sábado, 22 de novembro de 2014

Um dia de Águia em Haia



Monumento "O Águia de Haia", na Praça Santos Andrade, em Curitiba


Dia. Grande, me pareceis. Olhei para a terra, vosso céu e vosso sol, brandiam e retumbavam um sentimento diferente. Hoje, naquela cidade morta, gélida e racionalizada, seria a última vez que proferia um discurso. Eu, sabendo disso, procurei reler a pequena carta do Barão. A Instrução era clara: O Brasil necessita defender o princípio da Igualdade das Nações, e vós, grande orador que sóis, deveis manter a postura inflexível perante as Grandes Potências, pois somos tão grande quanto eles, e por isso, devemos receber o mesmo tratamento. Após compreender a mensagem, pragmática, preparei-me com calma. Lembrei daquela discussão com o Presidente da Comissão, russo igual ao Czar, e que havia insistido na impossibilidade de utilizar temas políticos em uma Conferência sobre Paz e Desarmamento. Desde aquele dia, os jornais europeus começaram a me chamar "O Águia de Haia", talvez pelo meu tamanho miúdo, e pela minha feiura. Após delongar pelos meus devaneios do outro dia, olho para o relógio. Não havia tempo para sequer respirar. Aqui, em Haia, é preciso respeitar os prazos, ou eu realmente perderia o transporte, mas por sorte cheguei a tempo. Começou com a palavra Inglesa, sempre muito educada e baseada em manter o equilíbrio de poder. Não toquem na Bélgica e Países Baixos, e serei seu amigo. Ou ainda, não invente motivo para dominar o Continente, pois assim seremos inimigos. Passado o discurso da equidade, alemães, americanos, franceses, holandeses, japoneses, russos, italianos e outros discursaram. Havia um claro acirramento entre esses países, onde a busca pela hegemonia estava evidente, logo, não interessava igualdade entre as nações. Quando finalmente chegou a minha vez,  senti olhares divididos entre a ojeriza e a admiração.  "Pois bem; a soberania é direito elementar por excelência dos Estados constituídos e independentes. Ora, a soberania importa igualdade. Quer em abstrato, quer na prática, a soberania é absoluta: não admite graus. Mas a distribuição judiciária do direito é um dos ramos da soberania. Logo, a ter de existir entre os Estados um órgão comum de justiça, necessariamente, nesse órgão todos os Estados hão de ter uma representação equivalente." Deixava claro que o meu país soberano, e forte, não iria abrir mão do princípio. Recebo aplausos, alguns eram mero protocolo, outros importante reconhecimento. Pouco ou quase nada avançou naquela Conferência, no entanto havíamos deixado princípios. A saudade de minha terra, da minha casa, da Capital, faziam-me lembrar todos os dias quão brasileiro eu era.  E o primordial foi ver que todas as nações, principalmente aquelas hegemônicas, utilizam  jogos assimétricos de poder.  Por isso, aprendi que nunca me envergonharia de meu país. Ele era igual a mim, pequeno na aparência de poder, gigante na essência do agir. Eramos igual. Igualdade.   

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