domingo, 7 de setembro de 2014

Independência ou Morte!

"Grito do Ipiranga", obra de Pedro Américo, 1888
Hoje comemora-se 188º aniversário da Independência do Brasil. Mais que apenas um ato simples e reacionário, como dizem alguns historiadores, o processo de emancipação política trouxe novas problemáticas para a formação do Estado brasileiro,  como por exemplo, a produção de uma Constituição (1824), que por sinal mesclava o que havia de mais moderno no ocidente europeu, como a garantia da educação primária, mas ao mesmo tempo, era retrógada, já que nem todos tinham direito ao voto (escravos e mulheres não são proibidos na lei, mas socialmente sim, já que só exerciamos direitos políticos,quem tivesse uma renda mínima anual). Para além desses avanços e recuos, é importante compreender que o processo de independência, foi um caminho fundamental para o nascimento de um país soberano, ainda que ligado fortemente aos lusitanos (D. Pedro I, como príncipe regente do Brasil e de Portugal). Essa escolha não foi apenas uma vontade política de uma meia dúzia que comandava a economia, como alguns sugerem. Mas como aponta Boris Fausto, foi um lugar permeado de resistência e debate dos mais variados projetos, desde a elite portuguesa em Portugal e a do Brasil, passando pela classe mercantil "proto brasileira", e sobretudo, uma camada média e pobre da população que se envolveu nas guerras da Independência, nos Estados do Pará, Piauí, Maranhão, Bahia, e etc.


Abaixo um pequeno poema comemorativo da data:
D.Pedro I, o Libertador do Brasil. Autor: Benedito Calixto



Era arroio humilde e pequenino,
A deslizar, tranquilo e mansamente
Sem ideais e sem destino,
Sem ambições no coração de água corrente.
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Boiadeiros, tangendo, nas estradas,
Cansadas reses, em jornadas lentas,
Buscavam-te por vezes.  E as boiadas
Bebiam, ávidas, sedentas,
Tuas águas barrentas.
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Ipiranga, outro préstimo não tinhas.
Riacho, ribeiro, córrego, regato…
Jamais se soube de onde vinhas,
A serpentear dentro do agreste mato.
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Jamais se soube aonde ias,
Rolando molemente nos calhaus,
A tua vida sempre igual, todos os dias,
Sem dias bons, sem dias maus.
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No teu sono de rio preguiçoso
Não pensaste, jamais, que, num surto triunfal,
Chegarias a ter neste apogeu glorioso
Os fidalgos brasões de nobrreza fluvial.
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E em radiosa manhã de setembro, eis que, ousado,
A tua timidez de córrego abandonas
E penetras na história audaz, transfigurado
Em possante caudal, desafiando o Amazonas.
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E do teu curso, então, muda-se a trajetória;
E demarcas com ela, heril e sobranceiro,
Nos novos mapas da brasileira história.
A linha divisória
Entre Brasil-colônia e o Brasil brasileiro.
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Ipiranga! Que importa, acaso, a procedência
A origem do teu nome?  Ipiranga, em verdade,
No idioma do Brasil traduz Independência,
Na língua nacional quer dizer: Liberdade!
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Rio imenso, o Brasil cortas de sul a norte
E entram pelos sertões teus afluentes, aos mil.
Na voz d’água clamando.  Independência ou Morte.
Nas cachoeiras cantando o nome do Brasil.
-
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Em: Antologia Poética, Bastos Tigre, 2 vols, Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves: 1982.
 

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