"A diplomacia brasileira é recrutada à base do mérito, por um concurso que, ainda hoje, é o mais difícil, o mais exigente que se conhece. Nenhum outro concurso público tem exigências que rivalizem com aquelas do concurso para a carreira diplomática. A carreira sempre foi algo sedutor.
Eu costumava dizer, quando aconselhava alunos meus da Universidade de Brasília, ou em ambiente sociais, familiares e outros, quando aconselhava algum jovem desejoso por estar no curso de Direito de definir os seus rumos, seja pela carreira diplomática, seja por outras carreiras jurídicas, o seguinte: as carreiras jurídicas de Estado, a magistratura, o Ministério Público, são não apenas mais compensadoras do ponto de vista material do que a diplomacia, mas têm também uma consequência que, por um lado, assusta, mas, por outro lado, conquista: é o fato de que, já no dia da posse, no dia da investidura em um cargo na magistratura, no Ministério Público ou em outros assemelhados, você se sente uma autoridade, e sente o peso do seu poder. Você pode ter 25, 26 anos de idade, mas você sente o seu poder. Como eu disse, isso assusta um pouco. E aqueles a quem isso não assusta, podem, pela falta de freios, cometer certos abusos. Este é um risco que se corre.
Na diplomacia, não. Você se submete ao vestibular mais difícil que há no país e, no início da carreira, se não se sente absolutamente uma autoridade, você vai conviver com tarefas, às vezes, bem modestas, como organizar a mesa ou a rede social de uma recepção, ir ao aeroporto às 3h da manhã receber o ministro da agricultura do Quênia enfim...
É bem diferente o início de carreira de um juiz, de um promotor, de um procurador da República, do início de carreira de um diplomata. Mas, à medida que a carreira evolui, o sentido de responsabilidade e de representação do Brasil, de representação da comunidade nacional, é infinitamente compensador.
A representação do Brasil lá fora é sempre um privilégio para quem, dentro da carreira diplomática, conserva a motivação que o terá levado, no passado, a procurar esse caminho, a fazer esse vestibular.
O final de carreira é extremamente compensador em todos os sentidos, menos no financeiro. Nossos diplomatas não conseguem fazer patrimônio, sempre foi assim. Quando estão lá fora, até ganham um pouco mais, podem levar uma vida mais confortável em razão do auxílio residência e de outros fatores. Quando estão no Brasil, na secretaria de Estado, os salários são muito modestos, se você considera que esta é uma das melhores diplomacias do mundo, sobretudo quando se compara com determinados diplomatas de determinados outros países como a Itália, o país que, provavelmente, melhor remunera a função pública, e destacadamente a diplomacia. Apesar disso, o final da carreira já não impõe ao diplomata aquelas situações pouco condizentes com a grandeza do talento que ele tem que demonstrar no vestibular e que marcam muito o início da carreira. A compensação espiritual é muito grande. Eles têm orgulho de representar lá fora um país cuja diplomacia é historicamente respeitada, e um país que está vivendo, nas últimas décadas, o esplendor da sua democracia e que, pela sua fidelidade ao Direito Internacional e à ideia de justiça internacional, tem merecido a admiração de todos." (REZEK, Francisco. In: Revista Sapientia, Nº2, pp.17-18)
Só pude encontrar seu texto recentemente. Uma pena.
ResponderExcluirDiga-me, porque diz que não é compensador financeiramente?
O salário atual é quase R$ 17 mil reais.
Não sei os custos de viver em Brasilia, mas pelo que ganho hoje, ou sei quanto ganham os gerentes de algumas empresas, não tem como dizer que não é um bom salário.
Há, no entanto, um porém a ser considerado, que é o fato de não ser glamuroso, mas, de um olhar leigo, creio eu que é um bom patamar pra se estar, e se, somente se, o diplomata, for um bom investidor financeiro, poderá se aposentar com alguma dignidade. Estou errado em pensar assim?