sábado, 3 de janeiro de 2015

Os discursos de transmissão de cargo: Estabilidade, Crise e Solução?





- Basicamente, é um discurso que enumera os princípios e as linhas de atuação da Política Externa conduzida por Celso Amorim entre 2000-2010. Elege as áreas prioritárias, em nível multilateral, que são a América do Sul e seus respectivos agrupamentos, UNASUL e MERCOSUL;

"(...)Ancorados em nosso entorno sul-americano, teremos a nossa disposição um MERCOSUL robusto e uma UNASUL crescentemente coesa. Compete-nos completar a transformação da América do Sul em um espaço de integração humana, física, econômica, onde o diálogo e a concertação política se encarregam de preservar a paz e a democracia. (...)"


- e em nível bilateral, a Argentina.

"Central nesse empreendimento é a relação Brasil-Argentina, que vive hoje um momento de plenitude e avança em um vasto espectro de iniciativas que incluem áreas como a cooperação em matéria espacial e dos usos pacíficos da energia nuclear.(...)"

Reitera a posição brasileira de potencial ator emergente no Sistema Internacional.

"Em um mundo no qual não se dissiparam ainda totalmente as dicotomias Norte-Sul, a ação diplomática do Brasil pode contribuir para a promoção de relações mais equilibradas em torno a interesses compartilhados.(...)"

É um momento de estabilidade inédita no Ministério desde pelo menos o Barão do Rio Branco. Sendo assim, não havia espaço para pontilhar crises ou problemas que estavam acontecendo internamente. Porém...


2) Ministro Luiz Alberto Figeuiredo, Discurso por ocasião da transmissão do cargo, 2013 : Entre uma crise e outra...





" (...)Não surpreenderá a ninguém que eu cite como exemplo o que fizemos na Rio+20. Demos, ali, passos essenciais. O desenvolvimento sustentável está, hoje, no centro da agenda internacional, e no centro do desenvolvimento sustentável está a erradicação da pobreza. Estamos, agora, engajados na construção de uma Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 – grande tema das Nações Unidas para os próximos anos –, na qual temos a perspectiva real de colocar-nos como objetivo, em um horizonte de tempo alcançável, a erradicação da pobreza em escala global. "

- Antes que qualquer outro tema mais colossal, como a Reforma do Conselho de Segurança, apareceu o tema do Meio Ambiente. Indícios de que a pasta iria aprofundar a participação nessa seara.


"(...)Não estaremos no bom caminho se permitirmos que se percam aspectos essenciais de nossa cultura institucional, como o princípio da hierarquia, já mencionado pelo Embaixador Patriota.
Todos sabemos que a hierarquia não exclui o debate de ideias, nem a consideração de uma pluralidade de perspectivas. Queremos um Itamaraty arejado, rico em discussões e estudos, aberto a novos conceitos. Mas o debate de ideias tampouco exclui a obediência e o respeito à institucionalidade. Estes são imperativos do serviço público."


- Uma indicação em especial para o caso do Dep. boliviano Roger Pinto Molina. A primeira crise institucional do Itamaraty após 12 anos de instabilidade total. A partir daqui, as crises iriam se suceder como o sol que nasce diariamente.


3) Ministro Mauro Vieira, Discurso por ocasião da transmissão do cargo,2014: Crise Total ou Solução?



"(...) a Senhora Presidenta traçou as linhas gerais da política externa que deseja ver executada em seu segundo mandato. Mais que isso, a Presidenta traçou as linhas gerais das políticas públicas que pretende desenvolver, deixando claro para a diplomacia brasileira que papel deverá desempenhar para coadjuvar os esforços do Governo no plano interno, para fazer das relações internacionais do Brasil um instrumento de apoio e impulso a essas políticas, a começar pela política macroeconômica. "   

- O primeiro sinal em relação a atuação do próximo Ministro: dar ênfase na Diplomacia Econômica, especialmente na Política Comercial brasileira no mundo. O Alinhar-se com a política interna é citado abaixo

" (...) A inter-relação entre os assuntos internos e os internacionais é cada vez maior. (...)"

- Logo, se internamente haverá um ajuste macroeconômico, no sentido de melhoras as diversas facetas da atuação dos últimos anos. Externamente, a busca será muito similar, leia-se, mais mercados, mais relações superavitárias, etc.


"(...) É preciso que a agenda comercial externa reflita essa realidade. Redobraremos esforços na área do comércio internacional, buscando desenvolver ou aprimorar as relações com os mercados externos – todos os mercados externos.(....)"

- A ênfase em todos "os mercados externos" é uma reação natural as críticas costumeiras das Eleições 2014, quando criticava-se a pouca ou ínfima atuação com os mercados tradicionais do Ocidente, dito de outro forma, EUA e União Europeia.


"(...) Quero afirmar aqui meu compromisso com o aprimoramento e modernização dos métodos de trabalho do Itamaraty, com o fortalecimento e o aprimoramento da Carreira Diplomática e das demais carreiras do Serviço Exterior. (...)"

- Aqui, a crise não se trata apenas de hierarquia como em 2013, mas também de questões estruturais e funcionais, por exemplo a rebeldia de certos jovens secretários em busca de progressão funcional, ou também, problemas financeiros e orçamentários que geraram certos constrangimentos outrora pouco vistos.  

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