sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Crônicas de um dia (in) esperado

Senhoras e senhores, vos apresento as minhas produções mais íntimas, não diria bem literária, mas talvez seja algo que traga mais intimidade com a palavra, procurando retirar sua rigidez e ordem. Assim,  penso eu, possibilitará novos sonhos e desencontros, novas loucuras e normalidade. Lógico, que a diplomacia estará nessa roda, que não é viva, mas promete uma dose calibrada de adrenalina...apertem os cintos, petits/es diplomates!

 


Crônicas de um dia (in)esperado



 

Acordo. Tic-tac, blim. O relógio tem uma conversa intima comigo, motivo: laborar. Mais um dia, uma metade conversando com papel, outra sentado. Burocracia. Aqui não há ‘sprit de corps’, é apenas você e a rotina, um casal perfeito. Sinto, atento, o desenrolar do trigo junto a saliva na boca. Um café, dois cafés, três. Très bien. Olho as ruas em movimento pelo vidro, as pessoas passando rápidas, como passáros. O sol levemente reflete todo seu esplendor. Primeiro em chegar, e os corredores são pavorosos, sem pessoas, sem barulho, sem público. E o que fazer? Atualizar a massa cinzenta, que ultimamente está empoeirada: sem informações. “A potência Yaankee se pronuncia sobre o movimento de forças centrífugas no Médio Oriente.” “O Brasil escala posições nos índices sociais”. Notícias novas-velhas. Novas em outro contexto, porém velhas ao buscar paradigmas sociais correntes. Entre uma papelada, e uma olhada na rede: uma rotina. Para romper a monotonia, uma ligação, quem será? Não sei, e nem atendo. “O Itamaraty respeita o direito à autodeterminação dos povos...” Outra ligação rechaçada. O dia continua, andando, como ele é, lento e rápido, relativamente pela autoconsciência do ser, diria um físico indiano. Almuerzo. Umas mordidas ali, outra aqui, um sabor especial acolá. Outra ligação, mais uma cancelada. Me sinto um empresário importante, não é qualquer um que recebe diversas ligações.   Verifico, despretensiosamente, um quadro de avisos, quando...recebo o toque de alguma mão. Penso: quem ousa interromper meu direito à paz? Tu passastes! Hã? Como, onde, em quê? Tu passastes! Ei, Hey! O que estás falando? Passou, parabéns! Eu sempre soube! Que andas a falar? O Itamaraty.... Itamara- o quê? ...ty. Desperto suado, olho para os lados, não pode ser. Era um sonho, é um sonho inesperado. Por culpa, resolvo levantar e estudar, afinal nunca mais havia pegado o caderno. A campainha toca. Uma, duas, Calma, três, quatro vezes, Já vou, cinco. Passou! Hã? És o mais novo diplomata! Quê?! Tu passastes! Olho para ter certeza. Me belisco 50 vezes. Dou uma risada torta, e digo: um dia...um dia (in)esperado!

D e S.

3 comentários:

  1. Muito bom seu texto. O inesperado um dia acontece (hay que perseverar).

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caríssimo anônimo,

      Sim, sim. Eu agregaria que a resiliência é um bom instrumento para que surjam dias inesperados, ou esperados. Quem sabe não esteja mais próximo do que imaginemos.

      Um grande abraço

      P.S: Continue a visitar o blog!

      Excluir