quinta-feira, 4 de junho de 2015

Memórias e Histórias

04/06/2010


Azul ou amarelo? Essa era a questão que vinha a minha cabeça quando tentava, de maneira inútil, escolher a blusa daquela saída. "Vou com o azul, quem sabe ela entenda o meu sinal". Buscava impressioná-la de qualquer forma, a qualquer custo, porque era o primeiro encontro real. Em seus devaneios solitários, pensava o que poderia acontecer. E formulou, algumas hipóteses: Poderá gostar ou não. Se for o primeiro caso, como devo proceder? Sentia em seu instinto, e torcia por aquilo, que iriam encontrar o caminho pelo qual tanto conversavam. Porém, e se ela dissesse não?  Talvez seria mais um fora, entretanto não esconderia a frustração. Nesse momento negativo, ele lembrou de uma última conversa entre os dois: "Eu tive dois relacionamentos frustrantes, porque em verdade nunca chegaram a ser algo efetivo. Foram apenas cartas de intenções, e não projetos definitivos. Isso criou uma certa barreira, uma armadura." Uma armadura. Aquele substantivo era perigoso, costumava ser o lado racional dela, que dizia: não acredite em amores.  Seus pensamentos eram tão fortes sobre o encontro antes dele ocorrer, que soava a tortura interna. Quando acordou das reflexões, estava atrasado. Mas nem tanto, queria impressionar na pontualidade, ao estilo britânico. Não deu certo, porque ao chegar naquele velho local (velho, mas conservado), lá estava a guria sentada na última mesa. Ela mexia no celular controlando o seu nervosismo, e Ele falava segurando o seu coração com o mesmo intuito. Entreolharam-se de forma envergonhada, e procuraram fazer o recomendado, um abraço seguido do clássico: "Oi, tudo bem?". Ela sentiu o tremelique do rapaz, e ao mesmo tempo, um cheiro amadeirado de patchulin. Ao sentarem-se, de forma desajeitada, ele preferiu encará-la, ao invés de sentar ao seu lado. -É melhor ficar frente a frente, não é romântico, mas ela poderá saber bem as minhas verdades -pensou. Não houve tempo para elucubrações, porque eles conversavam alucinadamente, como no campo virtual. Havia um ponto de atração, mesmo que eles tivessem medo do ferir-se. Era aquele momento em que você encontra a beleza até em reticências e vírgulas mal colocadas. De forma curiosa, ela guardou seu relógio, como quem dizia: -perceba, você é importante, e o tempo? O tempo é espectador-. E falando nele, eu comecei a buscar o momento de tocar aqueles lábios, de veras, minguantes. Pensava naquele pedaço de carne, de duas formas: desejo e respeito. Primeiro, queria possui-lo, como animal que sou, domá-lo e ser domado. Depois, buscava confirmar o que sentia pela menina. Então ofereci meu coração, não aquele que vocês pensam, mas uma lembrança antiga. Ela achou adorável, e ficou abobada. Olhos grandes, certo? Descobri que em momentos de prazer, costumava soltar um olhar incomum, sua pupila dilatava, dizendo: isso é reflexo da minha felicidade, tão grande quanto. E para agradecer, aconteceu o segundo abraço do dia. Dessa vez melhor posicionado, encaixado, e sem tremores: Nós éramos dois confidentes, a primeira barreira estava transposta. A partir disso as intenções começavam a ficar mais claras, logo ela sugeriria que fôssemos caminhar. Talvez, quisesse buscar um pouco de ar, ou quiçá, quebrar a sua armadura. Deixou a sua mão levemente para que eu pegasse, mas não havia percebido. Ela não soube interpretar se aquilo era um rechaço ou uma falta de atenção. Então, mais acanhada, resolveu esperar que o rapaz se pronunciasse. Mas não veio aquilo, afinal estava na defensiva, tentando encontrar alguma oportunidade de atuação. E como não havia percebido a sua mão anteriormente, imaginava que ela não estava gostando dele, ou que ela estava apenas sendo educada. E agora pensava: somos alguma coisa, aliás, o verbo no plural existe mesmo? ou era apenas minha imaginação?! 

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