Após a anexação da Criméia pela Rússia, e o auge das análises políticas sobre a questão, remeto aos senhores a mudança de posição da Ucrânia em relação ao Brasil. Primeiramente, quando o assunto estava no ápice da agenda internacional, fez-se um apelo a parceria estratégica entre os dois, para que assim o Brasil tomasse uma posição ativa e ocidental. Como pedido expressamente no Senado Federal, pelo Embaixador ucraniano no Brasil : "Só queremos que nosso parceiro estratégico não fique em cima do muro" (TRONENKO, Rostyslav. 27/03/14)
Embora o apelo tenha sido expresso, o Itamaraty optou por não se envolver afirmativamente na questão, pelo menos na retórica. Diferente disso, foi a sua opção pela abstenção na resolução onusiana sobre a anexação da Criméia, no dia 27/03/2014, no qual ficou claro uma posição tímida, defensiva e contraditória. Alguns dizem que o problema está no envolvimento brasileiro nos BRICS, supostamente, o país teria medo em arriscar a concertação política com os russos. Ora, mas para um país que pleiteia ser um player global, ser neutro não seria uma postura frágil? Ademais, faz-se importante fazer algumas problematizações, por exemplo: porquê ignorar o assunto com uma abstenção? Ou ainda, dentro da diplomacia econômica, qual dos dois países, russos e ucranianos, têm mais peso na balança comercial? Ou na diplomacia cultural, qual deles contribui para o desenvolvimento da cultural no Brasil?
Por fim, em nova entrevista (no vídeo acima) para o Programa Roda Viva , o Embaixador ucraniano no Brasil, mostrou claramente o que os ucranianos acham da abstenção brasileira. Depois de ser perguntado, por Fábio Zanini (Folha de Sp), o que achava da posição brasileira em relação ao conflito, a resposta veio contundente: "Depois da abstenção do Brasil na votação da resolução na Assembleia Geral de Onu, a resolução que apoiava a nossa integridade territorial, nós não temos mais perguntas". Leiam esse "sem perguntas", como uma decepção, porque o Embaixador agiu de forma diplomática, pois não cabe ao mesmo dar posicionamentos pessoais quando representa a Ucrânia. E porque não, como um possível afastamento (que já é histórico) entre os dois países mais a frente. Questiona-se: O país que nos deu Clarice Lispector merece isso?
A decisão brasileira me parece antes de tudo uma postura pragmática, de esperar pra ver o desenrolar do conflito antes de tomar uma postura decisiva. O Brasil tem tomada partido e atuado como intermediário com voz ativa em diversas questões de ordem internacional o que inevitavelmente leva a um desgaste externo, e por razões menos nobres, internos. Toda tomada de decisão tem consequências em ambos os lados e essa não poderia fugir à regra.
ResponderExcluirObrigado Jorge L. Santos pelo comentário, espero que você esteja sempre por aqui. ^^
ResponderExcluirQuanto ao assunto do Post, compreendo as suas conclusões, muito bem expressas por sinal. Em relação, especificamente, a escolha brasileira em se abster, como dito acima, tem a ver com as posições dos BRICS, que por sinal a China tomou a mesma postura. Penso, que é inevitável tomar posições no cenário internacional, ainda mais para quem pleiteia ser um player global. Agora, faço a pergunta: Quem o Brasil priorizou?! E mais ainda, porque priorizou ? Acho que a explicação não ficou tão clara, não sei se por falta de comunicação...
Um grande abraço!