quarta-feira, 25 de março de 2015

A Política Externa Brasileira vai ao Parlamento - Parte 2

Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Mauro Vieira em audiência no Senado federal

"(...) Eu gostaria de dizer que a política externa brasileira tem objetivos de Estado permanentes, e, nesse sentido, a execução da política externa, seja agora nesse período, seja nos períodos dos anos anteriores, o objetivo é a inserção internacional do Brasil e a defesa dos interesses do Brasil no mundo.
O Brasil é um ator global, um país de dimensões continentais, um país com uma grande economia, a sétima ou oitava economia do mundo, com uma grande população, um país que sempre esteve presente em todos os grandes acontecimentos da vida internacional, desde a sua vida independente, e que, no século XX, participou de todos os grandes acontecimentos que marcaram esse século, e também atualmente continua. O Brasil tem uma presença universalista e interesses universais, além de interesse e engajamentos regionais.
Eu gostaria de relacionar alguns dos princípios que são norteadores da política externa brasileira para que possamos, com isso, ter um quadro geral e, depois, evidentemente, partirmos para um diálogo e uma troca de ideias.
O primeiro círculo de inserção internacional do Brasil é a América do Sul, e a consolidação da América do Sul como um espaço de integração e estabilidade em todos os âmbitos, e a ampliação dos esforços no mesmo sentido com os demais países da América Latina e do Caribe.
Na nossa diplomacia econômica, intensificaremos nossa ação no sentido de abrir, ampliar ou consolidar o acesso mais desimpedido possível do Brasil a todos os mercados, promovendo e defendendo o setor produtivo brasileiro, coadjuvando suas iniciativas e ajudando onde for possível a captar investimentos. Desejamos a conclusão de negociações comerciais externas que garantam o acesso a mercados ampliados na região e no mundo.
Os laços com o mundo desenvolvido, com os Estados Unidos, com a União Europeia, com o Japão, entre outros, continuarão a ser essenciais para o nosso desenvolvimento econômico e tecnológico. Esses países são fontes indispensáveis de capitais, tecnologias, inovação e mercado.
Daremos ênfase, sem dúvida, à relação com os Estados Unidos, importante parceiro econômico comercial, procurando colocar os mecanismos de diálogo e cooperação com que contamos, na nossa relação bilateral, a serviço de uma relação mutuamente benéfica, respeitosa nas diferenças mutuamente benéfica, respeitosa nas diferenças, mas engajada na obtenção dos resultados concretos nas áreas de comércio, investimento, cooperação científico-tecnológica e educação, entre outros.
Procuraremos, também, consolidar nossa parceria estratégica com a China. Teremos em maio a visita do Primeiro-Ministro da China, Li Keqiang, o que constitui um passo importante no aprofundamento da relação bilateral, que tem ramificações na América do Sul e no mundo. É crucial aprofundar as relações também com os demais países da Ásia, que continua a ser a região de maior dinamismo econômico do nosso Planeta.
Reforçaremos as relações com o BRICS e com os países emergentes. Estamos em fase de implementação do Banco de Desenvolvimento do BRICS e do Arranjo de Contingente de Reservas, cuja criação ocorreu na cúpula do BRICS em Fortaleza, no ano passado. E já estão aqui, nesta Casa, os acordos constitutivos para a apreciação e aprovação pelos Srs. Senadores.
Fica claro que a dimensão Sul-Sul, que se consolida em nossa diplomacia e que não é, de modo algum, excludente, partiu de um claro diagnóstico de que o Sul é parte ativa na geopolítica e na geoeconomia mundial.
Queremos aprofundar a cooperação com os países em desenvolvimento, levada a cabo pela Agência Brasileira de Cooperação, a ABC. Essa cooperação em diversas áreas, como agricultura, biotecnologia e saúde, não apenas fortalece nossos laços com tais países, mas também ajuda a projetar interesses brasileiros no mundo, de forma mais ampla.
Manteremos e aprofundaremos as relações com os países da África e do Oriente Médio, duas regiões ligadas ao Brasil por laços históricos e interesses concretos. Nesta mesma semana, na sexta-feira, eu partirei numa missão para cinco países da África, com uma agenda política e também econômica e comercial. Inclusive, estarei acompanhado pelo Ministro da Indústria e Comércio, o Ministro Armando Monteiro, e teremos, entre outras, uma missão comercial em Angola e Moçambique. Continuaremos atuando com grande engajamento no G20, nas negociações das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, sobre a governança na internet, sobre o desarmamento, entre tantas outras frentes.
Seguiremos empenhados em fortalecer e promover a atualização das instâncias de governança global, como a ONU, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio, em benefício de um sistema internacional mais representativo, mais legítimo e eficaz. Desejamos a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a inclusão do Brasil como membro permanente; a conclusão da rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio, de modo equilibrado e com ganhos efetivos para a nossa agricultura e para o fortalecimento do sistema multilateral de comércio; a reforma do sistema de cotas do Fundo Monetário Internacional, para permitir voz condizente com o peso dos países emergentes no regime financeiro global.
O Itamaraty estará também empenhado em zelar pelo bem-estar dos cidadãos brasileiros que estão no exterior, em caráter permanente ou temporário. Tem buscado para a política consular brasileira os recursos humanos e materiais necessários para responder adequadamente à crescente demanda por serviços e assistência decorrentes da maior presença de brasileiros no mundo. Estou determinado a transformar em ação concreta a prioridade que o discurso diplomático brasileiro, há tempos, confere a essa dimensão relativamente nova da nossa presença no mundo, os grandes contingentes de brasileiros que vivem permanentemente no exterior ou que ali estudam, trabalham ou viajam por períodos mais breves, mas que não por isso são menos merecedores da atenção e da proteção do Governo brasileiro.
Insisto que,para o Brasil, não há dicotomias, nem contradições de interesses das nossas relações com os países desenvolvidos, emergentes ou em desenvolvimento, como não há contradições, nem dicotomias em perseguirmos uma ampla agenda econômica, social, humanitária e de direitos humanos nos planos multilateral e regional. Nossos interesses são geográfica e tematicamente universais e, portanto, não apresentam contradições em si, nem admitem exclusivismos.
O Brasil é hoje chamado a atuar como um dos principais atores do sistema internacional. Nosso peso econômico, político e diplomático torna... Nosso peso político e diplomático torna inevitável essa maior presença no exterior.
Na última década, o mundo vem sofrendo uma paulatina transição para além da clara hegemonia de uma única superpotência. O sistema internacional se caracteriza por uma crescente multipolaridade, que precisa ver-se cada vez mais refletida em um crescente multilateralismo. É nesse novo cenário que o Brasil não pode se furtar a atuar à altura da sua importância geoestratégica, econômica e política. (...)"
(
VIEIRA, Mauro. Audiência Pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal. 24/03/2015)


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