terça-feira, 28 de agosto de 2018

Política Externa nas Eleições 2018 - Parte 6


A candidata pelo Partido Verde, Marina Silva, lança seu programa de governo chamado, Brasil Justo, ético e sustentável, com as principais ideias para alcançar a presidência da República. Na seção, Política Externa como Política de Estado (p. 18), ela mostra quais as suas crenças para a temática em seu governo:

A política externa deve ser uma política de Estado, orientada por princípios e valores, como a defesa dos direitos humanos, da democracia, da autodeterminação dos povos e da não-intervenção, sem sujeição a relativizações de cunho ideológico.
Em nosso governo a política externa terá o compromisso com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, a promoção da paz e da cooperação internacional.
A política externa deve nos proteger do que é prejudicial e canalizar o que nos é benéfico para a reconstrução do País. Nosso protagonismo nas negociações multilaterais por meio da Organização das Nações Unidas e demais organismos multilaterais e regionais será fortalecido e ampliado. Para tanto, devemos retomar nosso o mais rápido possível nosso lugar no Conselho de Segurança.
Para nós, a política externa brasileira deve ser ao mesmo tempo realista e transformadora. Realista para identificar exatamente nossas forças, nossos limites e nossos interesses, sem viés ideológico, e transformadora para identificar como modular as influências externas em nosso benefício e como e quando projetar nossos interesses e influências para o aperfeiçoamento da sociedade internacional. Neste sentido, há muito a contribuir para eventuais iniciativas que ajudem na solução de crises crônicas, como no oriente médio, por exemplo.
O Brasil precisa estar cada vez mais conectado às regiões e correntes dinâmicas da economia mundial e às cadeias globais de valor. Não temos a ganhar com o protecionismo. Precisamos de mercados abertos a nossos bens e serviços. A partir de um Mercosul modernizado e livre de barreiras internas, é preciso concluir as negociações com a União Europeia e com outros parceiros dispostos a uma abertura mutuamente vantajosa. Além das negociações tarifárias tradicionais, precisamos trabalhar por harmonização de regras, por esquemas efetivos de facilitação de comércio, pela promoção de investimentos. Arranjos bilaterais ou em formatos variáveis, que não firam os princípios da união aduaneira, também devem ser buscados. Devemos avançar mais na relação com a Aliança do Pacifico (Chile, Peru, Colômbia e México) visando um tratado de livre comércio.
Quatro regiões do mundo são fundamentais para a política externa Brasileira: América do Sul, América do Norte, União Europeia e Leste Asiático. Com as quatro regiões devemos promover o aumento da interdependência econômica, tecnológica, politica e cultural. Empresas das três ultimas regiões tem vastos investimentos no Brasil que podem ser ampliados substancialmente e assim contribuir a compensar parcialmente a baixa taxa de poupança/investimento interno. Vivemos num mundo em que cresce cada vez mais a importância da tecnologia, por isso a politica externa dedicará uma atenção especial a nossa relação com as sub-regiões do mundo que estão na fronteira da inovação tecnológica (em particular da inteligência artificial e da manufatura 4.0), como por exemplo o Vale do Silício na Califórnia e Baviera na Alemanha.
Nosso esforço externo tem de ancorar-se firmemente na África, continente em rápido crescimento econômico e demográfico. Com os irmãos africanos, nossa perspectiva não deve ser de uma falsa “ajuda”, mas sim de parceria. Vamos criar um ambiente favorável para que empresas brasileiras participem do processo de transformação produtiva e do desenvolvimento sustentável da África.
A liderança do Brasil no tratamento multilateral do desenvolvimento sustentável será resgatada e se tornará uma marca da diplomacia brasileira. O Brasil deve estar na vanguarda das discussões internacionais em matéria de mudança do clima e biodiversidade.

Fonte: Diretrizes do Programa. Disponível em: <https://marinasilva.org.br/>. Acesso: 27/08/2010.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Política Externa nas Eleições 2018 - Parte 5



O candidato do PSDB à presidência da República, Geraldo Alckmin, publicou o seu programa de governo chamado, Diretrizes Gerais. Na seção, O Brasil da esperança, aparecem algumas ideias de Política Externa:

1) Abriremos a economia e faremos com que o comércio exterior represente 50% do PIB. isso é vital para retomarmos a agenda de competitividade do pais;

2) Transformaremos o Brasil no país mais atrativo para empreender e investir na América Latina;  

3) Usaremos a nossa diplomacia para firmar acordos comerciais que nos ajudem a expandir os mercados brasileiros no exterior e a reinserir o país na economia global;

4) Nas Relações Exteriores, o Brasil vai defender vigorosamente os valores que prezamos internamente, como a democracia e os direitos humanos, em especial na América do Sul. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), servirão como referências no relacionamento externo brasileiro. A gestão da Amazônia, bioma compartilhado com nações amigas, receberá especial atenção. O meio ambiente e o desenvolvimento sustentável são grandes ativos do Brasil. Perseguiremos com afinco o cumprimento das metas assumidas no Acordo de Paris;

5) O Brasil vai crescer de forma sustentável. Somos a principal nação do mundo para liderar a economia verde, conciliando desenvolvimento com preservação. Por isso, seremos firmes e técnicos na questão ambiental, evitando a politização e a visão de curto prazo que pautaram os debates ambientais;

6) Reconheceremos as diversas manifestações da cultura brasileira em seu valor intrínseco, como ferramenta de projeção do Brasil e como parte da política de desenvolvimento econômico.

Fonte:

Plano de Governo: https://www.geraldoalckmin.com.br/programa-de-governo-geraldo-alckmin-2018.pdf

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Política Externa nas Eleições 2018 - Parte 4



O candidato do PSOL à presidência da República, Guilherme Boulos, lançou seu programa, Vamos sem medo de mudar o Brasil. Na seção XIX sobre Política Externa, as ideias são as seguintes:

XIX – RELAÇÕES INTERNACIONAIS: SOBERANIA NACIONAL, AUTONOMIA   E SOLIDARIEDADE AOS POVOS
  
O 1% da população global – detentores da maior parte das riquezas – se articula em redes de finanças, informação e segurança sob a administração de estados nacionais, grandes corporações e organizações internacionais. Em nome dos mercados, fragilizam as democracias e promovem uma selvagem disputa que tende a exaurir os recursos naturais do planeta. Para enfrentar o desafio de um sistema que opera para concentrar ainda mais a riqueza e o poder, subjugando o homem e a natureza, é urgente fortalecer redes multilaterais e construir alianças entre os povos.  
A emergência de posições políticas radicais conservadoras, por sua vez, leva ao fortalecimento e recrudescimento de nacionalismos excludentes, como evidenciam a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (Brexit) e a situação em outros países europeus. Esses movimentos, alimentados pelo desemprego e sensação de impotência, funcionam como poderosos meios de opressão e supressão de direitos das populações mais vulneráveis. Se materializam também no ataque a normas e organizações que esses mesmos Estados ajudaram a criar, como o Sistema das Nações Unidas, expondo o mundo a um estado de incerteza e tensão.  
Sob perspectiva nacional, o panorama global segue marcado pela centralidade dos Estados Unidos e pela ascensão da China. A crescente importância da Índia e de países do sudeste asiático aliados à força do Japão e à possibilidade de uma Coreia unificada anunciam uma possível preponderância da Ásia nas próximas décadas. De um ponto de vista mais geral, esses atores, ao lado do bloco europeu ocidental e da Rússia,
formam os grandes eixos do poder mundial, no qual a África e a América Latina seguem com papel marginal. 
No plano econômico, a crise de 2008-09 aprofundou a extrema competição entre países em busca de capitais, controle de fontes de energia e mercados. Com a 4ª revolução industrial – automação e robótica – teremos cada vez mais fábricas sofisticadas com um número decrescente de trabalhadores e trabalhadoras em seu interior e tende a se reduzir a fase de exportação de empresas para o sul do mundo à procura da vantagem comparativa de força de trabalho abundante e barata.
A perspectiva colocada para a periferia – nessa lógica – é disputar a vinda de indústrias de menor uso de tecnologia e intenso uso da força de trabalho. São plantas mais simples, de bens de consumo leves, como têxteis, material esportivo, papelão, vidro etc., indústrias extrativistas, como petróleo – sem refino – e mineração ou maquiladoras. Tais investimentos só se concretizam com rebaixamentos constantes do preço do trabalho e precarização dos contratos de mão de obra (este é o sentido da reforma trabalhista sancionada em 2017). Nesse quadro, são dispensáveis pesquisa, inovação, universidades, sindicatos etc. São também desnecessárias articulações regionais e extrarregionais como Mercosul, Unasul e BRICS que funcionem de forma autônoma.
A geopolítica da economia extrativista expressa bem a atual forma neoliberal de globalização. A intensificação de investimentos para exploração da natureza em países ricos em “recursos naturais” (na realidade bens comuns) através da mineração, agricultura intensiva, pesca em larga escala, extração de madeira, de petróleo e gás, levaram fluxos de capital para o Sul Global. A diplomacia de matérias-primas de países como os da União Europeia, dos Estados Unidos, do Canadá e da China preocupa-se principalmente em assegurar o fornecimento de recursos naturais a seus mercados internos, salvaguardando sua própria competitividade.
Destaca-se com particular ênfase, neste contexto, a aceleração da estratégia do governo chinês de tornar a China um país global, apoiando todos os tipos de empresas a investir fora do país, mediante a oferta de apoio financeiro e coordenação e uma postura mais ativa para a diversificação de seus ativos. No Brasil, a mudança qualitativa na entrada do capital chinês se reflete na escala e velocidade, mas também na forma
financeirizada deste processo, que torna mais difícil conhecer o destino dos investimentos. Identifica-se, hoje, um especial interesse por hidrelétricas e pelo setor de mineração, com sérios riscos socioambientais em especial na região da Amazônia e do cerrado brasileiro.
Essas são algumas das razões profundas do golpe: reposicionar o Brasil na economia global. A mesma lógica regressiva acaba pautando a situação em outros países do continente, como Argentina. Vale lembrar que o golpe brasileiro veio na sequência de duas outras rupturas democráticas, a de Honduras (2009) e a do Paraguai (2012).
No plano político, ainda que ofuscada pela emergência asiática, em particular da China, a hegemonia norte-americana se mantém pela via da manutenção de uma indústria de defesa e aparato militar desproporcionalmente fortes, pela supremacia do dólar como moeda mundial e pelo uso discricionário do seu poder imperial. O discurso das “novas ameaças”, absorvido pelas principais potências, coloca temas como o terrorismo, a migração e o crime organizado como ameaças existenciais, portanto prioridades emergenciais. Isso despolitiza agendas, que passam a ser tratadas na lógica da exceção e de quebras dos mecanismos democráticos.  
Conflitos armados ao redor do mundo, promovidos pelas grandes potências sob a lógica do neoliberalismo, provocam graves violações de direitos e deslocamentos forçados, criando grandes contingentes de refugiados. As violências sofridas pelos palestinos e outros povos oprimidos; o racismo, a xenofobia e as violências contra imigrantes e refugiados, povos tradicionais e minorias, em flagrante desacordo aos compromissos internacionais de direitos humanos e ao direito internacional humanitário, compõem este mosaico preocupante. 
No campo da diplomacia brasileira, as elites antinacionais, antipopulares e antidemocráticas que articularam o golpe de 2016 se prestaram com avidez a desmontar o que restava de uma política externa mais autônoma e soberana. 
A pouca legitimidade diante da opinião pública internacional e a ausência de resultados relevantes em politica externa não os impediram de atender a demandas de grandes interesses globais. Entregaram parte das reservas do pré-sal, indenizações bilionárias foram pagas pela Petrobrás no exterior, houve mais abertura e
desnacionalização de setores estratégicos da economia e assumiram compromissos de liberalização do fluxo de capitais internacionais ainda mais abrangentes.  
O panorama continental é marcado pelo abandono da UNASUL e esvaziamento do Mercosul, conformando-se com seu papel de mera área de livre comércio imperfeita, alterando assim as ambições em relação a um desenvolvimento regional comum e solidário. Ao mesmo tempo, o Brasil abriu mão da sua capacidade de interlocução, gerando um vácuo de atuação diplomática frente aos conflitos políticos na América Latina. Nesse contexto de retração, a vinculação da Colômbia à OTAN representa sério obstáculo na busca da integração regional.  
O distanciamento da África, a queda da qualidade da representação brasileira nos BRICS e em outras coalizões e a redução dos projetos de cooperação Sul-Sul coroam o abandono de um papel ativo do Brasil.
Para fazer frente a este cenário, propomos uma política externa nacional, soberana, antiimperialista, solidária, democrática e popular, atenta às complexidades e desafios do Século XXI. É essencial que seja construída com canais mais fluidos de diálogo com a sociedade.
 
Para além da política externa ativa e altiva 
A política externa dos últimos governos antes do golpe foi relativamente bemsucedida em alguns de seus propósitos, mas esbarrou em limites internos e externos. Internamente, o maior limite foi dado pelas contradições do pacto de governabilidade. Outras dificuldades vêm da pouca abertura do Itamaraty e demais Ministérios, da falta de interesse e capacidade de supervisão do Legislativo, das pressões e grupos de interesse dos setores público e privado, do rarefeito debate público sobre política externa. Os limites externos estão relacionados à insuficiência de uma política estratégica perante a conduta imperialista das grandes potências. Esse processo ocorre num cenário internacional marcado pelas divisões entre os países em desenvolvimento, pelas crises cíclicas da economia mundial e pela inércia que prevalece nas grandes organizações multilaterais. 
A atuação internacional brasileira buscou, nesse período, consolidar sua identidade de potência emergente, mediadora entre o Norte e Sul global, com capacidade de incidência no sistema internacional. Expressão maior disso foram as disputas brasileiras em organizações multilaterais, como OMC, FAO, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Conselho de Segurança da ONU. Almejou protagonismo nos rumos dos debates sobre desenvolvimento e se lançou como empreendedor de normas internacionais. Teve participação central nas agendas multilaterais de comércio, finanças, meio-ambiente, direitos humanos e outros temas, ainda que com contradições e limites. A criação dos BRICS baseava-se em agenda que apostava na multipolaridade e na reforma do sistema internacional. 
Por outro lado, o predomínio da visão instrumental sobre as relações Sul-Sul evidenciou-se na exportação dos conflitos e contradições do nosso modelo de desenvolvimento. Em Moçambique, os investimentos no ProSavana e no Corredor Nacala, em concertação com o Japão, guardam semelhanças não apenas com a experiência do cerrado brasileiro, mas também com a expansão da fronteira do agronegócio em Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), configurando um modelo de inserção no sistema agroalimentar internacional subordinada aos interesses da agricultura de exportação. 
Some-se a isso a controversa intervenção militar no Haiti. Realizada no marco das Nações Unidas, a operação reproduziu a lógica de atuação das grandes potências, com consequências graves para os direitos do povo haitiano. Por outro lado, acabou servindo, na prática, como exercício de treinamento das forças armadas para o desempenho das funções de polícia e violações, especialmente no Rio de Janeiro. 
A atuação na área dos direitos humanos foi oscilante e apresentou contradições. Em alguns momentos, em coordenação com a sociedade civil, pautaram-se internacionalmente agendas progressistas. O respeito das obrigações que emanam das convenções ratificadas e o cumprimento de decisões internacionais ficaram aquém do desejável, mas pontualmente levaram a reformas significativas, como a aprovação da lei Maria da Penha, fruto de demandas internas que culminaram em decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; e a conformação - tardia e frágil - da Comissão Nacional da Verdade, cujas recomendações ainda não foram cumpridas.
 No que toca à diplomacia, entre as demandas acumuladas se encontra a construção de um quadro de servidores que expresse a diversidade do Brasil. As mulheres constituem apenas 23% do corpo diplomático e não comandam nenhuma das 12 principais Embaixadas. Nunca houve mulher chanceler, nem secretária-geral – segundo cargo mais importante. Os negros, por sua vez, não atingem 3% do corpo diplomático. Mesmo com nichos de alta competência e reconhecimento internacional, de forma semelhante ao Judiciário, o Itamaraty é uma estrutura elitista, corporativista, isolada da população e que reflete de forma particularmente acentuada as questões de classe, gênero e raça que permeiam a sociedade brasileira. 
A criação de um Conselho de Política Externa é uma reivindicação antiga da sociedade civil, de movimentos sociais e de setores progressistas da administração pública. 
Propostas
 
Nossas propostas para as relações internacionais do Brasil estão baseadas em três eixos que expressam o projeto representado por esta candidatura: i) Soberania e autonomia; ii) Direitos humanos e solidariedade; iii) Democratização da política externa. 
A política externa não romperá sozinha com os entraves ao desenvolvimento, devendo atuar em linha com outras esferas do governo e com os anseios da sociedade. No entanto, pressões e constrangimentos externos por parte de grandes potências e dos interesses econômicos a elas atrelados obstaculizam a busca de um desenvolvimento justo, com igualdade e democracia, devendo ser enfrentados com visão estratégica e de longo prazo. Assim, em primeiro lugar, defenderemos o princípio de soberania e da autonomia nas relações exteriores do país a partir da recuperação de uma ideia de Nação popular, diversa e democrática. 
Uma primeira ameaça a isso são as políticas de entrega e desmonte patrocinadas pelo governo Temer, em especial nas áreas de energia e defesa. Isso se concretiza com a venda de refinarias da Petrobrás, da Eletrobrás e da Embraer, em especial. Outros riscos provêm dos novos nacionalismos conservadores, em particular da política externa norte
americana de Donald Trump. Esta tem como centro a defesa agressiva dos interesses dos EUA no mundo, bem como a promoção do ódio e da intolerância racial, da xenofobia e da violência sexual e de gênero.
Em segundo lugar, propomos uma política externa estruturada pela firme defesa dos direitos humanos e do princípio da solidariedade entre os povos. As lutas contra todas as formas de exploração e opressão, centrais para essa candidatura, devem moldar a atuação externa do Brasil. Isso significa a assumir protagonismo na defesa internacional da justiça social e da democracia e nas discussões ambientais e climáticas. Significa também uma postura de abertura e cooperação com os mecanismos internacionais de proteção dos direitos humanos, superando uma visão estreita de soberania que ignora as relações densas e complexas entre eles, a sociedade civil e os movimentos sociais brasileiros. Implica também compromisso com os direitos de outros povos e setores oprimidos.
Por fim, defendemos a democratização da política externa, que, como toda política pública, deve ser transparente e participativa para refletir as visões e anseios da sociedade.  

1. Soberania & autonomia:  
i. O Brasil irá se posicionar de forma clara contra os novos nacionalismos conservadores, em particular a política externa norte-americana de Trump. Articularemos, para isso, diversos países na defesa dos Direitos Humanos, contra o militarismo e as demais expressões destes processos antidemocráticos;
ii. Articularemos, também, um amplo movimento de retirada de bases militares norte-americanas no continente, e de oposição à possibilidade de presença da Quarta Frota no Atlântico Sul;
iii. Retomar a integração soberana latino-americana como bloco de contraposição ao imperialismo e espaço democrático. Para isso, fortaleceremos, reestruturaremos e atualizaremos os organismos multilaterais criados desde a redemocratização, como o Mercosul, a Unasul e a CELAC (América Latina e
Caribe). Tornaremos suas esferas decisórias mais participativas e transparentes;
•  No Mercosul, promover medidas para o seu fortalecimento institucional e para uma maior integração entre as sociedades dos países membros, condições para que o bloco resista a mudanças de orientação política dos governos. Propor a realização, em 2020, a primeira eleição direta no Brasil para o Parlamento do Mercosul.  
iv. Lutar pela democratização e maior efetividade das instituições internacionais, como as diversas instâncias e agências da ONU; 
v. Manifestar franca oposição a acordos com a OCDE e evitar articulações assimétricas e apressadas de comércio internacional.;
vi. Retomar a agenda Sul-Sul e a diversificação de parcerias com a Ásia e a África para além das relações comerciais. Retomar a priorização do IBAS e outros mecanismos multilaterais;
vii. Retomar um papel ativo e propositivo nos BRICs, promovendo a instituição de políticas de gênero, participação e acesso à informação, além de salvaguardas sociais e ambientais no Banco dos BRICS, tal como já existe em outras instituições financeiras internacionais;
viii. Criar um programa estratégico de análise dos investimentos estrangeiros, mapeando a entrada dos investimentos externos e definindo setores de prioridade nacional, inclusive os que não podem ser destinados a venda ou exploração ampla pelo capital estrangeiro, como geração de energia, petróleo, terras agricultáveis, água e outros;
ix. Criar, no Itamaraty, carreiras especializadas em países/línguas de crescente relevância, especialmente na Ásia (China, Rússia, Índia, Japão, Coréia);
x. Prestar solidariedade ao povo venezuelano, pondo fim ao Grupo de Lima, retomando a mediação dos conflitos nos espaços multilaterais regionais – Unasul ou Mercosul – e reforçando a vigilância quanto às ameaças antidemocráticas e o cerco imperialista. 
Há cerca de 4 milhões de brasileiros e brasileiras vivendo no exterior. Essa comunidade está organizada, tanto para defender os interesses de nosso país, a democracia aqui. Também produz e contribui para nossa economia e imagem no mundo. A comunidade brasileira vivendo no exterior, acreditando em nosso projeto nos procurou apresentando demandas significativas que esta Aliança defende para o governo:
xi. Ampliação acordos internacionais sobre a previdência. Para que anos trabalhados fora do Brasil valham para aposentadoria; convênios nesses moldes já existem com Portugal e Itália. Isso garante a manutenção da relação destes brasileiros e brasileiras com o país.
xii. Construir processos de diálogo, a partir da dinâmica de democracia direta e do ConPEB, para aumentar a participação política dessa população nos rumos do Brasil. Desde participação em plebiscitos e referendos, ou seja, aumentar a participação na vida institucional brasileira. Os compatriotas vivem fora, mas não deixam de ser brasileiros e brasileiras, tem direito a participar da vida social do Brasil!   

2. Direitos humanos e solidariedade
i. Assumir um papel de liderança internacional nas discussões multilaterais sobre direitos humanos e justiça social, meioambiente e clima, habitação, regimes de comércio e investimentos e outros temas;
ii. Apoio a luta do povo palestino por liberdade, igualdade e justiça, apoiando seu direito inalienável à autodeterminação expresso no apoio a um estado palestino laico e não racista;
reiterar nossa oposição a todas as formas de discriminação, incluindo o antissemitismo e a islamofobia, e a todas as formas de colonialismo e imperialismo;
iii. Promoção de cláusulas sociais, trabalhistas e ambientais no comércio internacional, a partir dos patamares já consolidados da legislação brasileira antes do golpe, defendendo um modelo que encurte, internalize ou pelo menos regionalize as cadeias produtivas;
iv. Revisão das normas de propriedade intelectual formuladas no TRIPS, já que o sistema de patentes, como atualmente concebido, impõe custos sociais incalculáveis, além de limitar a inovação tecnológica;
v. Estabelecer princípios de atuação para empresas brasileiras no exterior, coibindo uma perspectiva puramente utilitária, predatória do meio ambiente e violadora de direitos;
vi. Promover a proteção aos refugiados e a garantia dos direitos humanos de migrantes, incluindo a sua não criminalização e a integração social, por meio da regularização migratória e do amplo acesso a direitos. Estes são garantidos no Brasil pela nova Lei de Migração, Lei Nº 13.445 de 2017;
vii. Abertura e cooperação com os mecanismos internacionais de proteção de direitos humanos; cumprimento das suas decisões e sentenças;
viii. Cumprir as recomendações recebidas pelo Brasil na Revisão Periódica Universal, realizada no Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2017;
ix. Instaurar, em janeiro de 2019, o órgão de seguimento às recomendações da Comissão Nacional da Verdade, e dar início à política de localização e abertura dos arquivos da ditadura militar; apoiar a ADPF nº. 320, de autoria do PSOL, que defende a inconstitucionalidade da aplicação da Lei de Anistia para os crimes de lesa humanidade. 
 
3. Democratização da política externa 
i. Reforçar políticas para a democratização e maior diversidade no Itamaraty;
ii. Ampliar o diálogo com o Legislativo, demais órgãos da administração pública e esferas de governo – Ministérios, estados e prefeituras;
iii. Criar o Conselho de Política Externa (ConPeb), com participação da sociedade civil e movimentos sociais. 


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Política Externa nas Eleições 2018 - Parte 3

O candidato Ciro Gomes entrevistado pela rádio Jovem Pan
A rádio Jovem Pan entrevista o candidato pelo PDT, Ciro Gomes, em junho último. Em determinado ponto da sabatina, ele é questionado sobre alguns temas de Política Externa (minuto 56:22 até 01:01:05). Veja o que diz na transcrição abaixo:

Marco Antônio Villa: ... Relações com os países bolivarianos, com a Venezuela qual é... [interrompido]

Ciro Gomes: O Brasil vai se integrar com os seus vizinhos e não se metera nos assuntos domésticos de cada um deles...

Marco Antônio Villa: Mesmo que viole os direitos humanos, seja uma ditadura... [interrompido]

Ciro Gomes: ... a juízo de quem? 

Marco Antônio Villa: O senhor acha que a Venezuela é uma democracia?

Ciro Gomes: A Venezuela é uma democracia tão, tão democrática quanto a brasileira e a americana...

Marco Antônio Villa: "pera um pouquinho", aí é demais... explica isso aí 

Ciro Gomes: Eu gosto do regime? Não. Não gosto do regime...

Marco Antônio Villa: Mas falar que é democrático...quantas centenas de...não foram assassinados, presos políticos... [interrompido]

Ciro Gomes: Quantas pessoas foram assassinadas no Brasil, Villa?

Marco Antônio Villa: Espera, mas no Brasil por razões políticas não...

Ciro Gomes: E a Maryelle é o quê?

Marco Antônio Villa: Não, mas..."pera um pouquinho"... ainda está em investigação...

Ciro Gomes: Sim, você acha que na Venezuela...Não me ponha para defender o regime que eu não defendo, mas é uma democracia...não disse que o Brasil está sob um golpe de Estado e ainda sim o protocolo democrático continua sendo cumprido, eu sei que viram um sinto...eu não defendo o regime do Maduro, eu acho que o Brasil está sendo irresponsável porque o nosso papel não é tomar lado na Venezuela, nosso papel é mediar aquele conflito antes que ele discambe para uma guerra civil e na medida em que o Brasil empurrado por uma elite absolutamente irresponsável vira gendarme da América do Norte nesse assunto...nós nos demitimos e somos o único país do mundo, ó aqui o brasileiro que "tá" me ouvindo, ao regime venezuelano que eu não aprecio deu ao Brasil 5 bilhões de dólares de superávit a nosso favor... [interrompido]

Marco Antônio Villa: ... e não paga os empréstimos do BNDES...

Ciro Gomes: 5 bilhões de dólares por ano...em nosso favor...

Marco Antônio Villa: Mas não paga...

Ciro Gomes: Sim, agora não está pagando o empréstimo, isso eu não sanciono...não me ponha para defender o regime...

Entrevistadora: Candidato, mas o país está à beira de uma crise, uma guerra civil, como é que o senhor acha que é uma demo... [interrompido]

Ciro Gomes: Interrompe...

Entrevistadora: Calma, como é que...mas é é isso, se é uma guerra civil como é que pode ser democracia as duas coisas?

Ciro Gomes: Porquê? Porque a oposição não está respeitando o regime...

Entrevistadora: Ah é a oposição que está provocando quase a guerra civil e não o regime?


Ciro Gomes: A oposição é a coisa mais i... eu ia dizer uma palavra indizível em rádio... mas é uma das coisas mais podres que a América conhece...

Entrevistadora: E o regime, não?

Ciro Gomes: O regime muito mais...

Entrevistadora: ... está matando as pessoas de fome...

Ciro Gomes: ...vocês está me botando onde eu não estou, então veja bem, aquilo ali é uma bomba... então, me ouça... [interrompido]

Marco Antônio Villa: mais de um milhão de venezuelanos foram para a Colômbia...

Ciro Gomes: Não, rapaz...Aquilo é uma tragédia humanitária, o Brasil já recebeu mais de 60 mil ...os nossos irmãos de Roraima estão pagando o pão que o diabo amassou, é uma gente sofrida, é uma questão humanitária gravíssima... a questão nossa é que papel deve desenvolver esta grande nação, que tem natural ascendência sobre os vizinhos... é de se alinhar toscamente a posição de isolamento da Venezuela que os americanos estão nos impondo, trazendo para fazer manobra provocativa militares americanos na fronteira ou assumir uma posição de mediação? que é nossa responsabilidade de mais ninguém...

Marco Antônio Villa: Para o senhor é uma democracia...

Ciro Gomes: Claro que não... como não tem eleições plurais, não tem... veja bem, a oposição venezuelana participou das eleições, se você me diz que é uma ditadura, você não participa de eleições... a elite brasileira pirou, a elite brasileira pirou, desse "americanofilismo" pirou... a oposição da Venezuela com todas as denúncias que tem participou das eleições...

Marco Antônio Villa: é uma fração mínima que participou... [interrompido]

Ciro Gomes: Sim, caramba, mas em Cuba não tem... Cuba é um partido único, partido único, tem eleições por dentro do partido e tal, mas é partido único... a oposição de Cuba não participa pelo contrário foi para o exílio, por regra e etc...

Marco Antônio Villa: Mas a Constituição brasileira, o senhor conhece, ela diz logo em seus primeiros artigos que as relações externas do Brasil, uma das prioridades é a questão dos direitos humanos, o respeito ao direitos humanos... [interrompido]

Ciro Gomes: Não, não o Brasil é guiado internacionalmente, isso está rasgado por essa gente do golpe, o Brasil é guiado internacionalmente por princípios muitos sólidos, um deles é a não intervenção em assuntos domésticos , o outro é a solução pacífica dos conflitos, então esses dois princípios é que devem, obrigam o Brasil a tomar uma posição de mediador no conflito venezuelano... eu não sou do PT que alisa o Maduro...mas eu não posso deixar como possível futuro presidente do Brasil que não fique muito claro que o nosso papel é desarmar aquela bomba, é desarmar aquela bomba, sabe o que está acontecendo, Villa? Em função da presença da China na Venezuela, em função da presença crescente da Rússia na Venezuela, tudo isso nas nossas fronteiras, e o Brasil calado... os americanos convidaram a Colômbia para entrar na OTAN, veja o que está acontecendo na nossa região...veja pela omissão do Brasil, pela vassalagem dessa gente que está nos governando sem voto, o Brasil está assistindo calado assim...China e Rússia tomando centralidade na Venezuela...

Marco Antônio Villa: Isso é perigoso para o Brasil...

Ciro Gomes: Isso é dramaticamente perigoso para o mundo... 

domingo, 5 de agosto de 2018

Política Externa nas Eleições 2018 - Parte 2

Jair Bolsonaro em entrevista para rádio Jovem Pan

No último maio, o candidato a presidente, Jair Bolsonaro pelo PSL, é sabatinado pela rádio Jovem Pan. Em certo ponto, ele é questionado acerca de Política Externa (min 40:04 até 42:39). Segue a transcrição abaixo:

Marco Antônio Villa: Perfeito. Deixa eu só perguntar uma questão já que o senhor é candidato a presidente do Brasil algo tão importante, nós falamos aqui, naquela vez, naquele encontro que o senhor esteve aqui sobre algumas questões de Política Externa tanto no campo econômico quanto no campo político, como que vai ser a política externa do senhor do Brasil e a questão dos acordos econômicos, qual é o papel do Mercosul, da União Europeia, da Globalização? como é que o Brasil vai se inserir nessa nova ordem econômica internacional? e no campo político, por exemplo qual a nossa posição em países que desrespeitam os direitos humanos como a Venezuela? O senhor anteriormente fez uma questão sobre direitos humanos que é uma linguagem mais vulgar feita por noticiário policial que não entendem a importância dos direitos humanos, não é direito para bandido, é direito para cidadão de bem, agora como é que vai ser a Política Externa num eventual governo do senhor?

Jair Bolsonaro: O que a gente estava discutindo é questão policial, então eu respondi no tocante ao perfil... [interrompido]


Marco Antônio Villa: Perfeito. Então em Política Externa, como é que vai ser... [interrompido] tranquilamente...como é que vai ser...tranquilamente [interrompido]

Jair Bolsonaro: Se eu falar em Educação no primeiro grau [interrompido]

Marco Antônio Villa: Aí você vem com um lança-chamas, aí eu vou fugir, meu deus do céu... [interrompido] 

Jair Bolsonaro: Acha que vou lançar, um lança-chamas no mercado, Villa? [interrompido]

Marco Antônio Villa: Só faltava você ser a favor da liberação da operação do lança-chamas...não brinca não... [interrompido] Vamos voltar para a Política Externa...Vamos falar seriamente [interrompido]

Jair Bolsonaro: Oh Villa, você fala em coisa séria, mas fica debochando... Um exemplo concreto de Política Externa... no governo da senhora Dilma Rousseff não recebeu as credenciais do embaixador de Israel, é uma política feita pelo viés ideológico, e isso tem que deixar de existir... eu particularmente, vejo com bons olhos o bilateralismo... você pode ver, fui procurado esses dias... eu sei que faz parte do Mercosul, por um deputado recém eleito que vai fazer parte do atual presidente eleito do Paraguai, quer se aproximar de nós, e logicamente interessa o Paraguai... eu sei que o PIB do Paraguai é menor que o de muito estado do Brasil, mas eu sei que estão crescendo 7% lá... [interrompido]

Marco Antônio Villa: Mas o nosso exemplo não pode ser o Paraguai, com todo o respeito ao Paraguai, somos um grande país [interrompido]

Jair Bolsonaro: Mas eu acabei de falar para você que o PIB do Paraguai é menor que muito estado do Brasil...[interrompido]

Marco Antônio Villa: Você tem razão... [interrompido]

Jair Bolsonaro: Com toda a certeza, você entende muito mais que economia que eu... só que eu sou uma pessoa muito mais humilde [interrumpido]

Marco Antônio Villa: E da Política Externa, qual a relação do Brasil com os Estados Unidos? [intervalo, mudança de tema na entevista]

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Política Externa nas Eleições 2018 - Parte 1

O candidato João Amoêdo em entrevista para a rádio Jovem Pan

Em 2014, essa ferramenta digital publicou algumas ideias dos candidatos a presidente da República sobre Política Externa. Com a aproximação do pleito eleitoral, inicia-se mais um ciclo, a fim de compreender o que pensam/defendem/propõem para essa área, esquecida e pouco explorada nos debates. 
No último Junho, o candidato do Partido Novo, João Amoêdo é entrevistado pelos integrantes da rádio Jovem Pan. Em determinado momento, o entrevistador Marco Antônio Villa emite a seguinte questão transcrita do vídeo abaixo (minuto 15:40 até 19:59):

Marco Antônio VillaÉ, candidato...eu fico pensando antigamente, 50 anos atrás, 40...As pessoas tinham muita preocupação em discutir no Brasil...elaborar um projeto para o Brasil. O grande momento, alguns grandes momentos do século XX brasileiro...Anos 30, 40, 50 e 60...Ah, a questão do papel do Brasil no mundo e a questão das relações exteriores...em um eventual governo do senhor, como será a inserção do Brasil no mundo? Nesse mundo globalizado que não há mais aquela velha polarização da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética...esse mundo multipolar é mais complexo do que era até a queda do Muro em 1989... Qual é a inserção do Brasil no mundo? Muito se pensava em Brasil potência em certa época, durante o regime militar, agora, muitos, esse atual governo não tem Política Externa...o anterior tinha uma política pré-queda do Muro... como é que ficaria no governo do senhor a política Externa do Brasil?  

João Amoêdo: Villa, no meu entendimento, o principal objetivo de Política Externa do Brasil deveria se abrir mais a economia, trazer parceiros para investir no Brasil... é... esse deveria ser o desafio... e se aliar com aquelas nações que têm princípios e valores semelhantes ao que a gente gostaria de ter, e não o que foi feito no passado... é que a gente se uniu muito com países atrasados, quer dizer claramente com um viés ideológico, defender bandeiras partidárias e não bandeiras da nação...

Marco Antônio Villa: Mas o projeto nacional tem contradições, candidato... o Brasil tem contradições com os Estados Unidos, nós não podemos estar no mesmo barco que os Estados Unidos porque historicamente, nós temos problemas...nós ficamos de joelhos, eu sempre falo de uma elite brasileira que adora os Estados Unidos.... tudo lá é melhor... na verdade são macacos, não pensam, para eles não existe nação... eu escrevi um artigo hoje, no Globo, que trata disso...eles habitam o Brasil, eles não são brasileiros, são traidores da pátria...então para mim, um bom governo é aquele que sabe que nós temos o interesse nacional...temos contradição com outros países, os Estados Unidos, China, Europa...podemos conviver com eles, mas que nós somos diferentes, ou seja, nós é que cantamos de galo e não somos galinha...o problema é que os liberais brasileiros algumas vezes são galinhas, não sabe que o Brasil tem a tradição de ser galo... me desculpe um pouco essa linguagem, mas o que me irrita um pouco... e aí nós vamos ter forças armadas presentes, fortes, forças armadas não é jogar dinheiro fora...nós temos uma presença no mundo e que passa por uma indústria bélica brasileira né? Passa por ter forças armadas importantes... o Brasil é um grande país, o Brasil não é para tal, os Estados Unidos manda e a gente faz porque a...direita brasileira, que direita, eles nem sabem o que é direita...Eles adoram falar do presidente americano atual, que é um bobalhão...e não sabe que nós temos a nossa visão de país, durante o regime militar que tem muitos defeitos e algumas qualidades, mas nós tínhamos a política do Azeredo da Silveira, o Pragmatismo Responsável, o interesse nacional acima de tudo e agora no governo do senhor, nós vamos ficar de joelhos para os Estados Unidos, para a China ou a Europa ou o Brasil vai cantar de galo?

João Amoêdo: De jeito nenhum, a gente não tem de ficar de joelho, o Brasil tem vantagens competitivas em vários segmentos, o agronegócio no Brasil é um exemplo, é mundial, de produtividade e capacidade de entrega... então o que eu tenho dito é o seguinte, o que a gente precisa é colocar o que a gente tem de vantagem competitiva do nosso lado e buscar o que para trazer do outro lado é sem essa... e mesmo com a China não tem porque a gente ficar numa condição subalterna... o Brasil é um país rico em recursos naturais, um povo empreendedor, trabalhador, criativo, então tudo isso a gente tem que mostrar... então eu concordo com a sua linha, a gente não tem porque ser refém desse processo, não precisa ser... acho que isso é o mais importante, agora na medida em que a gente abre mais as nossas fronteiras, abra mais os nossos mercados, eu confio exatamente na nossa capacidade... agora o que existe hoje que é um fechamento muito grande, é uma proteção muito grande para quem está aqui e isso quem paga a conta é o cidadão brasileiro, pagando uma carga tributária elevada e pagando ainda o valor muito alto em todos os produtos que consome... então a gente abrir mais e isso vai ser muito bom, por exemplo para o agronegócio com a capacidade de exportar maior e para outros mercados, então o Brasil tem que ter...é a gente não precisa ter medo de abrir porque nós somos competitivos.