quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Edital - Parte 1

A Primeira Fase

O edital do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é item obrigatório no estudo do candidato. Faz-se necessário conhecer os seus pormenores em busca de um estudo produtivo, qualificado e otimizado. Nesta perspectiva, o blog tentará auxiliar nesse campo, fazendo uma leitura própria das informações colocadas no edital, dividindo-se a análise em 3 partes: a primeira fase, a segunda fase e a terceira fase. Neste primeiro texto, será analisado a primeira parte.
A primeira fase é caracterizada por uma prova objetiva de 73 questões, no qual cada questão possui 4 itens que você deve julgar se é Certo ou Errado, totalizando 292 itens. Se acertar recebe 0,25  pontos; Se errar -,025 pontos; e se deixar em branco 0,0 pontos, a somatória dos itens chama-se nota final da prova objetiva (NFPO), num total de 73,0 pontos. Ao longo de dois dias, no primeiro com 2:30h e no segundo com 3:30h, o candidato deve analisar 9 disciplinas, tais como: Língua Portuguesa, História do Brasil, História Mundial, Política Internacional. Geografia, Língua Inglesa, Noções de Economia e Noções de Direito e Direito Internacional Público. 
No Gráfico abaixo, colocou-se as disciplinas que tem o maior número de questões e itens, sendo elas em ordem decrescente: Português, Inglês, Política Internacional e História Mundial.


Dessa forma, descobre-se que essas quatro disciplinas são equivalentes a 50 questões das 73 cobradas. Ao dissecarmos qualitativamente, descobre-se que 50 questões englobam  200 dos 292 itens possíveis, e o NFPO máximo seria de 50,0.
Ademais, pode-se frisar que esses valores são superiores a duas coisas: primeiro, a nota mínima exigida para não ser eliminado que é 29,25, ou em específico, 118 itens ao longo de 29 questões completas e mais um item qualquer; segundo, a nota do ponto de corte para passar à 2ª fase em 2014 que é 46,5, ou em específico, 186 itens ao longo de 46 questões completas e mais dois itens quaisquer. Logo, pode-se dizer que acertar o maior número de questões nessas 4 disciplinas possibilita ao candidato estar mais próximo da 2ª fase.   
Finalmente, as outras disciplinas não podem ser relegadas a um segundo plano, porque seria uma estratégia perigosa. No gráfico a seguir, verificamos a quantidade das questões e dos itens nas 5 últimas disciplinas, de forma decrescente: História do Brasil, Geografia, Noções de Economia, Noções de Direito e Direito Internacional.


Então você está me falando para estudar tudo? Não, não estou. Até porque a nota máxima em 2014 foi 52,50 NFPO ou 210 itens ao longo de 52 questões completamente certas e mais dois itens certos quaisquer, ficando distante dos 73,0 NFPO ou 292 itens no caso de acerto total das 73 questões. O que é importante ao candidato é ter uma espécie de seguro, ou colchão de pontos, nas últimas 5 disciplinas para compensar um rendimento menor nas outras 4. Uma hipótese é utilizar a formação de origem como mecanismo de vantagem comparativa no estudo, por exemplo, uma pessoa que é economista, poderá estudar essa disciplina em menos horas, e assim dará espaço durante a sua preparação para focar nas 4 disciplinas com o maior número de questões/itens/NPFO da 1ª fase. 

 * Esse texto está longe de ser um auxílio/guia na preparação do Cacdista, não sendo mais que impressões próprias e pessoais de como abordar a 1ª fase. 


Referências Bibliográficas:

Edital de 14 de Fevereiro de 2014 - Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata. Brasília: CESPE/UNB, 2014. Acesso em 25.05.2015: http://www.cespe.unb.br/concursos/IRBR_14_DIPLOMACIA/arquivos/ED__1_IRBR_DIPLOMATA_2014.PDF

terça-feira, 26 de maio de 2015

"O Historiador é o sabotador nato do sociólogo e economista"



No último dia 23 de março do corrente, o historiador Evaldo Cabral de Mello foi empossado na Academia Brasileira de Letras (ABL).  O pernambucano é conhecido pela escrita da história da invasão holandesa em Pernambuco, em especial nas negociações diplomáticas entre lusos e holandeses (1646-1669), e também mais recentemente, pela história do apoio dos funcionários públicos à Independência do Brasil. Seu cabedal de livros inclui :Olinda restaurada (1975), O norte agrário e o Império (1984), Rubro (1986), O nome e o sangue (1989), A fronda dos mazombos (1995), O negócio do Brasil (1998), A ferida de Narciso (2001), Nassau: governador do Brasil Holandês (2006) e Volume Essencial Joaquim Nabuco (organização).
O historiador nasceu no Recife em 1936 e atualmente mora no Rio de Janeiro. Estudou Filosofia da História em Madri e Londres. Em 1960, ingressou no Instituto Rio Branco e dois anos depois iniciou a carreira diplomática. Serviu nas embaixadas do Brasil em Washington, Madri, Paris, Lima e Barbados, e também nas missões do Brasil em Nova York e Genebra, e nos consulados gerais do Brasil em Lisboa e Marselha. Em seus momentos mais íntimos, revelam-se o parentesco com o poeta João Cabral de Melo Neto (ocupante da cadeira 37 da ABL entre 1969-1999) e o intelectual Gilberto Freyre.
Na cerimônia, ele foi recebido pelo acadêmico Eduardo Portela. Ele é o oitavo ocupante do assento 34, sucedendo João Ubaldo Ribeiro. Está cadeira está intimamente ligada ao trabalho de historiador, porque ao longo do tempo fora o lugar de ocupantes como: João Manuel Pereira da Silva que escreveu sobre a história do Império; Barão do Rio Branco que escreveu sobre a história político, militar e diplomática; Don Francisco de Aquino Corrêa que escreveu sobre a história do bispado e dos limites do Mato Grosso; Raimundo Magalhães Júnior que escreveu sobre a história biográfica; Carlos Castelo Branco que escreveu sobre a história do regime militar; e finalmente, João Ubaldo Ribeiro que escreveu prosa sobre o passado da Bahia ao longo de 300 anos. Também, o político Lauro Müller fez parte desse grupo.
Na presenças dos ilustres colegas, tais como Celso Lafer, José Sarney, Alberto da Costa e Silva, José Murilo de Carvalho, Eduardo Portela, dentre outros, o Historiador  discursou sobre o seu trabalho. Segundo ele, aquele que escreve história deve lidar com a verdade, em consonância com o uso da ficção. Nela, faz-se imprescindível que narratividade e diacronia sejam o núcleo da História. Porém, disse que os historiadores atuais perderam essa capacidade. Por fim, ao se referir a possibilidade da interdisciplinaridade, ressaltou que  Historiador é o sabotador nato do sociólogo e economista, em outras palavras, ele está na retaguarda das Ciências Humanas.

Confira a cerimônia de posse na íntegra:

                                       Reproduzido pela Academia Brasileira de Letras

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Qual o significado dos tiros de canhões em uma visita oficial?

No último dia 21 de maio, a presidente da República Federativa do Brasil, Dilma Roussef, recebeu a visita de Estado do presidente da República Oriental do Uruguai, Tabaré Vázquez. Ele foi recebido, como é tradição, pela salva de canhões. Qual o significado dos tiros de canhões em uma visita oficial?   
Desde o final da Idade Média, a salva de gala – composta por tiros de pólvora seca – é uma tradição que se repete. Naquela época, para se aproximar de fortificações estrangeiras, as tropas militares descarregavam seus canhões para assegurar que estavam em missão de paz. A quantidade de tiros é sempre ímpar para simbolizar o descarte total da munição. Chefes de Estado sempre são recebidos com 21 tiros, o que os diferencia de outras visitas, porque eles são a personificação de uma nação no exterior, e como tal merecem uma recepção à altura.
Em entrevista ao Palácio do Planalto, o Chefe do Cerimonial do Itamaraty, Ministro Fernando Igreja, responde a esse questionamento com mais clareza


                                    

terça-feira, 19 de maio de 2015

Pela 1ª vez na história, Senado rejeita indicação de Diplomata de Carreira para Embaixada

Senado Federal x Presidência: Crise?

Após a diversidade de opiniões sobre a Venezuela na semana passada, mais uma vez o Senado Federal se colocou em opinião diferente ao Itamaraty. Dessa vez, referente à indicação do Embaixador, Guilherme Patriota, para o cargo de Embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA). O posicionamento do Legislativo é histórico, porque segundo o Senador Lindberg Farias (RJ) pela 1ª vez um diplomata de carreira é rejeitado na plenária do Senado Federal para assunção de Embaixada.
Essa história começou no dia 14 de maio, em sabatina feita pelo Senado Federal ao Embaixador, Guilherme Patriota, na sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa (CRE). Em sua explanação, ele optou por abordar aspectos históricos e atuais da OEA,  assim como a atuação brasileira no organismo internacional. 



Em seguida, o Senado Ronaldo Caiado (GO) fez uma provocação ao Embaixador, Guilherme Patriota. Lembrou que o mesmo foi ex-assessor do professor Marco Aurélio Cunha, assessor internacional da presidência da República. E relembrou fatos publicados na Revista Veja, sobre negociações da Organização Pan-americana de Saúde, Brasil e Cuba


Finalmente, no dia 19 de maio, o Senado levou a plenária a indicação feita pela Presidência da República (Itamaraty) do Embaixador Guilherme Patriota para o cargo na OEA. Numa votação apertada em que 38 votos foram contra, 37 foram  a favor, o Legislativo apontou pela fatídica declinação do nome do Embaixador. 


A Presidência da República não ficando indiferente ao ato do Legislativo. Respondeu em nota oficial na noite do dia 19 de maio, em que disse:
A Secretaria de Comunicação Social informa que a Presidenta da República, Dilma Rousseff, reconhece no diplomata Guilherme de Aguiar Patriota as qualidades profissionais e o saúda pela extensa folha de serviços prestados ao país. Ela acredita que Patriota saberá superar o momento de adversidade. O embaixador continuará a prestar seus serviços com a competência e a lealdade que o Ministério das Relações Exteriores e a administração pública brasileira merecem.
Apresentado estes fatos, quais são os próximos passos do divórcio entre o Itamaraty (Executivo) e o Senado Federal? Haverá conciliação? Ou nunca houve crise, sendo apenas a premissa do ambiente democrático? Com a palavra, os próximos acontecimentos.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Venezuela: Senado Federal x Itamaraty

Reunião dos Chanceleres da Unasul, no último 15 de março, para tratar sobre a situação na Venezuela


A Venezuela passa momentos de instabilidade democrática desde 2014, quando se agravou a relação entre o governo e a oposição. O Brasil junto da Colômbia e Equador, são os interlocutores nesse caso, optando pela promoção do diálogo entre os diversos atores sociais.
Essa semana, o Senado Federal, recebeu na Comissão de Relações Exteriores e Defesa, as mulheres dos opositores presos recentemente. Além de ouvir uma parte dos atores sociais, o Legislativo mandou um requerimento com voto de censura e repúdio ao governo venezuelano por descumprimento da cláusula democrática contida no Protocolo de Ushuaia  sobre compromisso democrático no Mercosul ao realizar a prisão de opositores ao regime do Presidente Nicolás Maduro. 
Esses dois atos vão à revelia do que o Ministério das Relações Exteriores publicou, nessa semana, sobre o assunto. Em entrevista coletiva, o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reiterou o diálogo proposto pelo Brasil, e também, ressaltou o bom envolvimento do governo venezuelano em cumprir os prazos estabelecidos para realização de eleições.
Diante dessa diferença de opiniões entre o Ministério e o Legislativo, o primeiro agindo de forma mais agregadora e conciliadora, enquanto que o segundo, agindo de maneira mais enérgica e punitiva, você me pergunta, qual a visão deveria ser adotada na prova do CACD? Opte pela visão do Ministério, já que é o órgão interessado na organização do Concurso, ao menos na fase objetiva.  Por exemplo, em nota recente, ele disse que 
A UNASUL é hoje o único organismo internacional que conta com a aprovação tanto do governo como da oposição para levar adiante a promoção do diálogo entre os venezuelanos.
Essa afirmação é muito utilizada pela prova do Cespe. Inclusive, eles tem o histórico de colar assertivas diretamente do Site do Itamaraty.  Portanto, na visão do Cespe, o Brasil, através da Unasul opta pelo diálogo construtivo e conciliador. Essa postura é diferente do Senado que escolheu tomar uma medida mais incisiva no assunto. Muito cuidado, recomendo ler a alternativa com cautela, e apenas marcar a visão do Senado, caso seja feita referência ao próprio.



-> Leia o Requerimento proposto pelo Senado Federal aqui: Requerimento Nº 417 de 2015


-> Assista a sessão na Comissão de Relações Exteriores e Defesa com Mitzy de Ledezma e Lilian Tintori, esposas do Prefeito Metropolitano de Caracas, Senhor Antonio Ledezma, e do Senhor Leopoldo López, representantes da oposição ao Governo eleito da Venezuela:

  




-> Assista a coletiva do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Mauro Vieira, sobre a visita de Mitzy de Ledezma e Lilian Tintori, esposas do Prefeito Metropolitano de Caracas, Senhor Antonio Ledezma, e do Senhor Leopoldo López, representantes da oposição ao Governo eleito da Venezuela:

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Memórias e Histórias

13/05/2010


O dia vislumbrava poucas perspectivas, como acontecia com frequência naqueles tempos. A vida se resumia aos textos, artigos, ir e vir para Universidade. E também, havia um termino recente de relacionamento, o primeiro, que foi doloroso e intenso. Sua vida era pensar no porquê daquela epopeia haver dado errado, afinal tinham acertado buscar o eterno. Ele era imaturo. Sendo assim, não saberia conviver próximo do que considerava um fracasso pessoal. Estava querendo apagar lembranças, recordações e qualquer coisa que remetia aquela pessoa. Mal ele saberia que no futuro estariam mais próximos do que aquela promessa vaga: “Acabou. Não existe possibilidade de sermos amigos. Isso não existe para mim. ” Era duro e radical. Soava até a amargura. Entretanto, as coisas iriam mudar radicalmente.   Num simples encontro virtual, na busca incessante pelo novo, achou algo que lhe prendia na tela: a escrita perfeita! Ela falava que no meio do caminho... e a leitura ia hipnotizando. Aquilo fazia ele se identificar com o texto, pois falava de relações humanas. Dizia, por um lado algo sobre aquele impulso inicial, comum e apaixonado, e por outro lado algo sobre o fim, a fadiga, que chegava em muitos casais. Sentiu uma felicidade imensa ao terminar aquele texto. E decidiu fazer um comentário cortês, na verdade pensou: Ela tem um nome interessante, uma escrita igual, quem sabe?! E logo retirou aquela loucura da cabeça, fechou a página de internet abruptamente, como se estivesse cometendo um crime imoral. Mas foi traído pela contradição, sua consciência lhe dizia: faça! Ele simplesmente voltou aquele lugar. E pensou mais 3 vezes antes de escrever algo. Achou que aquela letra estava mal colocada, que aquela ortografia não estava afiada, que...que...que...por quê estou pensando tanto nisso, nem a conheço!  E sem perceber, havia mandado a mensagem. Se sentiu imensamente culpado, e ao mesmo tempo, se sentiu num filme de aventura: descobrindo o novo. Novidade. Ela não deixava margem para descobertas investigativas, mesmo que ele começasse a ler compulsivamente tudo que escrevia. Entre uma pesquisa e outra, lembrava que não deveria começar isso outra vez, porque ainda estava ligado de alguma forma aquela outra pessoa. O ressentimento acanhou o espírito. Decidiu esquecer aquilo, senão poderia começar a ficar bitolado. E o dia, de contornos rotineiros passou a indagações estimulantes: quem é você?

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Pensadores da Diplomacia Brasileira - Parte 4

 Francisco Clementino de San Tiago Dantas, o segundo Chanceler da Política Externa Independente

A Política exterior independente, que encontrei iniciada no Itamaraty e procurei desenvolver e sistematizar, não foi concebida como doutrina ou projetada como plano antes de vertida para a realidade. Os fatos precederam as ideias. As atividades, depois de assumidas em face das situações concretas que se depararam à Chancelaria, patentearam uma coerência interna, que permitiu a sua unificação em torno do pensamento central do governo.
Não quer dizer que a sua elaboração tenha sido empírica ou casual. Na origem de cada atitude, na fixação de cada linha de conduta, estava presente uma constante: a consideração exclusiva do interesse do Brasil, visto como um país que aspira (I) ao desenvolvimento e à emancipação econômica e (II) à conciliação histórica entre o regime democrático representativo e uma reforma social capaz de suprimir a opressão da classe trabalhadora pela classe proprietária. (DANTAS, San Tiago, 1962)


Bibliografia:
San Tiago Dantas. Política externa independente/ San Tiago Dantas.Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Dedicado aos meus leitores



Pessoal,

Peço aos senhores uma ajuda. A foto acima, capa deste blog, está concorrendo ao Concurso Cultural - VOcê e o Itamaraty, realizado pela Revista JUCA - Diplomacia e Humanidades. Os candidatos que tiverem o maior número de curtidas em suas respectivas fotos, levarão uma coleção de livros. E aí, você quer continuar ajudando o blog? Vote!

Link: Vote aqui.

Obrigado.

domingo, 3 de maio de 2015

Instituto Rio Branco: 70 anos em 7 momentos - Parte 3

Momento 3: A Política Externa Independente e o Instituto Rio Branco

A Política Externa Independente em ação: Jânio Quadros entrega o prêmio Grão-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul a Ernesto Guevara em 1961
 

A Política Externa Independente (PEI) anunciada em 1961 pelo presidente, Jânio Quadros, foi uma inovação conceitual nas estruturas permanentes da diplomacia brasileira. Esse movimento permitiu ao país dialogar com diversos parceiros sem precisar necessariamente fixar automatismos em sua atuação externa. Segundo o próprio Presidente, em mensagem enviada ao Congresso Nacional, na abertura da sessão legislativa anual de 1961:
Temos a convicção de que o estabelecimento de contactos proveitosos entre os países de ideologias divergentes é possível e se impõe ao Brasil (...)  Não existem, a nosso ver, quaisquer que sejam as expectativas subjetivas de cada facção, conflitos ou antagonismos de índole doutrinário, ou social, que sejam incompatíveis com a política de convivência sincera, de coexistência leal.
A busca de parcerias com múltiplos parceiros possibilitaria atingir o interesse nacional, em outras palavras, o desenvolvimento econômico.  Após anos de frustrações com a parceria alinhada aos EUA no pós-1945, onde o país não conseguiu subsídios fundamentais para desenvolver-se, a opção pela universalização é um movimento de reação aos problemas não solucionados pelos americanos. Sendo assim, pode-se firmar as bases da PEI nessas observações abaixo:

As proposições brasileiras de política externa para o ano de 1961

O Instituto Rio Branco (IRBr), como centro formador de diplomatas, não ficou indiferente as novas circunstâncias da década de 1960. Entre 1961 a 1965, pode-se verificar a entrada de candidatos que seriam influenciados pela Política Externa Independente, e no futuro exerceriam o alto comando da hierarquia diplomática a partir dos anos de 1990.


Ano
Nome
Prêmio
Cargo
1961-1963
Samuel Guimarães Pinheiro Neto
---------------------------
Secretário-Geral (2003-2010)
1962-1964
Luiz Felipe Palmeiro Lampreia
1º lugar no Concurso de Preparação à Carreira de Diplomata (C.P.C.D)
Secretário-Geral (1992)
Ministro das Relações Exteriores (1995-2001)

1963-1965
Celso Luiz Amorim
1º lugar no Concurso de Preparação à Carreira de Diplomata (C.P.C.D) e 1º lugar no Curso de Formação
Secretário-Geral (1993)

Ministro das Relações Exteriores (1993-1995) e (2003-2010)
1964-1966
*-----------------------
--------------------------
--------------------------
1965-1967
Luiz Felipe Seixas Côrrea
1º lugar no Concurso de Preparação à Carreira de Diplomata (C.P.C.D)
Secretário-Geral (1992-1993) e (1999-2001)

Ministro das Relações Exteriores (2001)


Observa-se que dois Chanceleres do regime democrático foram formados durante o período da Política Externa Independente: Luiz Felipe Palmeiro Lampreia, o chanceler da "autonomia pela integração", e Celso Amorim, o chanceler da "autonomia pela diversificação". Ambos, com destaque acadêmico, recebendo as premiações "Lafayette Carvalho e Silva", em referência a primeira colocação no C.P.C.D, e o último deles, recebendo ainda o prêmio "Rio-Branco",  em relação a primeira colocação no Curso de Formação. Ademais, formou-se Secretário-Gerais, casos de Samuel Pinheiro Guimarães e Luiz Felipe Seixas Côrrea, esse último também agraciado com o prêmio "Lafayette Carvalho e Silva". Talvez seja um mero acaso, como em outros momentos da história diplomática, mas é possível citar novos argumentos para fundamentar a hipótese da simbiose entre PEI e IRBr.
Nesse aspecto, durante o período de 1961-1965, existiu os famosos discursos presidenciais/chanceleres na formatura dos alunos do IRBr. Esse exercício formal, pode revelar uma maior proximidade entre os alunos e os pensadores de política externa daquele período. Exemplo disso, ocorreu em 10 de dezembro de 1963, na formatura dos alunos da turma de 1961-1963, quando o Ministro das Relações Exteriores, San Tiago Dantas, proferiu valioso discurso sobre a geração de diplomatas que estava por chegar, destacando a sua diferença em relação as gerações anteriores. Tais diferenças de atributos, segundo ele são:


San Tiago Dantas anuncia o restabelecimento das relações diplomáticas com a URSS em 1961
A característica dominante da primeira fase foi uma posição idealista de afirmação de conceitos sem ligação com a realidade. Essa atitude dominou a cultura, a política e outras formas de liderança social e, no terreno da política exterior, o que pôde produzir foi a valorização de certas ficções, sobretudo de natureza jurídica, nem sempre correspondentes aos interesses específicos do país.
a fase seguinte foi marcada pelo descrédito daquele idealismo, mas, ao perder-se a confiança nas ficções e nas formas, não se soube substituí-las por critérios racionais e conceitos válidos, derivados de uma apreensão objetiva da realidade. Passou a prevalecer um realismo rudimentar, uma
incapacidade persistente de racionalizar soluções, desfechando numa espécie de fatalismo, em que se torna passivo – e muitas vezes desorientador – o papel desempenhado pelo homem público. Na política externa, o resultado é a abdicação de responsabilidades e de iniciativas, enquanto a diplomacia se transforma numa atividade assessorial e informativa, e gradualmente se desengaja do seu objetivo primordial, que é introduzir, por meios políticos, decisões do interesse do país em áreas de deliberação não dependentes de sua soberania.
A fase seguinte, de que o inconformismo da nova geração é o sinal e prenúncio, mas que já se acha representada por elementos expressivos nos quadros dirigentes de hoje, será realista, no sentido de que as idéias são o reflexo objetivo da realidade na consciência, e será, ao mesmo tempo, racional, no sentido de que os meios de ação, os tipos de comportamento e as decisões estão comensurados aos fins por critérios ditados pela razão. Foi deste realismo que surgiu a política externa independente do país e é de acordo com ele que se podem renovar e reafirmar, daqui por diante, as suas características e objetivos [Grifo Meu]
Esse diálogo próximo entre os recém diplomatas e os Chanceleres, de alguma forma marcou a geração do IRBr da PEI. Fica perceptível que Santa Tiago Dantas procurou afirmar distinções entre as políticas externas anteriores e a independente para consubstanciar a última.
Além desses debates com o passado, pode-se fazer uma análise comparativa entre os discursos da política externa independente e a atual. O Chanceler Celso Amorim  no livro, Conversas com Jovens Diplomatas (2011), diz que discursou acerca do problema cubano no seio hemisférico da Organização dos Estados Americanos (OEA), através dos seus escritos de San Tiago Dantas em relação à questão da expulsão de Cuba da OEA em 1962. Segundo ele, a capilaridade jurídica e prática colocada pelo Chanceler de Jango foi tão vigorosa que serviu para resolver um assunto do presente.
Finalmente, nos discursos   de Jânio Quadros e de Celso Amorim encontramos semelhanças conceituais de política externa. Em 15 de março de 1961, diz o primeiro deles sobre o interesse nacional que:
(...) o Brasil deve ter política externa que, refletindo sua personalidade, suas condições e seus interêsses, seja a mais propícia às aspirações da humanidade, ao desenvolvimento econômico (...) O grande interêsse brasileiro nesta fase histórica é o de vencer a pobreza, o de realizar efetivamente o seu desenvolvimento. O desenvolvimento e a justiça social são da essência mesma dos ideais democráticos. [Grifo nosso.]


Celso Amorim, o herdeiro da PEI


 E no mesmo caminho, em 2 de janeiro de 2003, o segundo ressalta que:
(...) o Brasil terá uma política externa voltada para o desenvolvimento (...) Uma política externa que seja um elemento essencial do esforço de todos para melhorar as condições de vida do nosso povo, e que esteja embasada nos mesmos princípios éticos, humanistas e de justiça social que estarão presentes em todas as ações do Governo Lula. [Grifo Nosso]

Em determinado momento ambos ressaltam o interesse nacional pautado pela busca do desenvolvimento econômico. As semelhanças podem ser explicadas por dois motivos: tanto pela permanência longeva das diretrizes de política externa brasileira, como quanto pelo aprendizado da geração de 1961-65 sobre a PEI, seja pela admiração explícita no caso de Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães ou pela possibilidade de intercâmbio entre os formuladores dela, como San Tiago Dantas, João Goulart(fez-se presente na formatura de 1962) e os alunos.
Para finalizar,  a Política Externa Independente não passou incólume nos quadros escolares do IRBr. Mesmo que as possibilidades apontadas acima sejam um certo devaneio, ainda sim é nesse período que são formados diplomatas com uma extirpe brilhante, condutores da atuação externa brasileira desde pelo menos os anos de 1990. Palavras como universalização de parcerias, busca pelo desenvolvimento, não alinhamento serão heranças vivas do linguajar de PEI nos últimos 20 anos, especialmente a partir de 2003, com a Política Externa Ativa e Altiva, da dupla Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães.



* Na turma de 1964-1966 ingressou 25 candidatos. Porém não foram encontrados aqueles que preenchessem os requisitos  da pesquisa, como ser Secretário-Geral ou Ministro das Relações Exteriores após a formação. Ainda assim, nessa turma houve candidatos de altíssimo gabarito, tal como Clodoaldo Hugueney Filho.


Bibliografia:

A Política Exterior do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI).  Vol. 4. Rio de Janeiro: 1961, IBPI. pp. 125-134

Anuário do Instituto Rio-Branco 1961/1962/1963. Rio de Janeiro: 1963, IRBr.

Anuário do Instituo Rio-Branco 1964/1965. Rio de Janeiro: 1965, IRBr

Discursos de San Tiago Dantas, paraninfo da turma de diplomatas de 1963- Em 10 de dezembro de 1963. Documentos da Política Externa Independente Vol.I/ Alvaro da Costa Franco (org.) - Rio de Janeiro: Centro de Documentação e História Diplomática; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2007. pp.381-393

Celso Amorim. Discurso do Embaixador Celso Amorim por ocasião da Transmissão do Cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores, em Brasília. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1 de janeiro de 2003.