terça-feira, 31 de março de 2020

A Política Externa Brasileira não tem ideologia?

Na última sexta-feira (27), o atual Chanceler, Ernesto Araújo, deu uma entrevista para o Poder 360/ SBT. Dentre as pautas apareceram assuntos como, o Corona Vírus, o relacionamento bilateral com os EUA, a China, a Venezuela, dentre outros.
O destaque da entrevista ficou a partir do minuto 27:00 (ver vídeo abaixo), quando o apresentador abordou o tema da Ideologia na Política Externa. Como vem sendo costumeiro no Brasil desde Temer, o Ministro negou que a estratégia internacional brasileira possua alguma ideologia. E a partir dessa assertiva, cabe a pergunta, existe uma possibilidade de neutralidade na Política Externa?


Se olharmos para a ação prática, essa "não ideologia", predicou pelo progressivo afastamento de parceiros estratégicos do PT, como a Venezuela, a Bolívia, a Nicarágua, etc. E em seu lugar, uma aproximação constante com parcerias ocidentais, como os EUA, a Europa Ocidental, Israel, etc. Então, quando essas gestões, fazem essa opção, elas estão efetivamente cumprindo seu papel ideológico na Política Externa Brasileira, tendo em vista o simples ato de escolher.

Ministro, Ernesto Araújo, respondendo ao Poder 360/SBT.

Entretanto, para além da "Desideologização", o que vem sendo pondo em questão é um movimento mais antigo na Política Externa Brasileira, isto é, um reposicionamento do sentimento anticomunista. Com espaço mais amplo que a Guerra Fria, e também um tanto confuso, existe uma movimentação no sentido de não ser ideológico para combater as esquerdas no mundo. Além do afastamento de países bolivarianos-comunistas, essa questão perpassa pelo sistemático combate das instituições internacionais e o multilateralismo, pondo em dúvida suas capacidades de resolução de problemas mundiais, já que são tendenciosos para agendas de esquerda (gênero, religião, etc.). E qual a diferença desse momento para outros períodos históricos?
Em termos de Política Externa Brasileira, pode-se dizer que esse movimento anticomunista ainda é bem recente e incipiente na atualidade. Isso significa dizer que os meios de ação não foram todos definidos pela curta duração. Bem distinto do período de 1930-1985, quando efetivamente as instituições tomaram para si o Anticomunismo. O Itamaraty, tanto no governo Vargas (1930-1945), com o Serviço de Estudos e Investigações (SEI), quanto no período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), com o Centro de Informações do Exterior (CIEX) atuou com órgãos de coletas de informações e espionagem de inimigos vermelhos. Ademais, o Itamaraty, atuou em coordenação com seus vizinhos, como Uruguai e Argentina, para fazer um intercâmbio de informações contra esses inimigos políticos.
Portanto, desde 2016, esse sentimento anticomunista vem construindo paulatinamente seu espaço na Política Externa Brasileira após anos de esquecimento com o final da Guerra Fria. Ainda incipiente, o movimento vem crescendo em torno do discurso da "Desideologização", com medidas ainda tímidas e algumas vezes veladas contra o inimigo vermelho. Todavia não está plenamente institucionalizado, mas é uma meta de curto/médio/longo prazo dos movimentos políticos que ascenderam ao poder.

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