brasil e a Alemanha. Os dois países ocupam posição de liderança no desenvolvimento de tecnologias no âmbito das energias renováveis e atribuem grande importância à dimensão da sustentabilidade na implementação de suas políticas energéticas. Vejo como especialmente promissora a intensificação da cooperação bilateral nos campos da energia solar e da energia eólica, pelos investimentos já feitos por empresas alemãs neste campo e pelas condições únicas — climáticas, mas também pelo potencial ainda inexplorado de seu mercado — que o Brasil oferece para o desenvolvimento do setor.
Quero ressaltar, ainda, a cooperação na área cultural. Sabemos do vivo e crescente interesse do público alemão pela cultura brasileira. Sublinho, particularmente, a participação do Brasil na última Feira do Livro de Frankfurt, maior encontro mundial do setor editorial. O Brasil foi, em 2013, pela segunda vez, país-tema da feira. Foram quase 300 mil visitantes, que tiveram a oportunidade de travar contato com as obras de nomes expressivos de nossa literatura.
Refiro-me, por último, ao diálogo político. Há vários níveis de convergência entre o Brasil e a Alemanha sobre os grandes temas da agenda internacional. Essa convergência manifesta-se, sobretudo, nas posições comuns sobre temas como reforma do Conselho de Segurança da ONU, meio ambiente e direitos humanos.
Recentemente, tivemos uma ilustração das potencialidades desse diálogo com a aprovação, por unanimidade, na Assembleia Geral das Nações Unidas, do projeto de resolução teuto-brasileiro sobre a defesa do direito à privacidade na era digital. Recorde-se que as recentes revelações sobre o uso indiscriminado do monitoramento de informações afetaram de maneira muito particular Brasil e Alemanha. A aprovação da resolução por unanimidade demonstrou de forma eloqüente a capacidade que têm os dois países, juntos — pelos valores que professam, pela credibilidade diplomática de que souberam dotar-se, ao longo das décadas —, de arregimentar apoios entre os interlocutores mais diversos, na defesa de valores universais.
Em essência, por tudo o que acabo de expor — pelo patrimônio construído ao longo dos anos, pelos laços humanos e materiais que nos unem à Alemanha, pela excelência de nosso diálogo político e pela variedade e profundidade de nossa cooperação —, torna-se inescapável a conclusão de que a Alemanha é, hoje, um dos parceiros centrais do Brasil em sua política exterior. Trabalhamos nesse sentido na convicção de que os progressos alcançados pelo Brasil, as dimensões de seu mercado, o dinamismo de sua economia e seu crescente peso internacional o tornam, igualmente, um sócio privilegiado aos olhos alemães.
Os Governos de Brasil e Alemanha querem intensificar ainda mais esse diálogo e essa cooperação por meio do engajamento das próprias Chefas de Governo em consultas políticas regulares, de que participará número expressivo de Ministros dos dois lados. Esperamos, por esse mecanismo, promover novas avenidas de cooperação em domínios estratégicos, como energia ou produtos de defesa, ciência e tecnologia e cibersegurança, e aprofundar o diálogo sobre as grandes questões relacionadas à paz, segurança e prosperidade globais. Estamos certos, no Itamaraty, de que esse mecanismo contribuirá para solidificar o lugar das relações Brasil-Alemanha nas políticas exteriores dos dois países. É esta, em essência, a aposta que fazem a Presidenta Dilma Rousseff e a Chanceler Angela Merkel ao comprometerem-se formalmente a manter esse diálogo periódico. Estou certo de que, no futuro, a parceria Brasil-Alemanha será cada vez mais importante e estratégica para a própria projeção internacional de nossos países.
Obrigado.
 
 
 
1) Relações Bilaterais
 
 
1.1) Relações bilaterais na perspectiva brasileira
 
Visitas em 2014:
 
 
2) Política Externa alemã:
 
P.s²: Leiam o Kissinger, em "Diplomacia", para entender a origem e o fundamento da Realpolitik.

sábado, 18 de outubro de 2014

Programa Diplomacia - Setembro 2014

 
A última edição do Programa Diplomacia da TV Senado, apresenta uma série de temáticas relevantes ao Cacd, em especial, dois assuntos: o primeiro, na seção Entrevista, recebeu o principal negociador do BRICS no lado brasileiro, José Alfredo Graça Lima (também entrevistado pela Revista Sapientia). O segundo, na seção Cinema, é indicado um excelente documentário, "Missão de Paz" por Ruyter Curvello Duarte, sobre a atuação brasileira nos últimos 10 anos na Missão de Paz do Haiti (MINUSTAH).

domingo, 12 de outubro de 2014

Uma Conversa na Catedral Reveliana

O artigo publicado por Vargas Llosa acerca de Jean-François Revel, em março do corrente, é uma aproximação entre pares, seja na visão política, em que ambos compartem uma viagem parecida ao sair do marxismo dos anos de 1960, para uma evolução natural, até um certo tipo de liberalismo nem tanto extremista, mas que critica em grande medida as assimetrias entre o discurso e a prática soviética (por exemplo, a castração da liberdade ou a intelligentsia/vanguarda); seja na visão literária, especificamente, na premiação do Nobel de Literatura. Sobre a Academia , é interessante a mudança de postura, se  antes fazia diálogos com escritores ligados a ideologias esquerdistas (Galbo Marquez, por exemplo),  agora passa a reconhecer aqueles mais próximos da ideologia direitista,como é o caso dos citados acima. A priori, fazer uma literatura que ia contra a moda no mundo e especialmente na França, tradicionalmente reduto dos gauches, foi um desafio sem tamanho, talvez, um trabalho hercúleo, maior inclusive que o do peruano por estes trópicos. Deixo o artigo na íntegra para que vocês desfrutem! Let's go!
 
 P.S: Ici, je vais donner un "link" sur l' auteur, évidemment en français! regardez! :  http://chezrevel.net/pourquoi-des-philosophes/
 
 
Jean-François Revel
 
 

Un pensador para el siglo XXI

Mario Vargas Llosa
La Republica (Peru), 
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La obra de Jean-François Revel (1924-2006) no consiste solo en los veintiséis libros que escribió y que, además de la política, abarcan muchos géneros de su enciclopédica cultura: filosofía, arte, historia, literatura, información, gastronomía. También en los centenares de artículos que publicó en revistas como L’Express, Le Point y Commentaire y que, al igual que en los casos de un George Orwell o un José Ortega y Gasset, son textos neurálgicos de su reflexión intelectual. Porque Revel, aunque había tenido una formación académica de alto nivel –Escuela Normal Superior, donde fue discípulo de Louis Althusser, y agregación– renunció  a la carrera universitaria después de haber enseñado en México y en Italia, para dedicarse al periodismo, que alcanzó en Francia, gracias a él, la brillantez que tuvo antes en Gran Bretaña y España gracias a los autores de Cazando un elefante y La deshumanización del arte.
¿Por qué lo hizo? Yo creo que para llegar a un público más amplio que el del ámbito universitario y, acaso, sobre todo, para no verse arrastrado al oscurantismo retórico, aquella forma de logomaquia vanidosa y mentirosa que zahirió con tanta valentía como exactitud en algunos filósofos de su tiempo en el segundo de sus libros, Pourquoi des philosophes? (1957) El periodismo que él practicó significaba claridad y verdad, poner las ideas al alcance del lector profano, pero sin trivializarlas, manteniendo el rigor a la vez que la elegancia y la originalidad de los buenos textos literarios. Sin embargo, el periodismo significa también dispersión y fugacidad; tal vez por ello, hasta ahora, salvo esporádicos empeños como el de Pierre Boncenne (Pour Jean-François Revel, 2006) nadie había intentado presentar de una manera sistemática y completa el pensamiento político de Revel y lo que significa en el contexto de nuestra época.
El profesor Philippe Boulanger acaba de hacerlo, de manera soberbia, con un ensayo que, gracias a una investigación exhaustiva de sus libros, sus artículos y su correspondencia y archivos depositados en la Biblioteca Nacional de París, presenta una visión de conjunto, coherente y minuciosa, del pensamiento político de Revel con el telón de fondo de los grandes debates, crisis nacionales e internacionales, conflictos ideológicos, la guerra fría y el desplome del comunismo, ocurridos durante la vida del pensador francés: “Jean-François Revel. La démocratie libérale à l’épreuve du XXe siècle” .
En su intenso rastreo, Philippe Boulanger muestra, ante todo, que las ideas de Revel sobre el quehacer político se forjaron siempre a partir de un cotejo constante de pensamiento y realidad, confrontando sin descanso los hechos comprobables de la historia vivida y las interpretaciones ideológicas, adaptando éstas a aquella y no acomodando los hechos a ideas o esquemas abstractos preconcebidos, como hacía el marxismo.  Esto fue distanciando cada vez más a Revel de un tipo de socialismo que, a su juicio, distorsionaba la historia  para que justificara una ideología que una lectura objetiva de la realidad desmentía. Pero, y sobre esto Boulanger presenta pruebas incontrovertibles, Revel sostuvo buena parte de su vida que el verdadero socialismo era inseparable del liberalismo, y que el pecado capital del socialismo francés era haberlo olvidado, sometiéndose al marxismo y sirviendo de remolque al comunismo. De ahí, una de sus tesis más atrevidas: que el comunismo era el obstáculo mayor que tenía el socialismo francés para reformar profundamente a Francia y hacer de ella una sociedad más libre al mismo tiempo que más justa. Y de ahí, también, su simpatía por el socialismo sueco y por la social democracia alemana que, a diferencia del socialismo francés, nunca tuvieron complejos de inferioridad frente al comunismo a la hora de defender la democracia “burguesa”.
Reivindicar el liberalismo en Francia, en la época que lo hicieron Jean-François Revel o Raymond Aron, no sólo era ir contra la corriente, sino querellarse al mismo tiempo con la izquierda y una derecha conservadora, populista y autoritaria representada por la Quinta República y el gobierno del general De Gaulle. Pero esa orfandad no intimidó nunca a Revel, polemista y panfletario a lo Voltaire,  que, a lo largo de toda su vida, se opuso a los estereotipos en que querían encasillarlo, lapidarias respuestas que, de un lado, desvelaban la naturaleza caudillista y anti democrática del régimen impuesto por De Gaulle, y, de otro, denunciaban la dependencia del comunismo francés de la Unión Soviética y la ceguera o cobardía de sus “compañeros de viaje” socialistas y progresistas que se negaban a reconocer la existencia del Gulag pese a los abrumadores testimonios que llegaban a Occidente de los disidentes y el fracaso calamitoso de la economía dirigida y estatizada de la Unión Soviética y China Popular para elevar los niveles de vida de la población y la desaparición de todas las libertades que implicaba la llamada dictadura del proletariado y la abolición de la propiedad privada.
El libro de Boulanger muestra, también, que el liberalismo de Revel no incurría en la perversión economicista de ciertos economistas supuestamente liberales, malos aprendices de Hayek,  logaritmos vivientes, para quienes el libre mercado es la panacea que resuelve todos los problemas sociales.
Revel fue, en esto, contundente: para un liberal la libertad política y la libertad económica son indivisibles, la una garantiza la coexistencia pacífica y los derechos humanos, y la otra trae desarrollo económico, crea empleo y respeta la soberanía individual. Al mismo tiempo, una sociedad no alcanza nunca la plena libertad sin una rica vida cultural, en la que se puedan manifestar sin presiones ni dirigismos oficiales la creatividad artística e intelectual y el espíritu crítico.  Para ello es indispensable una educación de alto nivel, privada y pública, pues ella crea la igualdad de oportunidades, esencial para que una sociedad libre sea también una sociedad equitativa, digna y genuinamente democrática.
Revel fue siempre un enemigo declarado de toda forma de nacionalismo, un promotor de un gobierno supranacional, un defensor de una Europa unida y abierta al resto del mundo, un defensor de la lenta disolución de las fronteras a través de los intercambios comerciales y culturales, y alguien a quien su espíritu curioso  llevó a interesarse por otras culturas, otras lenguas –dominaba cinco– y uno de los mejores conocedores de la realidad de América Latina, sobre la que escribió iluminadores ensayos, refutando a sus ingenuos compatriotas que se empeñaban en ver, como un modelo de revolución democrática, el castrismo y las fantasías guevaristas de erupcionar el mundo creando “dos, tres, Vietnam”.
Aunque la política le apasionaba, estaba convencido de que ella no debía absorber toda una vida.  En todo caso, ella no agotaba su inquietud múltiple, su pasión por conocer, lo que hacía de él un heredero directo de la gran tradición humanista occidental.  Escribió una historia de la filosofía, sobre todo centrada en los pensadores griegos y latinos, y en los renacentistas, para lectores profanos, que se lee con el interés de un libro de aventuras, y ensayos sutiles y polémicos sobre Proust, sobre Descartes, y, sobre gastronomía, Un festin en paroles, en el que mostró, sin embarazo alguno, además de su ironía y buen humor, su pasión por la buena mesa y las buenas bebidas.      
Tenemos que agradecerle a Philippe Boulanger el enorme trabajo que debe haber significado para él escribir esta formidable biografía intelectual y política de Jean-François Revel. Ha sido un acto de justicia con uno de los pensadores más agudos y actuales, uno de los mejores continuadores de Tocqueville, y, a la vez, uno de los más injustamente marginados en un país en el que, pese a todas las frustraciones y fracasos que le ha significado aferrarse a la tradición anacrónica del Estado fuerte, grande e intervencionista, que han compartido tanto la izquierda como la derecha, la lección de Revel ha sido desoída y negada. Ya no será posible seguirlo desconociendo después de este admirable reconocimiento de Philippe Boulanger, que ha demostrado la riqueza, profundidad y actualidad de sus ideas.
Lima, marzo de 2014

sábado, 11 de outubro de 2014

Que Mau-hÁ em investir Imperador ?

Slogan do filme

Afinal quem mandava no Brasil, o Imperador (Pedro II) ou o Rei (Mauá)?  O Filme, " O Barão de Mauá, O Imperador e o Rei", é um barril de sensações positivas e negativas. Baseado nas péssimas produções nacionais sobre dramas históricos, a produção de 1999  peca pela artificialidade nos diálogos entre os atores, que mais faz lembrar uma aula de história decorada, do que realmente uma versão natural de um fato histórico. Por outro lado, pode-se ressaltar a figura do maior empresário brasileiro da história, dono de investimentos que financiaram o Estado brasileiro durante o Segundo Reinado. Bancos, Companhias de navegação, estradas de ferros (Santos-Sp) são meros instrumentos, se comparados ao financiamento da diplomacia brasileira na região do Prata, o que denomina-se "Diplomacia dos Pacatões". Os investimentos que o Barão de Mauá fez no Uruguai, Argentina e Paraguai proporcionaram ao Brasil a expansão na sub-região, e mais que isso, fincaram a condição de potência que perdura até hoje, no qual o ápice foi a Guerra do Paraguai.   Mais uma vez: Quem mandava no país, a política ou a economia?
 
 
cena-emblema entre Visconde de Feitosa e o jovem Mauá: Conservar a Política ou Liberar a Economia?
 
A resposta da questão, está na cena mais emblemática do filme: o confronto de ideias entre o Visconde de Feitosa e o jovem Mauá após o primeiro encontro entre eles. De um lado o  partido conservador, representado pela ideia de centralização; de unidade; de intervenção do Estado Imperial na economia (Isso não é novo no brasil, hein?), e claro em fazer política antes que economia. Enquanto de outro, o jovem empreendedor, nacionalista convicto, com a ideia de mudar o país a partir de maior liberdade econômica, baseado em industrialização, para transformar o Brasil em potência mundial. Uma guerra de olhares e diálogos que perdura pelo filme inteiro, com avanços e recuos de cada lado, até finalmente a falência de Mauá. A queda do principal empresário brasileiro no século XIX, é a morte da economia liberal no país. Em consonância, a vitória do Visconde de Feitosa antes que uma supremacia conservadora e política, simboliza a morte do governo imperial. Era o começo do Fim.
 
*
Produzido em 1999 pelo diretor Sérgio Rezende, e interpretado pelos atores nacionais, com excelente cartaz como Paulo Betti (Mauá), Malu Mader (May), Othon Bastos (Visconde de Feitosa) e Hugo Carvana (Queirós).
 
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ser ou (não) ser Diplomata ?! - Parte 4


"A diplomacia brasileira é recrutada à base do mérito, por um concurso que, ainda hoje, é o mais difícil, o mais exigente que se conhece. Nenhum outro concurso público tem exigências que rivalizem com aquelas do concurso para a carreira diplomática. A carreira sempre foi algo sedutor.
Eu costumava dizer, quando aconselhava alunos meus da Universidade de Brasília, ou em ambiente sociais, familiares e outros, quando aconselhava algum jovem desejoso por estar no curso de Direito de definir os seus rumos, seja pela carreira diplomática, seja por outras carreiras jurídicas, o seguinte: as carreiras jurídicas de Estado, a magistratura, o Ministério Público, são não apenas mais compensadoras do ponto de vista material do que a diplomacia, mas têm também uma consequência que, por um lado, assusta, mas, por outro lado, conquista: é o fato de que, já no dia da posse, no dia da investidura em um cargo na magistratura, no Ministério Público ou em outros assemelhados, você se sente uma autoridade, e sente o peso do seu poder. Você pode ter 25, 26 anos de idade, mas você sente o seu poder. Como eu disse, isso assusta um pouco. E aqueles a quem isso não assusta, podem, pela falta de freios, cometer certos abusos. Este é um risco que se corre.
 

Na diplomacia, não. Você se submete ao vestibular mais difícil que há no país e, no início da carreira, se não se sente absolutamente uma autoridade, você vai conviver com tarefas, às vezes, bem modestas, como organizar a mesa ou a rede social de uma recepção, ir ao aeroporto às 3h da manhã receber o ministro da agricultura do Quênia enfim...

É bem diferente o início de carreira de um juiz, de um promotor, de um procurador da República, do início de carreira de um diplomata. Mas, à medida que a carreira evolui, o sentido de responsabilidade e de representação do Brasil, de representação da comunidade nacional, é infinitamente compensador.

 A representação do Brasil lá fora é sempre um privilégio para quem, dentro da carreira diplomática, conserva a motivação que o terá levado, no passado, a procurar esse caminho, a fazer esse vestibular.

O final de carreira é extremamente compensador em todos os sentidos, menos no financeiro. Nossos diplomatas não conseguem fazer patrimônio, sempre foi assim. Quando estão lá fora, até ganham um pouco mais, podem levar uma vida mais confortável em razão do auxílio residência e de outros fatores. Quando estão no Brasil, na secretaria de Estado, os salários são muito modestos, se você considera que esta é uma das melhores diplomacias do mundo, sobretudo quando se compara com determinados diplomatas de determinados outros países como a Itália, o país que, provavelmente, melhor remunera a função pública, e destacadamente a diplomacia. Apesar disso, o final da carreira já não impõe ao diplomata aquelas situações pouco condizentes com a grandeza do talento que ele tem que demonstrar no vestibular e que marcam muito o início da carreira. A compensação espiritual é muito grande. Eles têm orgulho de representar lá fora um país cuja diplomacia é historicamente respeitada, e um país que está vivendo, nas últimas décadas, o esplendor da sua democracia e que, pela  sua fidelidade ao Direito Internacional e à ideia de justiça internacional, tem merecido a admiração de todos." (REZEK, Francisco. In: Revista Sapientia, Nº2, pp.17-18)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Crônicas de um dia (in) esperado

Senhoras e senhores, vos apresento as minhas produções mais íntimas, não diria bem literária, mas talvez seja algo que traga mais intimidade com a palavra, procurando retirar sua rigidez e ordem. Assim,  penso eu, possibilitará novos sonhos e desencontros, novas loucuras e normalidade. Lógico, que a diplomacia estará nessa roda, que não é viva, mas promete uma dose calibrada de adrenalina...apertem os cintos, petits/es diplomates!

 


Crônicas de um dia (in)esperado



 

Acordo. Tic-tac, blim. O relógio tem uma conversa intima comigo, motivo: laborar. Mais um dia, uma metade conversando com papel, outra sentado. Burocracia. Aqui não há ‘sprit de corps’, é apenas você e a rotina, um casal perfeito. Sinto, atento, o desenrolar do trigo junto a saliva na boca. Um café, dois cafés, três. Très bien. Olho as ruas em movimento pelo vidro, as pessoas passando rápidas, como passáros. O sol levemente reflete todo seu esplendor. Primeiro em chegar, e os corredores são pavorosos, sem pessoas, sem barulho, sem público. E o que fazer? Atualizar a massa cinzenta, que ultimamente está empoeirada: sem informações. “A potência Yaankee se pronuncia sobre o movimento de forças centrífugas no Médio Oriente.” “O Brasil escala posições nos índices sociais”. Notícias novas-velhas. Novas em outro contexto, porém velhas ao buscar paradigmas sociais correntes. Entre uma papelada, e uma olhada na rede: uma rotina. Para romper a monotonia, uma ligação, quem será? Não sei, e nem atendo. “O Itamaraty respeita o direito à autodeterminação dos povos...” Outra ligação rechaçada. O dia continua, andando, como ele é, lento e rápido, relativamente pela autoconsciência do ser, diria um físico indiano. Almuerzo. Umas mordidas ali, outra aqui, um sabor especial acolá. Outra ligação, mais uma cancelada. Me sinto um empresário importante, não é qualquer um que recebe diversas ligações.   Verifico, despretensiosamente, um quadro de avisos, quando...recebo o toque de alguma mão. Penso: quem ousa interromper meu direito à paz? Tu passastes! Hã? Como, onde, em quê? Tu passastes! Ei, Hey! O que estás falando? Passou, parabéns! Eu sempre soube! Que andas a falar? O Itamaraty.... Itamara- o quê? ...ty. Desperto suado, olho para os lados, não pode ser. Era um sonho, é um sonho inesperado. Por culpa, resolvo levantar e estudar, afinal nunca mais havia pegado o caderno. A campainha toca. Uma, duas, Calma, três, quatro vezes, Já vou, cinco. Passou! Hã? És o mais novo diplomata! Quê?! Tu passastes! Olho para ter certeza. Me belisco 50 vezes. Dou uma risada torta, e digo: um dia...um dia (in)esperado!

D e S.

Diretrizes da função diplomática



Dez Regras Modernas de Diplomacia
Paulo Roberto de Almeida


Reflexões rápidas para futuro desenvolvimento...

1. Servir a pátria, mais do que aos governos, conhecer profundamente os interesses permanentes da nação e do povo aos quais serve; ter absolutamente claros quais são os grandes princípios de atuação do país a serviço do qual se encontra.
O diplomata é um agente do Estado e, ainda que ele deva obediência ao governo ao qual serve, deve ter absoluta consciência de que a nação tem interesses mais permanentes e mais fundamentais do que, por vezes, orientações momentâneas de uma determinada administração, que pode estar guiada — mesmo se em política externa isto seja mais raro — por considerações “partidárias” de reduzido escopo nacional. Em resumo, não seja subserviente ao poder político, que, como tudo mais, é passageiro, mas procure inserir uma determinada ação particular no contexto mais geral dos interesses nacionais.

2. Ter domínio total de cada assunto, dedicar-se com afinco ao estudo dos assuntos de que esteja encarregado, aprofundar os temas em pesquisas paralelas.
Esta é uma regra absoluta, que deve ser auto-assumida, obviamente. Numa secretaria de estado ou num posto no exterior, o normal é a divisão do trabalho, o que implica não apenas que você terá o controle dos temas que lhe forem atribuídos, mas que redigirá igualmente as instruções para posições negociais sobre as quais seu conhecimento é normalmente maior do que o do próprio ministro de estado ou o chefe do posto. Mergulhe, pois, nos dossiês, veja antigos maços sobre o assunto (a poeira dos arquivos é extremamente benéfica ao seu desempenho funcional), percorra as estantes da biblioteca para livros históricos e gerais sobre a questão, formule perguntas a quem já se ocupou do tema em conferências negociadoras anteriores, mantenha correspondência particular com seu contraparte no posto (ou na secretaria de estado), enfim, prepare-se como se fosse ser sabatinado no mesmo dia.

3. Adotar uma perspectiva histórica e estrutural de cada tema, situá-lo no contexto próprio, manter independência de julgamento em relação às idéias recebidas e às “verdades reveladas”.
Em diplomacia, raramente uma questão surge do nada, de maneira inopinada. Um tema negocial vem geralmente sendo “amadurecido” há algum tempo, antes de ser inserido formalmente na agenda bilateral ou multilateral. Estude, portanto, todos os antecedentes do assunto em pauta, coloque-o no contexto de sua emergência gradual e no das circunstâncias que presidiram à sua incorporação ao processo negocial, mas tente dar uma perspectiva nova ao tema em questão. Não hesite em contestar os fundamentos da antiga posição negociadora ou duvidar de velhos conceitos e julgamentos (as idées reçues), se você dispuser de novos elementos analíticos para tanto.

4. Empregar as armas da crítica ao considerar posições que devam ser adotadas por sua delegação; praticar um ceticismo sadio sobre prós e contras de determinadas posições; analisar as posições “adversárias”, procurando colocá-las igualmente no contexto de quem as defende.
Ao receber instruções, leia-as com o olho crítico de quem já se dedicou ao estudo da questão e procure colocá-las no contexto negocial efetivo, geralmente mais complexo e matizado do que a definição de posições in abstracto, feita em ambiente destacado do foro processual, sem interação com os demais participantes do jogo diplomático. Considerar os argumentos da parte adversa também contribui para avaliar os fundamentos de sua própria posição, ajudando a revisar conceitos e afinar seu próprio discurso. Uma saudável atitude cética — isto é, sem negativismos inconseqüentes — ajuda na melhoria constante da posição negociadora de sua chancelaria.

5. Dar preferência à substância sobre a forma, ao conteúdo sobre a roupagem, aos interesses econômicos concretos sobre disposições jurídico-abstratas.
Os puristas do direito e os partidários da “razão jurídica” hão de me perdoar a deformação “economicista”, mas os tratados internacionais devem muito pouco aos sacrossantos princípios do direito internacional, e muito mais a considerações econômicas concretas, por vezes de reduzido conteúdo “humanitário”, mas dotadas, ao contrário, de um impacto direto sobre os ganhos imediatos de quem as formula. Como regra geral, não importa quão tortuosa (e torturada) sua linguagem, um acordo internacional representa exatamente — às vezes de forma ambígua — aquilo que as partes lograram inserir em defesa de suas posições e interesses concretos. Portanto, não lamente o estilo “catedral gótica” de um acordo específico, mas assegure-se de que ele contém elementos que contemplem os interesses do país.

6. Afastar ideologias ou interesses político-partidários das considerações relativas à política externa do país.
A política externa tende geralmente a elevar-se acima dos partidos políticos, bem como a rejeitar considerações ideológicas, mas sempre somos afetados por nossas próprias atitudes mentais e algumas “afinidades eletivas” que podem revelar-se numa opção preferencial por um determinado tipo de discurso, “mais engajado”, em lugar de outro, supostamente mais “neutro”. Poucos acreditam no “caráter de classe” da diplomacia, mas eventualmente militantes “classistas” gostariam de ajudar na “inflexão” política ou social de determinadas posições assumidas pelo país internacionalmente, sobretudo quando os temas da agenda envolvem definição de regras que afetam agentes econômicos e expectativas de ganhos relativos para determinados setores de atividade. Deve-se buscar o equilíbrio de posições e uma definição ampla, verdadeiramente nacional, do que seja interesse público relevante.

7. Antecipar ações e reações em um processo negociador, prever caminhos de conciliação e soluções de compromisso, nunca tentar derrotar completamente ou humilhar a parte adversa.
O soldado e o diplomata, como ensinava Raymond Aron, são os dois agentes principais da política externa de um Estado — embora atualmente outras forças sociais, como as ONGs e os homens de negócio, disputem espaço nos mecanismos decisórios burocráticos — mas, à diferença do primeiro, o segundo não está interessado em ocupar território inimigo ou destruir sua capacidade de resistência. Ainda que, em determinadas situações negociais, o interesse relevante do país possa ditar alguma instrução do tipo “vá ao plenário com todas as suas armas (argumentativas) e não faça prisioneiros”, o confronto nunca é o melhor método para lograr vitória num processo negociador complexo. A situação ideal é aquela na qual você “convence” as outras partes negociadoras de que aquela solução favorecida por seu governo é a que melhor contempla os interesses de todos os participantes e na qual as partes saem efetivamente convencidas de que fizeram o melhor negócio, ou pelo menos deram a solução possível ao problema da agenda.

8. Ser eficiente na representação, ser conciso e preciso na informação, ser objetivo na negociação.
Considere-se um agente público que participa de um processo decisório relevante e convença-se de que suas ações terão um impacto decisivo para sua geração e até para a história do país: isto já é um bom começo para dar dignidade à função de representação que você exerce em nome de todos os seus concidadãos. Redija com clareza seus relatórios e seja preciso nas instruções, ainda que dando uma certa latitude ao agente negocial direto; não tente fazer literatura ao redigir um anódino memorandum, ainda que um mot d’esprit aqui e ali sempre ajuda a diminuir a secura burocrática dos expedientes oficiais. Via de regra, estes devem ter um resumo inicial sintetizando o problema e antecipando a solução proposta, um corpo analítico desenvolvendo a questão e expondo os fundamentos da posição que se pretende adotar, e uma finalização contendo os objetivos negociais ou processuais desejados. No foro negociador, não tente esconder seus objetivos sob uma linguagem empolada, mas seja claro e preciso ao expor os dados do problema e ao propor uma solução de compromisso em benefício de todas as partes.

9. Valorize a carreira diplomática sem ser carreirista, seja membro da corporação sem ser corporativista, não torne absolutas as regras hierárquicas, que não podem obstaculizar a defesa de posições bem fundamentadas.
Geralmente se entra na carreira diplomática ostentando certo temor reverencial pelos mais graduados, normalmente tidos como mais “sábios” e mais preparados do que o iniciante. Mas, se você se preparou adequada e intensamente para o exercício de uma profissão que corresponde a seus anseios intelectuais e responde a seu desejo de servir ao país mais do que aos pares, não se deixe intimidar pelas regras da hierarquia e da disciplina, mais próprias do quartel do que de uma chancelaria. Numa reunião de formulação de posições, exponha com firmeza suas opiniões, se elas refletem efetivamente um conhecimento fundamentado do problema em pauta, mesmo se uma “autoridade superior” ostenta uma opinião diversa da sua. Trabalhe com afinco e dedicação, mas não seja carreirista ou corporativista, pois o moderno serviço público não deve aproximar-se dos antigos estamentos de mandarins ou das guildas medievais, com reservas de “espaço burocrático” mais definidas em função de um sistema de “castas” do que do próprio interesse público. A competência no exercício das funções atribuídas deve ser o critério essencial do desempenho no serviço público, não o ativismo em grupos restritos de interesse puramente umbilical.

10. Não faça da diplomacia o foco exclusivo de suas atividades intelectuais e profissionais, pratique alguma outra atividade enriquecedora do espírito ou do físico, não coloque a carreira absolutamente à frente de sua família e dos amigos.
A performance profissional é importante, mas ela não pode ocupar todo o espaço mental do servidor, à exclusão de outras atividades igualmente valorizadas socialmente, seja no esporte, seja no terreno da cultura ou da arte. Uma dedicação acadêmica é a que aparentemente mais se coaduna com a profissão diplomática, mas quiçá isso represente uma deformação pessoal do autor destas linhas. Em todo caso, dedique-se potencialmente a alguma ocupação paralela, ou volte sua mente para um hobby absorvente, de maneira a não ser apenas um “burocrata alienado”, voltado exclusivamente para as lides diplomáticas. Sim, e por mais importante que seja a carreira diplomática para você, não a coloque na frente da família ou de outras pessoas próximas. Muitos se “sentem” sinceramente diplomatas, outros apenas “estão” diplomatas, mas, como no caso de qualquer outra profissão, a diplomacia não pode ser o centro exclusivo de sua vida: os seres humanos, em especial as pessoas da família, são mais importantes do que qualquer profissão ou carreira.


* Texto retirado do Blog com adaptações

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Política Externa nas Eleições 2014 - Parte 7

Slogan da campanha de Luciana Genro (PSOL) 
 
“O Povo acordou por mais direitos”: Programa de Governo de Luciana Genro (PSOL).
Texto retirado na íntegra.
A ideia de que o Brasil mudou seu lugar no mundo tornou-se corrente, mas é só parcialmente verdadeira. Essa suposição é uma ideologia que, como tal, possui certa correspondência com a realidade objetiva. De fato existem condições para que ela se estabeleça entre nós: em última instância e por mais contraditório que pareça, a suposta “nova posição” do Brasil no mundo é produto do aprofundamento da dependência e do subdesenvolvimento, a característica principal de nossa formação social.
A sensação de maior relevância no cenário internacional – estimulada, sobretudo, nos dois governos de Lula – é consequência necessária da última onda expansiva da economia mundial que consagrou o lugar de países como o Brasil no sistema capitalista. Mas é preciso deixar claro: a despeito das aparências, o lugar reservado para o Brasil é aquele que tradicionalmente nos reservam os mais poderosos da humanidade: a periferia do sistema.
A economia mundial cresceu de maneira vertiginosa até setembro de 2008, momento em que o sistema bancário faliu e importantes multinacionais do setor produtivo foram à bancarrota nos Estados Unidos e também na Europa. Antes desta data, a expansão da acumulação mundial favoreceu enormemente a acumulação de capital das economias periféricas, especialmente em alguns países que possuem abundantes recursos naturais e que haviam logrado certa especialização na produção de alimentos – o Brasil entre eles. Porém, com a retomada do crescimento das economias centrais, vemos o protagonismo da diplomacia brasileira diminuir vertiginosamente. Essa é uma das marcas do governo de Dilma Roussef.
Além disso, há que se notar que o ativismo diplomático do governo brasileiro na África, o protagonismo no Haiti (Caribe) e Honduras (América Central), como também o interesse pela integração econômica latino-americana (América do Sul) estão em consonância com as iniciativas de empresas brasileiras que exploram as oportunidades abertas pela expansão conjuntural da economia mundial e o reforço da posição do Brasil na clássica divisão internacional de trabalho. Porém, as forças que geraram o alinhamento automático da diplomacia brasileira às diretrizes de Washington anos atrás não foram suprimidas. Por isso, observar neste movimento uma independência quase completa é simplesmente reforçar a apologia de setores da classe dominante sobre as possibilidades do Brasil no mundo.
Entendemos que a política externa do governo brasileiro deve estar em consonância com um novo modelo de desenvolvimento interno. A mudança radical de prioridades deve se refletir na diplomacia brasileira. A participação do Brasil no sistema internacional deve ocorrer de forma soberana e solidária. A independência nacional significa a conquista da liberdade política, econômica e social por parte do povo brasileiro. Além disso, o PSOL defende que o Brasil pode exercer uma política externa construída não apenas pelo governo, nos gabinetes dos Ministérios e do Planalto, mas também diretamente pelo povo, titular do poder político. Por isso, as propostas do PSOL tem como eixos norteadores:
– A defesa da autodeterminação dos povos e o rompimento de relações diplomáticas com países que violem as leis internacionais e o direito à independência e à liberdade;

– A busca de uma integração regional que diminui a dependência dos países capitalistas centrais, com bases solidárias e cooperativas;

– O combate ao Imperialismo em todas as suas manifestações;

– A ampliação da participação da sociedade civil nas definições das políticas de relações exteriores.
Entendemos que o imperialismo (principalmente norte-americano) e as elites nacionais associadas, via capital financeiro, aos interesses do capitalismo central, são os grandes inimigos da independência nacional e da integração entre os povos. Considerar parceiro estratégico um país que historicamente viola nossa independência nacional, intervindo direta ou indiretamente em nosso país e agora, que comprovadamente espiona para favorecer suas empresas, é violar a Constituição. As parcerias estratégicas devem ser construídas a partir do princípio da democracia, da paz, da não-intervenção e da autodeterminação dos povos. Este é o compromisso de Luciana Genro e do PSOL. Veja abaixo nossas propostas para a Política Externa:

1. Fortalecimento da integração regional latino-americana nos níveis econômico, político, social e cultural, buscando superar os limites dos organismos multilaterais atualmente existentes, com vistas a colocá-los a serviço da integração dos povos e da luta pela independência das nações sul-americanas, enfrentando conjuntamente males comuns, como o flagelo da dívida externa e interna.

2. Defesa incondicional da autodeterminação dos povos, com apoio à formação de estados nacionais autônomos, à secessão e à integração de territórios, desde que produto da vontade livre e soberana dos povos; solidariedade aos povos em luta contra o imperialismo.

3. Busca da solução pacífica dos conflitos, respeitando o princípio da não-intervenção, com fim da participação brasileira em qualquer operação militar intervencionista e o fim de exercícios militares conjuntos com países que não respeitem este principio;

4. Retirada das tropas brasileiras no Haiti e substituição por um Corpo Permanente de Paz e Solidariedade composto por médicos, professores, engenheiros e outros profissionais;

5. Rompimento de relações diplomáticas com todos os Estados que promovam a violência e agridam o direito à autodeterminação dos povos, com imediata revogação dos acordos de cooperação militar com esses países, como é o caso do Estado de Israel;

6. Concessão de asilo aos perseguidos políticos de qualquer nacionalidade, com destaque para a concessão imediata de asilo para Edward Snowden;

7. Criação do Conselho Nacional de Política Externa, de caráter consultivo e não remunerado, com participação de setores da sociedade nas decisões do Ministério das Relações Exteriores;

8. Suspensão e revisão da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) junto aos países signatários do acordo, com o objetivo de avaliar os impactos de sua implantação no meio-ambiente e as violações aos direitos consagrados na Convenção 169 da OIT;

9. Combate ao terrorismo, seja ele promovido por Estados e outros entes governamentais, seja ele praticado por organizações políticas, paramilitares ou religiosas. Rejeição, em nível internacional, da política de “guerra ao terror” como justificativa para combater as lutas dos povos do mundo.

10. Democratização dos organismos internacionais e combate às medidas promovidas unilateralmente, como no caso do embargo econômico imposto pelos EUA a Cuba.


Texto retirado do blog:http://pgderolle.wordpress.com/2014/10/02/o-programa-de-governo-dos-presidenciaveis-2014-a-politica-externa-para-o-psol/