A tradição do Itamaraty em seguir princípios gerais para formular objetivos e metas foi deixada de lado pela atual administração. Em seu lugar, ideias abstratas são impostas ao mesmo tempo que ações inconsequentes prejudicam os interesses do país, tais como o patrocínio de agendas reacionárias na ONU e o distanciamento dos vizinhos. Nesse sentido, nada se compara à relação de submissão aos Estados Unidos, movimento sem paralelo na história diplomática nacional.
No espírito de Azeredo da Silveira, a primeira versão do Programa Renascença propõe uma política externa pós-Bolsonaro. Com objetivos gerais e metas específicas, conjuga tradições e inovações, algumas delas ousadas, para além de polaridades esquemáticas. É um esforço em pensar a inserção internacional brasileira de forma que atenda necessidades de adaptação e transformação sem deixar de ser pragmático e realista.
Os pilares do Programa Renascença estão amparados no respeito aos princípios constitucionais e na boa tradição brasileira: defendem o estado democrático, o humanismo, o laicismo, o universalismo, a prevalência dos direitos humanos, a integração regional etc. Para além desses fundamentos, dialoga com temas essenciais da contemporaneidade ao priorizar redução de desigualdades e violências, respeito à diversidade e a busca por modelos de desenvolvimento sustentável.
Um mundo conflituoso não permite estratégias internacionais irracionais, pois os custos são irreparáveis. Para abrir caminhos para atuação mais eficaz no cenário mundial, é preciso moderação, um senso de direção bem desenhado. Trabalhar os difíceis temas da agenda internacional com o objetivo de atender reais necessidades internas. Com voz sensível perante outros países, mas firme na defesa dos interesses nacionais, o Brasil deverá se inspirar no lema de Silveira: "saber se renovar".
* Danilo Sorato é professor de história e pesquisador de política externa brasileira. Mestre em história pela Universidade Federal do Amapá (Unifap). Email: danilosorato@hotmail.com.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
Texto publicado no site do UOL em 18/11/2020.
Link: https://noticias.uol.com.br/colunas/democracia-e-diplomacia/2020/11/18/a-diplomacia-deve-saber-se-renovar.htm